A escalada de violência entre Israel e o Hamas já causou a
morte de 217 palestinianos e 12 israelitas, dez dias depois do início
das ofensivas.
Apesar dos pedidos da comunidade internacional para um cessar-fogo imediato, os ataques na faixa de Gaza continuam. Na madrugada desta quarta-feira, conta a agência Reuters, os bombardeamentos de Israel prosseguiram, assim como os rockets lançados pelos Hamas.
Quase 450 edifícios na Faixa de Gaza já foram
destruídos ou ficaram gravemente danificados, incluindo seis hospitais e
o único laboratório que fazia testes de covid-19 no enclave
palestiniano. Cerca de 48 mil dos 52 mil deslocados palestinianos
fugiram para 58 escolas administradas pelas Nações Unidas.
O Exército israelita afirmou que atingiu alvos dos militantes
palestinianos nas cidades de Khan Younis e Rafah, com 52 aviões a
atingir 40 alvos subterrâneos num período de 25 minutos.
A rádio Al-Aqsa, administrada pelo Hamas, contou que um de seus jornalistas foi morto
num ataque aéreo em Gaza. Os médicos do hospital Shifa adiantaram que o
repórter estava entre os cinco corpos levados esta manhã ao centro
hospitalar.
O Hamas e a Jihad Islâmica afirmam ainda que pelo menos 20 dos seus
combatentes foram mortos, enquanto Israel afirma que o número é de pelo
menos 130.
Os militares israelitas disseram que também foram disparados foguetes
contra a passagem de peões em Erez e na passagem de Kerem Shalom, onde
ajuda humanitária estava a ser levada para Gaza, forçando o encerramento das duas.
Militantes palestinianos já dispararam mais de 3700 rockets contra
Israel, mas o país diz que as suas defesas aéreas têm uma taxa de
intercetação de 90% destes.
“Precisamos de um novo dicionário para descrever o que sentimos e o
impacto psicológico. (…) Se uma pessoa não é morta, é ferida. Se não é
ferida, perdeu a casa ou outra coisa. Se não perdeu propriedade, talvez
tenha perdido alguém querido. Uma pessoa sente-se ferida emocionalmente,
não se sabe lidar com esta devastação toda, esta
destruição à nossa volta”, afirmou Abier Almasri, que trabalha com a ONG
Human Rights Watch em Gaza, num vídeo publicado no Instagram.
Esta terça-feira, numa nova reunião do Conselho de Segurança da ONU, França propôs a adoção de uma resolução
sobre o que chamam conflito israelo-palestiniano, depois de uma reunião
entre o Presidente francês, Emmanuel Macron, o Presidente egípcio,
Abdel Fattah Al-Sissi, e o Rei Abdullah II da Jordânia.
“Os três países concordaram em três elementos simples: os disparos devem cessar, chegou o momento de um cessar-fogo e o Conselho de Segurança da ONU deve ocupar-se do assunto”, referiu o Eliseu.
“Ouvimos a proposta feita pelo nosso colega francês no Conselho e,
para a China, certamente, apoiamos todos os esforços para facilitar o
fim da crise e o regresso à paz no Médio Oriente”, disse aos jornalistas
Zhang Jun, embaixador da China na ONU e presidente em exercício do
Conselho durante este mês de maio.
O embaixador chinês na ONU disse que o texto de uma declaração proposta pelo seu país, Noruega e Tunísia, que tem sido rejeitada pelos Estados Unidos durante mais de uma semana, permaneceu em cima da mesa.
Esta terça-feira, também o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um novo apelo no Twitter,
lembrando que estamos a assistir a um “enorme sofrimento humano” e a
“danos significativos em casas e infraestruturas vitais” em Gaza.
“Peço à comunidade internacional para que assegure fundos adequados para as operações humanitárias em Gaza”, apelou o português.
UE exige cessar-fogo imediato, Hungria abstém-se
Na reunião de emergência desta terça-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) exigiram um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, com a Hungria a abster-se desta tomada de posição europeia.
“Tenho o prazer de anunciar que 26 dos 27 membros apoiaram este
sentido geral da discussão […] e estou bastante satisfeito porque houve
um apoio importante a um texto que reconhece como prioridade a cessação
imediata de toda a violência e a implementação de um cessar-fogo, não só
de o acordar, mas de o concretizar”, declarou o chefe da diplomacia da
UE, Josep Borrell.
Falando em conferência de imprensa em Bruxelas, no final da
videoconferência, Borrell apontou que o único país a abster-se de firmar
esta tomada de posição foi a Hungria”, sendo que “não é uma novidade” que o tenha feito.
Explicando que convocou esta reunião “porque a situação é realmente
má e os Estados-membros estavam a tomar posições”, sendo “necessário
coordenar uma resposta da UE”, o responsável explicou que foi adotado
pelos 26 “um texto que reflete o sentido geral da discussão”.
Assim, a tomada de posição tem como primeiro objetivo “proteger os civis
e garantir pleno acesso humanitário a Gaza”, nomeadamente depois de a
“escalada de violência nos últimos dias ter levado a um elevado número
de baixas civis, mortes e feridos, entre os quais um elevado número de
crianças e de mulheres, o que é inaceitável”, acrescentou o Alto
Representante da UE para a Política Externa.
“Mais uma vez, condenamos os ataques do Hamas, um grupo terrorista,
no território de Israel e apoiamos plenamente o direito de Israel à sua
defesa, mas também o consideramos que isto tem de ser feito de forma proporcional e respeitando o direito humanitário internacional”, vincou.
O chefe da diplomacia europeia salientou que “isso também se aplica
aos palestinianos”, que “têm direito a defender-se”, vincando que, nesta
posição comum, houve ainda “um forte apoio sobre a importância de não proceder a despejos“.
“Consideramos que a segurança para Israel e a Palestina requer uma
verdadeira solução política porque só uma verdadeira solução política
sólida poderia trazer a paz”, adiantou.
O chefe da diplomacia europeia disse ainda ser crucial, “no dia
depois de amanhã, quando a violência acabar”, haja esforços de ambas as
partes para “explorar um novo compromisso […] abrindo o caminho para o
potencial lançamento do processo de paz, que se encontra num impasse há demasiado tempo”.
Josep Borrell concluiu dizendo que “a realização de eleições
palestinianas deve ser considerada uma prioridade”, pedindo “a todos que
não obstruam e facilitem este processo eleitoral”.
EUA criticam comentários “antissemitas” de Erdogan
“A linguagem antissemita não tem lugar em lado
nenhum”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em
comunicado, no qual também qualificou as observações de Recep Tayyip
Erdogan de “repreensíveis”.
Esta segunda-feira, o Presidente turco acusou o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, de “escrever história com sangue nas mãos” por apoiar Israel.
Os Estados Unidos instaram Erdogan e outros líderes turcos “a
absterem-se de comentários inflamatórios, que poderiam incitar a mais
violência”, sublinhando que leva “a sério a violência que frequentemente
acompanha o antissemitismo e as mentiras perigosas que o sustentam”.
Horas antes, a Casa Branca tinha insistido na necessidade de deixar a diplomacia trabalhar de forma “silenciosa” para se alcançar o “fim da violência” em Gaza.
Na segunda-feira, Biden tomou pela primeira vez uma posição pública a
favor de um cessar-fogo, após ter recebido pressões de membros do
Partido Democrata e de outros países para desempenhar um papel mais
ativo na crise no Médio Oriente.
Controlada pelo movimento radical islâmico Hamas desde 2007, a Faixa de Gaza é um enclave palestiniano sob bloqueio israelita há mais de uma década e onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.
Os atuais combates, considerados os mais graves desde 2014, começaram
a 10 de maio após semanas de tensões entre israelitas e palestinianos
em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das
Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do Islão junto ao local mais sagrado
do judaísmo.
Palestinianos entraram em confrontos com a polícia em resposta às operações policiais israelitas durante o Ramadão e à ameaça de despejo de dezenas de famílias palestinianas por colonos judeus.
O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.
https://zap.aeiou.pt/nao-ha-cessar-fogo-a-vista-em-gaza-403557