A União Europeia quer que a AstraZeneca revele as doses que já produziu e a que países foram distribuídas. Além disso, quer que as farmacêuticas notifiquem as exportações de vacinas produzidas na Europa.
A AstraZeneca informou a União Europeia (UE) que reduziria em 60% as entregas da sua vacina devido a problemas de produção. Indignados, vários países manifestaram o seu descontentamento e Bruxelas foi pressionada a reagir.
“Reagimos com firmeza, batemos com os punhos na mesa e, finalmente, os atrasos anunciados de várias semanas foram reduzidos”, disse Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, no domingo.
“Temos um contrato, precisamos das vacinas agora”, disse, por sua vez, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
A Comissão Europeia que ter um maior controlo das doses de vacinas produzidas no continente europeu, uma vez que as farmacêuticas estão a desrespeitar os contratos e a falhar com as datas de entrega. Assim, a UE quer que as farmacêuticas passem a notificar as exportações de vacinas para outros países.
A Comissária da Saúde, Stella Kyriakides, fala num “mecanismo de transparência das exportações” que será proposto aos Estados-membros.
Segundo o Expresso, a União Europeia bateu o pé à AstraZeneca exigindo saber o que aconteceu às doses contratualizadas que a empresa diz não conseguir entregar em fevereiro e março. A UE pretende garantir que as doses pré-financiadas não estão a ser entregues a outros países.
Sem revelar um valor específico gasto com a AstraZeneca, Kyriakides fala de um valor global de 2,7 mil milhões de euros investidos em seis contratos de desenvolvimento e produção de vacinas. Além disso, há mais dois contratos prestes a serem assinados, que prometem assegurar mais de dois mil milhões de doses.
Para além da AstraZeneca, também a Pfizer avisou que haveria uma quebra nas entregas das vacinas contra a Covid-19 na Europa. O laboratório norte-americano justificou que o atraso se deve à intenção de melhorar a sua capacidade de produção.
Em Portugal tomou-se a decisão de apenas administrar metade das doses recebidas, de forma a constituir uma reserva para a segunda dose. O primeiro-ministro português, António Costa, recomendou que os restantes países fizessem o mesmo, “para não haver nenhum risco”.
Por sua vez, a Itália vai processar a Pfizer e a AstraZeneca devido aos atrasos na entrega das vacinas contra a covid-19.
“Estamos a ativar todos os canais para que a Comissão Europeia faça todos os possíveis para que esses senhores respeitem os contratos”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, no passado domingo.
Já a Polónia vai esperar pelo próximo mês para decidir se avança com o processo, escreve o jornal ECO.
“Neste momento, temos uma situação em que o fabricante declara que estas diferenças serão cobertas”, disse o porta-voz do governo polaco, Piotr Muller. “Mas se não for este o caso, é claro que terão de ser consideradas medidas legais”.
Perante o atraso na entrega das vacinas, França e Países Baixos recomendaram adiar a toma da segunda dose com um espaço de intervalo de seis semanas, em vez de três. O Reino Unido e a Croácia também já avisaram que o processo de vacinação irá abrandar.
Vacina Pfizer eficaz em Israel. Quase 30% da população vacinada
Dados preliminares de um estudo clínico em Israel apontam para um grau de eficácia da vacina Pfizer para o covid-19 superior ao previsto, numa altura em que o país se aproxima dos 30% de população vacinada.
Segundo a Maccabi Healthcare Services, organização independente de prestação de cuidados de saúde, apenas 0,015% das pessoas contraíram covid-19 na semana após receberem a segunda dose da vacina Pfizer.
Anat Ekka Zohar, responsável pelo estudo, afirmou ao Times of Israel que os resultados “são muito bons” e, se a tendência se mantiver, “pode ser que a vacina seja mais eficaz do que apurou a Pfizer durante os ensaios clínicos”.
Os dados preliminares do estudo israelita indicam que, de 128.600 pessoas vacinadas, apenas 20 contraíram o coronavírus.
Zohar sublinhou que a informação é “muito preliminar”, mas também importante “já que todo o mundo está a prestar atenção a Israel para receber informação sobre a eficácia da vacina”.
Segundo a base de dados estatística Our World in Data, Israel lidera de longe a vacinação a nível global, com um total de 3,83 milhões de doses administradas, à frente dos Emirados Árabes Unidos com 2,57 milhões de doses.
O Ministério da Saúde israelita anunciou na semana passada que cerca de 2,5 milhões de pessoas, quase um terço da população do país, são consideradas vacinadas. O país mantém-se em confinamento, o terceiro, que deverá durar até, pelo menos, 31 de janeiro.
Israel registou 600 mil casos desde o início da pandemia, dos quais 70 mil se mantêm ativos e 1.140 são considerados graves. As autoridades de saúde israelitas começaram a administrar vacinas a adolescentes no sábado, de acordo com a imprensa israelita.
Fosso entre países ricos e pobres preocupa OMS
O fosso entre países ricos e pobres na capacidade de vacinação contra a covid-19 está a aumentar e preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS), admitiu hoje o diretor-geral da agência da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A OMS continua a precisar de um investimento de 26 mil milhões no seu dispositivo para acelerar o acesso a ferramentas de combate à pandemia e, de acordo com um estudo da Câmara de Comércio Internacional, citado por Tedros, “o nacionalismo da vacinação pode custar à economia global até 9,2 biliões de dólares”.
“Quase metade desse montante, cerca de 4,5 biliões, serão perdidos pelas economias mais ricas”, acrescentou.
Na conferência de imprensa bissemanal da organização, o responsável máximo da OMS lembrou ainda que o programa para acelerar o acesso a ferramentas de combate à covid-19, denominado Acelerador ACT, ainda precisa de cerca de 26 mil milhões de dólares, ou seja, cerca de 21,4 mil milhões de euros.
Lançado no final de abril de 2020, o Acelerador ACT pretende acelerar o desenvolvimento e produção de produtos de diagnóstico, tratamentos e vacinas contra o novo coronavírus, além de garantir um acesso equitativo aos mesmos.
“O nacionalismo da vacinação pode servir objetivos políticos de curto prazo, mas é do interesse económico a médio e longo prazo que todas as nações apoiem a equidade da vacinação”, insistiu Tedros.
“Enquanto não metermos fim à pandemia em toda a parte”, advertiu o diretor-geral da OMS, “não vamos conseguir acabar com ela”.
“Os países ricos estão a lançar vacinas, enquanto os países menos desenvolvidos do mundo observam e esperam. A diferença ente os ricos e os pobres aumenta a cada dia que passa”, concluiu Tedros Adhanom Ghebreyesus.
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