Um estudo encomendado pela Arábia Saudita a geólogos chineses revela que o país tem capacidade suficiente de urânio para produzir energia – e para dar e vender – literalmente. Assim, o príncipe herdeiro prometeu que caso o Irão produza bombas nucleares, a Arábia Saudita também o fará.
Segundo o The Guardian, o estudo revela que é provável que a Arábia Saudita tenha reservas suficientes de urânio para produzir combustível nuclear. Esta informação levanta uma questão: estará Riade interessada num programa de armas nucleares, à semelhança do Irão, seu rival regional Irão? Parece que a resposta pode ser positiva, esta hipótese já está a gerar inquietação nos EUA e criar receios em Israel.
A equipa que elaborou o estudo foi encarregue de mapear as reservas de urânio sauditas. Estas reservas, resultantes de prospeção preliminar entre 2017 e 2019, que carece de confirmação posterior, estarão concentradas em três jazidas no centro e noroeste do país e atingirão cerca de 90 mil toneladas.
Riade assumiu há anos o desejo de minerar urânio para se tornar “autossuficiente” na produção de combustível nuclear, para reduzir a dependência do petróleo. Os valores apontados no relatório, do Instituto de Investigação Geológica de Urânio de Pequim e da Corporação Nacional Nuclear Chinesa, permitiriam não só cumprir essa ambição como exportar ter conhecimento da capacidade de exportação.
O assunto remete para declarações feitas pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que em 2018 assegurou que caso Teerão produzisse uma bomba nuclear, Riade faria o mesmo “o mais rapidamente possível”.
O cientista nuclear Mark Hibbs, do Instituto Carnegie pela Paz, afirma que “quando se pondera desenvolver armas nucleares, quanto mais nativo for o programa nuclear, melhor. Nalguns casos os fornecedores externos de urânio exigem compromissos de fins pacíficos ao utilizador final. Se o urânio for nativo, não tem de haver preocupação com essas restrições”.
Um acordo com a Agência Internacional da Energia Atómica, firmado há 15 anos, permite à Arábia Saudita escapar a inspeções desde que se comprometa a limitar as quantidades de minério processado e a dar-lhe utilização pacífica. A agência quer rever esse pacto, embora Riade garanta que os objetivos são “pacíficos, evidentemente”.
Embora não entre em território saudita, a Agência está em contacto com o Instituto de Investigação Geológica de Urânio de Pequim. O envolvimento chinês explica-se, segundo “The Guardian”, por motivos comerciais e diplomáticos. Por um lado consegue um novo fornecedor de minérios, e cria laços com uma potência do Médio Oriente aliada dos Estados Unidos.
A novidade está a inquietar Washington
Um grupo de senadores americanos reagiu à notícia alertando Donald Trump, numa carta, para o risco de a Arábia Saudita produzir armas nucleares.
Na mensagem dos senadores pode ler-se: “Escrevemos para exprimir preocupação pelas notícias recentes de que a Arábia Saudita está a construir instalações nucleares secretas e pelos indícios de que o seu programa nuclear está a avançar rapidamente sem salvaguardas internacionais fortes”.
Na perspetiva do grupo, esta autonomia da Arábia Saudita pode “ameaçar seriamente o regime internacional de não-proliferação e os objetivos dos Estados Unidos no Médio Oriente”. Os senadores avisam ainda que a resistência de Mohammed bin Salman às propostas da IAEA “põe em causa as intenções pacíficas do programa nuclear de Riade”.
Também Israel comunicou aos Estados Unidos os seus receios perante a cooperação sino-saudita neste campo. De acordo o jornal digital israelita Walla, os serviços de informações do Estado judaico comunicaram com os seus homólogos americanos sobre potenciais instalações nucleares sauditas e frisaram que o Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro do país, considera o assunto “muito sensível”.
Israel teme que a cooperação com a China se deva à não-exigência por Pequim de garantias de utilização pacífica.
https://zap.aeiou.pt/arabia-saudita-tera-uranio-suficiente-347254