Esta semana, nenhum profissional de saúde foi vacinado nas Filipinas. O medo e a ansiedade são crescentes e levam muitos destes profissionais a tirar férias ou a pedir a demissão.
Profissionais de saúde filipinos revelaram ao NPR que muitos colegas estão a tirar férias ou, até, a pedir a demissão por não terem sido vacinados contra a covid-19, numa altura em que o país enfrenta uma grave crise de saúde pública, na sequência da pandemia.
O Presidente do país, Rodrigo Duterte, admite que há atualmente “uma disputa” pelas vacinas contra o SARS-Cov-2 e que, apesar de o futuro parecer um pouco mais promissor, existem alguns senãos.
As Filipinas preparam-se para a chegada das suas primeiras vacinas contra a covid-19 e Duterte já confirmou a capacidade de armazenamento ultracongelado, indicando que a entrega acontece até ao final do mês.
O país vai receber as primeiras doses da vacina Pfizer a um preço reduzido, graças à COVAX, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde, criada para garantir que a disputa pelas vacinas entre os países ricos não prejudica os países mais pobres e que vai ajudar 92 países.
Um porta-voz da task force para a covid-19 das Filipinas disse ao NPR que as 117 mil doses da vacina (de duas tomas) que o COVAX providenciou chegam apenas para vacinar 56 mil dos cerca de 1,7 milhões de profissionais de saúde que lideram a lista de prioritários.
Charles Marquez, médico comunitário na ilha de Mindanao, revelou ao portal que muitos trabalhadores da linha da frente estão com muito receio. Há médicos e enfermeiras a colocar as suas vidas em risco diariamente para salvar pacientes com covid-19 e, em simultâneo, lutam contra a “fadiga, depressão e stress“.
Marquez revelou ainda que o stress de trabalhar num “ambiente tão perigoso” tem prejudicado a saúde de muitos dos seus colegas. Há profissionais de saúde que ligam só para avisar que estão doentes – não por estarem infetados com o vírus, mas por causa do “stress e ansiedade”.
Além disso, “os profissionais de saúde perderam a confiança no Governo“. As declarações são de Willy Pulia, presidente da Alliance of Philippine Workers, que acrescentou que as pessoas que elaboram a política de vacinas “não são as pessoas adequadas para lidar com esta pandemia.”
Os profissionais de saúde também demonstram preocupações em relação à vacina chinesa Sinovac. Atualmente, só a Pfizer recebeu autorização de uso de emergência nas Filipinas.
O país garantiu 25 milhões de doses do fabricante chinês, e uma pequena remessa deve chegar já este mês. No entanto, a empresa não divulgou dados detalhados de eficácia nem partilhou descobertas através de uma revisão internacional por pares. A falta de transparência deixou os profissionais de saúde filipinos apreensivos.
Certo é que a pandemia expôs anos de subinvestimento em saúde pública nas Filipinas, o que encorajou os profissionais médicos do país a procurarem no estrangeiro empregos com melhor remuneração. O resultado tem sido uma escassez aguda de profissionais de saúde no país.
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