Imagine um mundo em que as pessoas nunca adoecem, não têm defeitos genéticos nem doenças mentais. Elas são bem constituídas fisicamente e possuem capacidades intelectuais invulgares… Será uma utopia? Não, esse é o mundo que nos pode propor uma disciplina científica chamada eugenia.
Muitos irão abanar a cabeça em sinal de
desaprovação, pois se trata da ciência ou, mais propriamente, do estudo
sobre seleção e combate às mutações negativas do sistema genético
humano, prática que possuía uma reputação bastante negativa devido à sua
ativa utilização na Alemanha nazista. Por isso, durante a Segunda
Guerra Mundial, a eugenia foi incluída no mesmo rol de crimes nazistas
como a higiene racial e os experimentos dos nazistas em seres humanos.
Isso
aconteceu porque, apesar de a eugenia ser uma disciplina puramente
científica, os nazistas utilizaram-na como justificação da "perfeição e
superioridade" de uma raça sobre outra. Isso afastou muitos cientistas
das ideias eugénicas e atrasou o desenvolvimento da eugenia, tornando o
próprio termo não apenas impopular, mas provocando a negação e a repulsa
de muitos cientistas, já para não falar do cidadão comum.
Mas o tempo passa e tudo muda. Terá o nosso tempo necessidade dessa ciência? Será que a eugenia poderá renascer?
"É
próprio da natureza humana tentar atingir uma espécie de ideal",
reflete a psicóloga Irina Lukyanova na sua entrevista à Voz da Rússia.
"O que é a eugenia no seu significado mais profundo? É um desejo
subconsciente do homem de se tornar irrepreensível, perfeito…"
Ou
pelo menos saudável. Não é nenhum segredo que o último século ficou
marcado por uma verdadeira explosão na área da medicina. Se antes as
pessoas que sofriam de muitas anomalias genéticas, doenças graves ou com
baixa imunidade não sobreviviam até atingir a maturidade sexual, não
podendo assim transmitir os seus genes às futuras gerações, já com o
desenvolvimento da ciência farmacêutica o programa de seleção natural
começou a falhar.
Por um lado, essa é uma nova forma de a
espécie humana lutar pela sobrevivência. O desenvolvimento intelectual e
o salto científico que ocorreram no século vinte tornaram possível o
impossível. A esperança média de vida aumentou em praticamente 30-40
anos. Mas aumentou da mesma forma o chamado peso genético das doenças
congénitas.
No entanto, a eugenia é usada na medicina
moderna. Por exemplo, no acompanhamento de mulheres grávidas e na
realização de exames preventivos especiais para a despistagem de
mutações genéticas do feto no diagnóstico pré-natal. Também se está a
desenvolver de forma dinâmica a genoterapia, que é uma nova tendência na
medicina que pressupõe a pesquisa e tratamento de doenças hereditárias
no genoma do embrião.
Em muitos países, porém, está em
vigor a proibição de manipulação genética em células dos embriões. Se
essa proibição for levantada no futuro, será possível atingirmos aquilo
que se vê no filme Gattaca de Andrew Niccol. Irina Lukyanova comenta:
"É
importante compreendermos que o mundo é belo na sua diversidade. A
atual corrida pelos atributos exteriores de beleza e de perfeição física
não nos deixa parar e ver a verdadeira beleza da natureza e do homem.
Claro que as doenças nunca trouxeram a felicidade a ninguém, mas
significa isso que as pessoas com defeitos diversos e doenças genéticas
não merecem viver? Eles são todos os que fogem à norma. Mas quem é que
define a norma? Onde ficam as suas fronteiras? Uma pessoa invisual pode
ser um grande músico, uma pessoa que nasça sem pernas ou braços poderá
ser um cantor fenomenal, um mudo pode ser escritor e um surdo – físico
ou matemático… Quantas dessas pessoas, que não cabem nos padrões
geralmente aceites de norma e de saúde, nós podemos perder se começarmos
a purificar as nossas fileiras? Assim… Será que a eugenia tem futuro? Eu permito-me deixar essa questão em aberto…"
E que cada um procure a sua própria resposta.
Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2013_06_21/Eugenia-ser-heran-a-do-nazismo-ou-o-futuro-da-humanidade-4320/
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