Noor Mukadam foi alegadamente torturada e decapitada pelo filho de um magnata paquistanês. O país vê-se agora com uma “epidemia de terrorismo de género” em mãos.
Zahir Zakir Jaffer foi detido por suspeita do assassinato premeditado de Noor Mukadam, a filha mais nova de um antigo diplomata paquistanês, depois de, alegadamente, a ter mantido em cativeiro durante três dias no seu apartamento em Islamabad.
O caso, que envolveu duas das famílias mais ricas da capital paquistanesa, fez com que o país se confrontasse com o seu fraco historial de violência de género. “Não é só a nossa família que está de luto, mas todo o Paquistão. Eu perdi uma filha, mas agora estamos a lutar por todas as mulheres“, disse Shaukat Ali Mukadam, pai da jovem.
“Todas as pessoas estão a exigir pena de morte”, disse, citado pelo The Guardian, acrescentando que, “se pessoas assim continuarem na sociedade, estes assassinatos podem acontecer com qualquer pessoa.”
Depois de se ter mantido em silêncio e ter sido criticada por isso, a família Jaffer emitiu um comunicado a condenar o suspeito. “A família Jaffer estende as suas mais profundas condolências à família e aos entes queridos de Noor Mukadam. Oramos para que a sua alma descanse em paz eterna. Sabemos que nenhum tempo trará de volta a alegria que perderam, nem aliviará a dor”, lia-se.
“O nosso choque e tristeza por este ato horrível levou a um silêncio prolongado que lamentamos muito. No entanto, condenamos categoricamente esta atrocidade e denunciamos para sempre Zahir e as suas ações”, acrescentava a nota.
Durante o confinamento, provocado pela pandemia de covid-19, houve um aumento acentuado da violência doméstica, que muitos consideram ter sido impulsionada pelo crescimento do conservadorismo religioso e pelo fracasso do Governo em resolver este problema.
O próprio primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, foi condenado pelas suas declarações, depois de ter sugerido que a culpa do aumento da violência sexual é da forma como as mulheres se vestem. Mais tarde, disse que o seu comentário foi tirado do contexto.
Ao jornal britânico, Kanwal Ahmed, fundadora do Soul Sisters Pakistan, disse que “as mulheres não estão apenas com raiva”. “Estão aterrorizadas porque sabemos que muitos violadores e assassinos escapam impunes.”
“É preciso fazer mais para proteger as mulheres. Não há recursos, nem implementação de leis, nem mesmo declarações oportunas da liderança. Nem mesmo apoio a ferramentas tão básicas como o projeto de lei de violência doméstica. Não há inclinação por parte do Estado para permitir que as mulheres simplesmente existam sem o medo de serem violadas ou assassinadas”, denunciou.
A ativista Leena Ghani, uma das organizadoras de uma vigília por Noor, concorda. “Estamos todos cansados de enviar as nossas orações e pensamentos cada vez que um caso acontece. O caso de Noor não é um incidente isolado.”
“Estamos a enfrentar uma epidemia de terrorismo de género“, sublinhou.
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