Nessa nota, de um colaborador de Giuliani, advogado de Trump, pode ler-se: “Faça com que Zelenski [Presidente da Ucrânia] anuncie que o caso Biden será investigado.” Em julho, Trump pediu ao seu homólogo que investigasse o ex-vice-Presidente Joe Biden. A conversa esteve na base de uma denúncia que motivou a abertura do processo de destituição, que segue agora para o Senado
Os
democratas da Câmara dos Representantes dos EUA divulgaram uma série de
documentos de Lev Parnas, um colaborador próximo de Rudy Giuliani,
advogado pessoal do Presidente norte-americano, Donald Trump. Entre os
documentos encontra-se uma nota manuscrita para pedir ao Presidente da
Ucrânia que investigue “o caso Biden”, revela a Associated Press.
Os
documentos foram tornados públicos esta terça-feira, na véspera de os
democratas enviarem os dois artigos de ‘impeachment’ para o julgamento
de Trump no Senado. Através deles, percebe-se que Parnas, que atuava
como intermediário, estava em constante comunicação com Giuliani e em
contacto com autoridades ucranianas.
Entre
os documentos está uma captura de ecrã de uma carta, anteriormente não
divulgada, de Giuliani a Volodymyr Zelenski, datada de 10 de maio de
2019, quando este não tinha ainda tomado posse como Presidente da
Ucrânia. Na missiva, Giuliani solicita uma reunião com Zelenski na
qualidade de “conselheiro pessoal do Presidente Trump e com o seu
conhecimento e consentimento”.
Conspiração, declarações falsas e falsificação de registos
Na
tal nota manuscrita, retirada de um bloco do Hotel Ritz-Carlton, em
Viena, pode ler-se: “Faça com que Zelenski anuncie que o caso Biden será
investigado.” Durante um telefonema em julho do ano passado, Trump
pediu ao seu homólogo ucraniano que investigasse o ex-vice-Presidente
Joe Biden e o seu filho Hunter, que fez parte do conselho de
administração da empresa de gás ucraniana Burisma.
Joe
Biden é um dos democratas mais bem colocados para tentar travar a
reeleição de Trump, apoiado pelo Partido Republicano, nas eleições de 3
de novembro nos EUA.
No
ano passado, Parnas e o seu parceiro de negócios, Igor Fruman, ambos
cidadãos americanos que emigraram do antigo bloco soviético, foram
indiciados por acusações de conspiração, declarações falsas e
falsificação de registos. Os procuradores alegam que Parnas e Fruman
fizeram enormes doações a causas republicanas após terem recebido
milhões de dólares com origem na Rússia.
Os documentos agora revelados – registos telefónicos, mensagens escritas, pen drives,
etc. – foram enviados para a comissão de Justiça da Câmara dos
Representantes por três outras comissões “para serem incluídos como
parte do registo oficial que será transmitido ao Senado juntamente com
os artigos de ‘impeachment’”, revela um comunicado.
Julgamento deverá começar na terça-feira
A
presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi,
anunciou que aquele órgão irá votar esta quarta-feira o envio para o
Senado dos dois artigos para a destituição de Trump, elegendo os
promotores para o julgamento político do Presidente.
O julgamento será conduzido por John Roberts, mas serão os senadores a atuar como juízes perante advogados escolhidos por Trump.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, anunciou que o julgamento deverá começar na próxima terça-feira.
Abuso de poder e obstrução do Congresso
A
investigação do ‘impeachment’ centra-se nas alegações de que Trump
pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação aos Biden
em troca da prometida ajuda militar. Em causa estava o envio de 390
milhões de dólares (cerca de 350 milhões de euros) em ajuda militar a
Kiev. Esse montante foi libertado já depois de um anónimo ter denunciado
a chamada telefónica de julho entre Trump e Zelenski.
Em
dezembro, a Câmara dos Representantes aprovou duas acusações formais de
abuso de poder e obstrução do Congresso. Os democratas consideram que
Trump abusou do cargo que ocupa ao pedir a Kiev para investigar Biden. A
acusação de obstrução baseia-se em parte nas diretivas da Casa Branca
para que os seus funcionários não cooperassem com o inquérito à
destituição presidencial.
Trump nega ter cometido quaisquer irregularidades e classifica o processo de ‘impeachment’ como “uma farsa”.
Fonte: https://expresso.pt/internacional/2020-01-15-Impeachment.-Democratas-divulgam-documentos-ineditos-incluindo-nota-manuscrita-sobre-caso-Biden