A Agência Europeia do Medicamento (EMA, sigla em inglês) aprovou a vacina experimental contra a covid-19 produzida pela empresa de biotecnologia norte-americana Moderna para uso nos Estados-Membro da União Europeia (UE). Esta é a segunda vacina a ser aprovada pelo regulador.
De acordo com um comunicado publicado no seu site, a Agência Europeia do Medicamento aprovou a vacina experimental da Moderna, dando-lhe “uma autorização de venda condicional” para ser administrada em pessoas com 18 anos ou mais.
A decisão foi feita numa reunião com os especialistas da EMA sobre a vacina experimental contra a covid-19 produzida pela empresa de biotecnologia norte-americana Moderna.
Os peritos reuniram-se na segunda-feira, antecipando-se em dois dias à reunião que já estava marcada, mas decidiram prosseguir as discussões esta quarta-feira. Na terça-feira, o regulador europeu indicou que os especialistas estavam “a trabalhar arduamente para esclarecer questões pendentes com a empresa”.
Esta é a segunda vacina autorizada na União Europeia (UE), depois da do consórcio Pfizer-BioNTech, que começou a ser administrada a 27 de dezembro em Portugal e noutros países europeus.
Troca de acusações na UE
O processo de vacinação nos vários países da UE está a decorrer a um
ritmo mais lento e a várias velocidades, o que tem levado a algumas
trocas de acusações na Comissão Europeia.
De acordo com Markus Söder, líder da União Social Cristã da Alemanha, a Comissão Europeia atrapalhou o processo de obtenção de doses de vacina suficientes e de aprovação para uso em todo o bloco.
“Obviamente, o procedimento de compra europeu foi inadequado”, disse Söder, que lidera o estado da Baviera, em declarações ao Bild am Sonntag. “É difícil explicar que uma vacina muito boa é desenvolvida na Alemanha, mas é vacinada mais rapidamente noutros lugares”, acrescentou, referindo-se à vacina da Pfizer-BioNTech.
“A Comissão Europeia provavelmente planeou muito burocraticamente: poucos foram encomendados e os debates sobre preços prolongaram-se durante muito tempo”, disse Söder sobre os atrasos.
“O fator tempo é crucial”, disse Söder. “Se Israel, os EUA ou o Reino Unido estão muito à frente de nós em vacinação, também beneficiarão economicamente. A questão de como atravessamos o coronavírus economicamente está intimamente relacionada com a rapidez com que terminamos com a vacinação”.
A Comissão Europeia defendeu-se, apontando para a enorme demanda global por uma vacina. “O problema no momento não é o volume de pedidos, mas a escassez mundial de capacidade de produção”, disse a comissária de saúde Stella Kyriakides, em declarações à AFP.
Uğur Şahin, CEO da BioNTech, disse que a sua empresa está a trabalhar para aumentar a produção, mas que “não é tão rápido e simples” trabalhar na Europa como noutros lugares.
No domingo, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que esperava ter dezenas de milhões de vacinações realizadas nos primeiros meses do ano, enquanto as autoridades em Israel disseram que dois milhões de pessoas deveriam ser vacinadas até ao final de janeiro.
Países Baixos criticados por atraso na vacinação
De acordo com a Associated Press, o Governo dos Países Baixos foi fortemente criticado na terça-feira por causa do plano de vacinação covid-19 que tem as primeiras vacinas programadas para serem administradas esta quarta-feira, tornando-o no último país da UE a iniciar a vacinação.
O primeiro-ministro Mark Rutte admitiu que o Governo se concentrou nos preparativos da vacina da AstraZeneca, que ainda não foi aprovada para uso na UE – e não na vacina produzida pela Pfizer-BioNTech.
“Isto é ultrajante”, afirmou Geert Wilders, líder do maior partido da oposição holandesa. “Não é uma estratégia, mas o caos – o caos total – e os preparativos foram pobres e tardios”, acrescentou, dizendo que a Holanda é “a aldeia idiota da Europa”.
Rutte lamentou a falta de agilidade do Governo em adaptar os preparativos. “Estou muito desapontado por estarmos duas semanas atrasados”, disse.
As vacinações holandesas começaram esta quarta-feira, com funcionários em lares de idosos, pessoas com deficiência e profissionais de saúde da linha de frente. A enfermeira holandesa Sanna Elkadiri, de 39 anos, que trabalha numa residência onde cuida de pessoas com demência, foi a primeira pessoa a ser vacinada nos Países Baixos. “Este é o princípio do fim desta crise”, disse o ministro da Saúde.
Os Países Baixos entraram num confinamento severo em meados de dezembro, com restrições que fecharam todas as escolas, bares, restaurantes, teatros e outros locais públicos. As taxas de infeção diminuíram nos últimos dias, mas permanecem entre as mais altas da Europa.
França muda de estratégia
Tal como a maioria dos Estados-membros da UE, França começou a vacinar a sua população a 27 de dezembro. Porém, nos primeiros seis dias da campanha de vacinação, apenas foram inoculadas 516 pessoas.
Segundo a AP, a abordagem cautelosa de França parece ter saído pela culatra, reacendendo a raiva sobre a forma como o Governo está a lidar com a pandemia.
O ministro da saúde prometeu, na segunda-feira, aumentar o ritmo e fez um apelo público tardio em nome da vacina, dizendo que oferece uma “hipótese” a França e ao mundo para vencerem uma pandemia que já matou mais de 1,8 milhão pessoas.
A lenta implantação da vacina da Pfizer-BioNTech foi atribuída à má gestão, falta de pessoal durante as férias e uma complexa política de consentimento projetada para acomodar o ceticismo incomumente amplo sobre a vacina entre o público francês.
“É um escândalo estatal”, disse Jean Rottner, presidente da região Grand-Est, no leste de França, onde as infeções estão a aumentar e alguns hospitais estão lotados. “Ser vacinado está a tornar-se mais complicado do que comprar um carro”.
OMS recomenda que 2.ª dose seja “atrasada”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou esta terça-feira que a administração da segunda dose da vacina da Pfizer-BioNTech seja “atrasada algumas semanas” em situações excecionais, para permitir que mais pessoas possam ter acesso à primeira dose.
A recomendação resulta da reunião desta terça-feira do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização (SAGE), que reúne 26 especialistas de várias áreas e diversos países e que, nos últimos meses, tem analisado a informação sobre as vacinas contra a covid-19.
Em conferência de imprensa, o responsável do SAGE, o mexicano Alejandro Cravioto, adiantou que os especialistas recomendaram que, em circunstâncias excecionais de fornecimento, a vacina da Pfizer-BioNTech seja administrada “entre 21 e 28 dias”. A recomendação de atrasar a segunda dose “em algumas semanas” permitiria “maximizar o número de pessoas que podem beneficiar da primeira dose” desta vacina, referiu Cravioto.
Também esta terça-feira a Agência Europeia de Medicamentos desaconselhou adiar a segunda dose da vacina Pfizer-BioNTech além dos 42 dias, numa altura em que Alemanha e Bélgica admitem administrar a primeira dose a mais pessoas e adiar a segunda além dos 21 dias prescritos.
O organismo, que trata da avaliação técnica das vacinas na UE, destaca que “os vacinados podem não estar totalmente protegidos até sete dias após a segunda dose“, como indicou a Pfizer após os ensaios clínicos, disse à agência espanhola EFE a porta-voz da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), Sophie Labbe.
No entanto, a EMA não proíbe estender a administração da segunda dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 até aos 42 dias.
https://zap.aeiou.pt/vacinacao-varias-velocidades-370628