A União Europeia acolheu refugiados ucranianos, permitindo-lhes entrar nos seus 27 Estados-membros sem visto e viver e trabalhar cá por até três anos.
Os cidadãos europeus também abriram as suas portas – e bolsos – para hospedar ucranianos e ajudá-los a encontrar creches, por exemplo, e outros serviços.
Mas ainda há uma realidade desconfortável: os refugiados ucranianos também são peões políticos do Presidente russo, Vladimir Putin, destinados a destabilizar politicamente a União Europeia e a NATO.
Muitos polacos, por exemplo, inicialmente ofereceram-se para ajudar os ucranianos. Mas agora, mais de dois meses após o início da guerra, há sinais de que a compaixão está a desaparecer.
A população de Varsóvia aumentou 15% desde o início da guerra, levando o autarca da cidade, Rafal Trzaskowski, a propor uma estratégia para lidar com os custos crescentes.
Hospedar refugiados ucranianos pode custar aos países mais de 30 mil milhões de dólares apenas no primeiro ano, de acordo com análise do Center for Global Development. Isto pode representar novos desafios para a economia europeia, que já está sob stresse com a alta inflação.
Associação entre migração e segurança
Nos últimos anos, especialistas em segurança nacional têm considerado cada vez mais a migração humana como um fator-chave que pode influenciar a estabilidade política.
Isto acontece porque o número de pessoas forçadas a migrar principalmente pela violência ou pelas alterações climáticas quase duplicou de 2010 para 2020 – passando de 41 milhões para 78,5 milhões nesse período, de acordo com a ONU.
Em alguns casos, como durante a guerra civil de Ruanda na década de 1990, líderes políticos e militares forçaram ou encorajaram as pessoas a migrar para outros países.
Uma migração em massa pode funcionar como ferramenta política de duas maneiras. Em primeiro lugar, a chegada repentina de muitas pessoas pode sobrecarregar a habitação, os cuidados de saúde e outros recursos e testar a paciência das populações recetoras.
Não é a primeira vez
Esta não é a primeira tentativa de Putin de usar a migração em massa para promover as suas ambições políticas na Europa.
Este tipo de tática remonta a uma prática da era soviética de “engenharia étnica”, que significa tentar exacerbar as tensões políticas com base nas diferentes origens religiosas, étnicas ou linguísticas das pessoas.
De acordo com autoridades e especialistas ocidentais, Putin ajudou a criar a crise migratória europeia de 2015 e 2016 a partir do Médio Oriente. Estima-se que 1,3 milhões de pessoas em busca de asilo e outros migrantes chegaram à Europa nessa época.
A maioria dos migrantes era da Síria, como resultado da guerra civil. Putin e o presidente sírio Bashar Assad usaram bombas e outras armas para aterrorizar civis e forçá-los a deixar as suas casas para a Turquia e países da União Europeia.
Em 2016, o general da Força Aérea dos EUA Philip Breedlove, que serviu como comandante militar da NATO na altura, alertou que Putin e Assad estavam “deliberadamente a armar a migração numa tentativa de sobrecarregar as estruturas europeias e quebrar a determinação europeia”.
Em resposta à onda de recém-chegados, a União Europeia concordou em acolher refugiados sírios que estavam na Turquia. Mas Hungria, Polónia, Eslováquia e República Checa recusaram-se a aceitar os refugiados.
Isto resultou em tensão política entre os países da UE – e um aumento de partidos políticos anti-migrantes e nacionalistas em lugares como Itália e Alemanha, que aceitaram um grande número de sírios. A preocupação pública com a imigração também levou os cidadãos britânicos a votar em 2016 pela saída do Reino Unido da União Europeia.
Novas migrações forçadas
Lukashenko prometeu publicamente às pessoas do Iraque e de outros países que, se viessem para a Bielorrússia, ele ajudá-las-ia a entrar na União Europeia. Lukashenko forneceu aos migrantes transporte gratuito para a Bielorrússia e para a fronteira polaca.
Mas os guardas da fronteira polaca impediram violentamente que esses imigrantes entrassem no país.
Em dezembro de 2021, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chamou a tática de Lukashenko de “ataque híbrido”.
“Esta não é uma crise migratória”, disse von der Leyen. “Esta é uma tentativa de um regime autoritário de tentar destabilizar os seus vizinhos democráticos. Isso não vai dar certo”.
Polónia, Hungria e Eslováquia estão agora entre os países que recebem o maior número de refugiados ucranianos. Enquanto a Polónia recebeu 3,1 milhões de ucranianos, a Hungria recebeu 550.000 e a Eslováquia admitiu 391.000.
Mantendo-se em linha com as táticas anteriores da Rússia durante a guerra na Síria, os militares russos estão novamente a atacar civis na Ucrânia – levando milhões a fugir de casa e do país.
Hospitalidade a desgastar-se
Enquanto algumas comunidades europeias chamam os ucranianos de “convidados” e não de “refugiados”, outras comunidades locais estão sobrecarregadas.
“É como sentar numa bomba-relógio”, disse Agnieszka Kosowicz, presidente do Fórum de Migração Polaco. “Os polacos simplesmente não têm recursos para sustentar os seus níveis iniciais de generosidade”, explicou.
Até agora, os políticos europeus não chamaram à onda de refugiados ucranianos de crise. Alguns especialistas dizem que isso ocorre porque os ucranianos são predominantemente brancos e cristãos.
Outras situações de migração mostram que as semelhanças culturais e étnicas nem sempre evitam a instabilidade política.
Na Turquia, por exemplo, a maioria dos residentes turcos e refugiados sírios são predominantemente muçulmanos. Mas as sondagens públicas mostram um declínio constante na tolerância aos sírios nos últimos dez anos.
Putin sabe que as ansiedades económicas alimentam a retórica anti-migração na Hungria, França e outros países. Isto pode criar novas ameaças à solidariedade da UE e, por extensão, à segurança europeia.
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