Nova tecnologia permite aos cineastas criar versões em língua estrangeira dos seus filmes utilizando amostras das vozes dos atores originais.
A produção de vozes digitais altamente sofisticadas está a chegar e pode trazer uma revolução à indústria cinematográfica, no que diz respeito ao som, escreve o Wall Street Journal.
No futuro, as vozes que ouvimos nos filmes ou programas de televisão dobrados podem não pertencer a atores que regravaram o diálogo noutra língua, mas sim à inteligência artificial.
Empresas por todo o mundo estão a usar inteligência artificial para criar vozes semelhantes às humanas, com base em modelos de voz de atores. Além de as vozes robóticas soarem como intérpretes específicos, a nova tecnologia faz com que possam falar qualquer língua, chorar, gritar, rir, ou mesmo falar com a boca cheia.
As empresas estão também a aperfeiçoar a tecnologia visual para que pareça realmente que os atores estão a falar numa determinada língua.
Segundo o jornal norte-americano, a dobragem de filmes é um negócio que está em crescimento, até porque os serviços de streaming distribuem êxitos de diferentes línguas para todo o mundo.
Mas o uso das vozes robóticas vai muito além da dobragem de filmes estrangeiros: os modelos de inteligência artificial podem criar vozes jovens para atores envelhecidos, ressuscitar a voz de celebridades que tenham morrido ou perdido a capacidade de falar, ou até aperfeiçoar o diálogo na pós-produção.
No entanto, a nova tecnologia levanta questões éticas relativamente ao facto de o público se sentir enganado por uma experiência que foi fabricada.
“Quando estou sentado no teatro, a comer pipocas, não penso: ‘Espera, isto é inteligência artificial? Não me disseram, eu devia ter sabido”, disse Oz Krakowski, diretor executivo da Deepdub, uma empresa de vozes criadas por IA, com sede em Tel Aviv, na Turquia.
Para Krakowsi, os cineastas não precisam de informar o público quando usam vozes falsas. As pessoas vão ao cinema para se divertirem e o que a nova tecnologia oferece é, exatamente, uma “experiência envolvente”.
Nos próximos meses, serão lançadas versões do filme de terror “Every Time I Die” na América do Sul, dobradas com vozes robóticas – será uma das primeiras vezes que serão usadas vozes computorizadas baseadas nas vozes do elenco original.
Isto significa que quando o filme for lançado, o público ouvirá a voz dos atores originais a “falar” espanhol ou português. A Deepdub criou as réplicas com base em gravações de cinco minutos de cada ator que participa no filme original.
“Fazer algo soar bem não é semelhante a fazer algo parecer bem”, disse Alex Serdiuk, cofundador e chefe executivo da Respeecher.
“Quando olhamos para imagens que são geradas [por computador], a nossa imaginação pode acrescentar-lhes algumas cores, mas normalmente damos conta de todos os pequenos sons robóticos e metálicos numa voz gerada por computador”, continuou.
A empresa londrina Sonantic trabalhou recentemente com o ator Val Kilmer – que perdeu a voz devido a um cancro da garganta – para recriar quase dois minutos da sua voz numa demonstração online da tecnologia.
A voz robótica ficou tão real que levou o filho de Kilmer às lágrimas, contou Zeena Qureshi, CEO da Sonantic.
“Essa ideia de ser capaz de personalizar o conteúdo da voz, de mudar as emoções, o tom, a direção, a entrega, o estilo, os sotaques – agora é possível”, disse.
Zohaib Ahmed, fundador da empresa de clonagem de voz Resemblem AI, diz que esta tecnologia permitirá a produção de imensos filmes “escolha a sua própria aventura” – em que o público escolhe que caminho segue o filme -, onde os modelos de inteligência artificial facilitariam o processo e diminuiriam os custos.
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