Nos últimos 30 anos a esperança média de vida nos Estados Unidos da América não acompanhou as melhorias verificadas na Europa.
“A América tem um problema relacionado com a morte“. Assim começa uma análise, em espécie de alerta, de Derek Thompson, na revista The Atlantic.
O artigo centra-se nos números dos últimos 30 anos nos Estados Unidos da América – e não nos novos registos que o coronavírus trouxe.
A esperança média de vida nos EUA, que até 1990 era muito semelhante a outros países mais desenvolvidos como Alemanha, Reino Unido e França, desceu muito nas últimas três décadas.
Um estudo publicado já em setembro, do National Bureau of Economic Research que contou com colaboração de duas investigadoras da Universidade de Coimbra, centrou-se na desigualdade entre brancos e negros, na mortalidade de cidadãos que habitam nos Estados Unidos da América; mas mostra também que, no geral, estão a morrer mais americanos do que europeus (dos países desenvolvidos).
Bebés, adolescentes, adultos… Em qualquer idade, a percentagem de óbitos é maior nos EUA. E assim a esperança média de vida foi descendo.
Nesta comparação com a Europa Ocidental surge Portugal, ao lado de Espanha, França, Itália, Alemanha, Reino Unido e Dinamarca e Suíça: em todos estes países a esperança média de vida ultrapassa os 80 anos. Nos EUA nunca passou dos 79 anos e agora desceu para aproximadamente 77 anos, não tendo acompanhado a subida da média dos países europeus.
Hannes Schwandt, professor da Northwestern University, sublinha que estes números podem fazer que as pessoas façam as perguntas certas mas não apontam a causa para esta diferença entre americanos e europeus.
O autor do artigo deixa hipóteses: nos EUA há mais homicídios causados por armas de fogo (porque os americanos têm mais armas do que os cidadãos de outros países), porque há mais acidentes de viação, mais falecimentos relacionados com doenças infecciosas e há mais complicações em mulheres grávidas.
Mas, como já foi mencionado, o estudo centra-se nas desigualdades. E aí há três aspectos evidentes.
Nos EUA quem vive num local pobre “arrisca-se” a morrer mais cedo, ao contrário do que acontece na Europa, onde há uma grande equidade entre as zonas mais ricas e mais pobres, no que diz respeito à mortalidade. Nos EUA a pobreza é maior e as consequências provenientes da pobreza também.
No outro extremo, entre as pessoas mais ricas, também morrem mais norte-americanos. “Mostra que algo está mal no sistema de saúde dos Estados Unidos”, avisa Hannes Schwandt.
A terceira conclusão: ainda há muito para aprender, entre os próprios norte-americanos. E também ainda há muito para compreender, na totalidade, a origem desta descida.
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