Uma equipa internacional de cientistas encarregada de rastrear a origem da covid-19 deve chegar esta semana à China, um ano após a doença ter sido detetada, pela primeira vez, em Wuhan, no centro do país.
A imprensa estatal e as autoridades têm difundido informações que apontam que o vírus teve origem no exterior, possivelmente via importação de alimentos congelados, o que é rejeitado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Por vezes apontam para a Itália, outras vezes para Estados Unidos (EUA) ou até Índia, como locais de origem da doença.
“Cada vez mais pesquisas sugerem que a epidemia pode ter aparecido em muitos lugares do mundo”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, no fim de semana, citado esta terça-feira pela agência Lusa.
A visita assemelha-se a uma missão secreta. As datas nem sequer foram especificadas e a OMS referiu apenas que estava marcada para a “primeira semana de janeiro”.
Embora tenha conseguido controlar a doença no seu território, Pequim não conseguiu evitar que o Presidente dos EUA, Donald Trump, acuse regularmente o país de ter espalhado o “vírus chinês” pelo mundo.
As autoridades comunistas condenaram, na semana passada, a quatro anos de prisão a jornalista independente Zhang Zhan, que fez cobertura do surto em Wuhan. “Qualquer informação sobre o vírus é altamente sensível e sujeita a avaliação antes de ser publicada”, contou à Lusa a jornalista de um órgão estatal chinês.
A epidemia exige que os especialistas passem por uma quarentena de duas semanas após chegarem a Pequim e terão depois entre três e quatro semanas para realizarem trabalhos de investigação. Estes devem chegar a Wuhan por volta de 20 de janeiro, um ano após a cidade com 11 milhões de habitantes ter sido colocada sob quarentena.
A data coincide também com a saída de Trump da Casa Branca e alguns observadores presumem que Pequim pode ter esperado pela sua saída antes de autorizar a investigação, para não dar a impressão de estar a ceder às exigências do líder norte-americano.
Este último pediu repetidamente uma investigação internacional sobre a origem do vírus, um pedido feito também pela Austrália, que foi sujeita nos últimos meses a sanções comerciais chinesas.
Mas a demora para o início da investigação significa que os primeiros traços da infeção dificilmente serão encontrados pelos pesquisadores. “Não estou otimista. Eles chegam depois da batalha”, avisou o especialista em doenças infecciosas Gregory Gray, da Universidade de Duke, nos EUA.
“Será extremamente difícil encontrar a origem do vírus”, admitiu Ilona Kickbusch, do Instituto de Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra.
Os cientistas geralmente apontam que o hospedeiro original do vírus é um morcego, mas o animal intermediário que permitiu a contaminação humana é desconhecido.
A OMS, que Trump acusou de estar ao serviço da China, acredita que os seus especialistas poderão investigar livremente, mesmo que Pequim ainda não tenha confirmado que Wuhan está no programa da visita.
“A equipa irá para Wuhan, esse é o objetivo da missão”, disse o chefe de emergências de saúde da instituição de Genebra, Michael Ryan, em meados de dezembro. “Vamos trabalhar com os nossos colegas chineses, eles não (…) serão supervisionados por funcionários chineses”, garantiu.
A missão é formada por 10 cientistas (Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Austrália, Rússia, Vietname, Alemanha, Estados Unidos, Catar e Japão) reconhecidos em suas diversas áreas de atuação.
“Não é uma questão de encontrar um país ou autoridades responsáveis. É uma questão de entender o que aconteceu para reduzir os riscos no futuro”, apontou Fabian Leendertz, do Instituto Robert Koch, na Alemanha. “É preciso entender o que aconteceu para evitar que volte a acontecer”, acrescentou.
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