As autoridades alemãs lembraram esta quarta-feira que o novo
coronavírus está disseminado em todas as camadas da população e
alertaram que a melhoria da situação epidemiológica devido à campanha de
vacinação iniciada recentemente demorará meses a surtir efeito.
“A propagação do vírus já atingiu todas as idades”,
disse o presidente do Instituto Robert Koch (RKI), Lothar Wieler, depois
da entidade, que é responsável pelo controlo e prevenção de doenças no
país, ter contabilizado 1129 vítimas mortais causadas por covid-19 nas últimas 24 horas, ultrapassando, pela primeira vez na Alemanha, a barreira de mil mortes num só dia.
A campanha de vacinação “é a maior da história da Alemanha”,
disse o ministro da Saúde, Jens Spahn, que descreveu o seu início como
um sucesso e lembrou que, nos três primeiros dias, foi injetada a
primeira dose da vacina em 60 mil pessoas.
O objetivo do Governo alemão é distribuir cerca de 1,3 milhões de doses
até ao final do ano e 14 milhões no primeiro trimestre de janeiro,
tendo como meta a disponibilização da vacina a todos os cidadãos que o
desejarem – “será gratuita e voluntária”, segundo sublinhou – a meio do
próximo ano.
No entanto, disse, a Alemanha “ainda está muito longe” de voltar “à normalidade” avisando que a situação atual não permite voltar “ao período anterior às restrições”.
O ministro expressou confiança de que a vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, aprovada hoje
pelas autoridades reguladoras do Reino Unido, deverá receber aprovação
para a Europa “em breve”.
Spahn defendeu que serão necessárias “muitas vacinas seguras”
e que o aumento da produção depende da sua diversificação. Até agora,
lembrou, a vacinação limita-se à vacina da alemã BioNTech e da sua
parceira norte-americana Pfizer, mas aguarda-se a aprovação da vacina da
Moderna na próxima semana.
Ainda assim, alertou Lothar Wieler, “os efeitos sobre a evolução epidemiológica da vacina vão demorar meses”.
O presidente do Instituto Paul-Ehlich, Klaus Cichulek,
também referência na Alemanha, acrescentou que, até a toma da segunda
dose – cerca de duas semanas após a primeira – a imunidade máxima não é
atingida.
Além de registar um número recorde de mortes diárias, o RKI também
contabilizou hoje um total de 24.740 novas infeções, abaixo do máximo de
33.777 pessoas infetadas num só dia registado no início de dezembro.
É preciso levar em conta, lembrou Wieler, que são feitos menos exames
na época de férias e que a atualização dos números de óbitos é mais
lenta. Segundo o responsável, é necessário olhar, não tanto para os
dados diários do número de mortos, mas sim para os acumulados ao longo
de sete dias, para poder avaliar a tendência com maior precisão.
A Alemanha registou 1.687.185 de casos de infeções desde o início da
pandemia no país (que tem 83 milhões de habitantes), dos quais 1.302.600
conseguiram recuperar. O número de mortos é de 32.107.
O próprio ministro da Saúde antecipou na terça-feira, na televisão pública ARD, a perspetiva de estender as restrições até depois do inicialmente previsto – 10 de janeiro -, embora sem especificar o nível das medidas a impor.
A chanceler, Angela Merkel, e os líderes regionais,
responsáveis pela implementação local das medidas, devem reunir-se no
dia 4 de janeiro para avaliar a situação.
As lojas não essenciais estão fechadas desde 16 de dezembro e os
estabelecimentos de animação noturna, cultural e gastronómica desde o
início de novembro.
Irlanda regressa ao confinamento total
A Irlanda, por sua vez, vai regressar ao confinamento total
às 00h00 de quinta-feira, e por um período de pelo menos um mês, devido
ao aumento exponencial de infeções por covid-19, anunciou o
primeiro-ministro, Micheál Martin.
A partir das 00h00 de quinta-feira, os irlandeses “devem ficar em casa”, só saindo para irem trabalhar, irem à escola ou por “outras razões essenciais”.
“Devemos regressar a um confinamento total, a grande escala, por um
período de pelo menos um mês”, disse o chefe do Governo irlandês, numa
declaração transmitida pela televisão.
Micheál Martin classificou a situação como “extremamente grave”.
A Irlanda estava em confinamento parcial desde a semana passada, com
cabeleireiros, restaurantes e bares encerrados. Mas, perante o aumento
de 61% dos contágios numa semana, o Governo irlandês decidiu encerrar, a
partir de quinta-feira, as lojas de comércio não essencial e os
pavilhões desportivos.
As escolas mantêm-se abertas, mas o novo trimestre escolar começará
em 11 de janeiro, três dias mais tarde do que a data prevista.
“Faremos o que for preciso para travar o vírus”,
afirmou o primeiro-ministro, assinalando o “crescimento exponencial” das
infeções por covid-19, causadas por um novo coronavírus, e “o aumento
acentuado do número de hospitalizações”.
A suspensão das ligações aéreas da Irlanda com o Reino Unido, onde foi detetada uma nova estirpe do coronavírus da covid-19, será prolongada até 6 de janeiro.
A Irlanda, que tem cerca de cinco milhões de habitantes, totaliza mais de 90 mil casos de infeção, dos quais 2.226 mortes.
https://zap.aeiou.pt/alemanha-vacinas-irlanda-confinamento-369614