Presidente do Brasil é já reincidente na divulgação de
notícias falsas sobre a pandemia (tendo já sido alertado antes), pelo
que a plataforma avançou de imediato para a suspensão dos seus canais
oficiais.
O Youtube suspendeu na segunda-feira o canal do Presidente brasileiro por pelo menos sete dias, após Jair Bolsonaro ter alegado num vídeo que o uso de vacinas contra covid-19 poderia facilitar o desenvolvimento de SIDA. O vídeo, que foi transmitido em direto na conta oficial do Presidente na quinta-feira, também foi removido porque viola as diretrizes de “desinformação médica sobre a covid-19″ da plataforma, disse o YouTube.
“Aplicamos as nossas políticas de forma consistente em toda a plataforma, independentemente de quem for o criador
ou qual a sua opinião política”, indicou a plataforma de vídeos em
comunicado. Porta-vozes do YouTube explicaram à agência espanhola Efe
que a plataforma também optou por suspender a conta de Bolsonaro por pelo menos uma semana porque o seu canal já havia sido notificado em julho sobre a publicação de desinformação sobre a pandemia.
Assim, por se tratar de uma “reincidência“, o líder da extrema-direita brasileira não poderá publicar novos vídeos ou transmitir ao vivo
pelos próximos sete dias. É a primeira vez que uma rede social suspende
o perfil de Bolsonaro, que se tem caracterizado pelo negacionismo
diante da gravidade da pandemia da covid-19 e da eficácia das vacinas
para combater a doença.
Antes do YouTube, também as redes sociais Facebook e Instagram
retiraram das suas plataformas o vídeo em que Bolsonaro vinculava o uso
de vacinas contra a covid-19 ao desenvolvimento de SIDA (Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida). Num vídeo em direto na última quinta-feira,
o chefe de Estado citou uma notícia falsa na qual se
defendia que relatórios oficiais do Governo do Reino teriam sugerido que
algumas pessoas vacinadas contra a covid-19 estariam a desenvolver SIDA
“muito mais rápido do que o previsto“, justificando assim a sua posição contra a imunização.
“Eu só vou dar a notícia. Não a vou comentar porque já disse isso no passado e foi muito criticado. Relatórios oficiais do Governo do Reino Unido sugerem que pessoas totalmente vacinadas estão desenvolvendo SIDA 15 dias após a segunda dose. Leia essa notícia. Não vou ler aqui porque posso ter problemas com a minha transmissão ao vivo”, disse o Presidente.
As declarações de Bolsonaro geraram uma onda de críticas
de diferentes associações médicas e científicas, que rapidamente
negaram qualquer ligação entra a vacina e a SIDA, e as rotularam como
notícias falsas. O presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Arthur Lira, disse nesta segunda-feira que Jair Bolsonaro deve ser responsabilizado
por divulgar informações falsas, ao comentar a decisão tomada pelas
redes sociais. “Se ele [Bolsonaro] não tiver nenhuma base científica,
ele vai pagar sobre isso“, afirmou Lira, ao comentar o assunto durante um seminário sobre o agronegócio em São Paulo.
O negacionismo de Bolsonaro levou à instauração de uma comissão parlamentar que investigou durante seis meses
as alegadas omissões do Governo em plena emergência sanitária, cujo
relatório final, que deve ser votado hoje, acusa Bolsonaro de “crimes contra a humanidade” por ter agravado a pandemia.
Com mais de 605 mil mortes e 21,7 milhões de infetados pelo covid-19, o Brasil é, em números absolutos, um dos três países mais afetados pela pandemia no mundo, juntamente com os Estados Unidos e com a Índia.
“Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais”. É desta
forma que Espanha vai propor à Comissão Europeia, na reunião
extraordinária desta terça-feira, uma “solução revolucionária” para
acabar com a escalada de preços na energia. E os portugueses também
podem ser beneficiados se for aprovada.
Espanha vai solicitar a Bruxelas permissão para abandonar o sistema
de preços europeus da electricidade, segundo adianta o espanhol El País.
O jornal teve acesso a um “documento oficioso” onde Espanha assinala
que “em situações excepcionais, deve permitir-se aos Estados-membro
adaptar a formação do preço da electricidade às suas situações específicas“, como cita o El País.
Assim, o Governo espanhol coloca em cima da mesa uma “solução revolucionária”, segundo o mesmo diário, para permitir um mecanismo que reflicta o preço mais barato das energias renováveis nos preços finais da luz pagos pelos consumidores.
Esta medida avançada pelo Governo espanhol surge numa altura em que
os ministros da Energia da União Europeia (UE) procuram soluções para
fazer face à escalada de preços da electricidade, devido ao aumento dos preços do gás.
“Solução revolucionária” pode ser boa para Portugal
Espanha perdeu a paciência com “os tempos de Bruxelas”, avança o El
País. As palavras do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, já
tinham denotado o desgaste com a demora da Comissão Europeia (CE) em
tomar medidas para fazer face à escalada de preços.
Assim, Espanha propõe um mecanismo “extraordinário” e de excepção para “desvincular” o efeito do elevado preço do gás sobre o preço final da electricidade.
Portanto, o país vizinho quer recuperar a “liberdade para fixar os
seus próprios preços de electricidade à margem do sistema europeu”, com o
objectivo de que os consumidores possam beneficiar do menor custo das energias renováveis na factura da luz.
O documento a que o El País teve acesso foi distribuído pelos
responsáveis espanhóis antes da cimeira de ministros europeus em torno
da energia, que decorre nesta terça-feira, no Luxemburgo, para encontrar soluções para fazer face à crise energética que ameaça a recuperação da crise pandémica.
“Tempos excepcionais exigem medidas excepcionais com
carácter de urgência”, considera Espanha, notando que cada aumento de
um euro por MWh no preço do gás natural representa 2.700 milhões de
euros por ano nos custos adicionais de electricidade para todos os
consumidores europeus, conforme cita o El País.
Assim, a ideia de nuestros hermanos é romper com o actual sistema de fixação de preços da UE, onde é a energia mais cara que define o preço de todas as outras fontes. Esta fórmula acabou por levar a recordes nas tarifas de electricidade.
Mas em países como Portugal e Espanha, onde há uma
produção significativa de energias renováveis, aumentar o peso destas na
formulação do preço motivaria números mais vantajosos para os
consumidores.
“Nestas circunstâncias extraordinárias, em vez do sinal de preço
marginal puro (contaminado pelos picos dos preços do gás), o preço da
electricidade obter-se-ia como um preço médio com referência também ao custo das tecnologias limpas infra-marginais (especialmente as renováveis)”, destaca Espanha.
“O preço da electricidade estaria directamente vinculado ao mix de produção nacional,
protegendo, ao mesmo tempo, os consumidores de volatilidades excessivas
e permitindo-lhes participar nos benefícios que proporciona um mix de
geração mais barato”, defende ainda o Governo de Sánchez.
Oposição da Alemanha e do norte da Europa
Espanha vai, agora, procurar apoios entre os restantes Estados-membro para levar a sua ideia avante. Mas deverá ter a oposição provável de países como Alemanha, Áustria, Países Baixos, Irlanda e Finlândia.
Estes países e outros do Norte da Europa já vieram sublinhar, numa carta, que não podem apoiar “nenhuma medida que entre em conflito com o mercado interno do gás e da electricidade, como por exemplo uma reforma ad hoc do mercado grossista da electricidade”.
Uma fabricante de adereços disse que, no passado, já tinha
mostrado preocupação com o facto de o assistente de realização ter
protagonizado situações inseguras.
No fim-de-semana, um documento judicial obtido pela CNN
mostrou que a arma que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins
foi entregue ao ator Alec Baldwin pelas mãos do assistente de realização David Halls, que lhe terá dito que era uma “cold gun”, ou seja, a indicação de que seria seguro usá-la.
Agora, em comunicado, Maggie Goll, fabricante de adereços e
pirotécnica licenciada, explicou que já tinha trabalhado com Halls na
série “Into the Dark” e que, na altura, avisou os produtores executivos
para o seu comportamento inseguro no set.
Segundo a Associated Press, Goll contou também numa entrevista que o assistente de realização ignorou os protocolos de segurança para armas e pirotecnia e tentou continuar as filmagens mesmo depois de o pirotécnico supervisor ter perdido a consciência.
A funcionária disse ainda que Halls não realizou as reuniões de
segurança e falhou várias vezes o anúncio à equipa de que estaria no set
uma arma de fogo, tal como mandam os protocolos.
Apesar disso, a fabricante de adereços considera que “esta situação não é sobre Dave Halls” e que “não é culpa de uma só pessoa”. “Trata-se de um debate maior sobre a segurança nos sets e o que estamos a tentar alcançar com essa cultura.”
Goll referiu que esta é uma situação que não poderia ter acontecido
porque há “tantos passos que têm de ser seguidos” que a possibilidade de
a arma carregada ter chegado àquele destino por si só “deveria ser
impossível”.
Entretanto, um produtor do filme “Freedom’s Path” também contou que o assistente de realização já havia sido despedido por um acidente semelhante.
“Dave Halls foi despedido das filmagens de ‘Freedom’s Path’ em 2019,
depois de um membro da equipa sofrer ferimentos leves quando uma arma
foi disparada acidentalmente”, disse à agência France-Presse o produtor.
“Halls foi expulso do local de filmagens imediatamente” e “a produção
não voltou a filmar até que Dave saiu”, acrescentou a fonte,
acrescentando que na altura foi elaborado um relatório escrito sobre o
incidente.
Baldwin matou
a diretora de fotografia, de 42 anos, na semana passada, depois de ter
disparado a arma em questão no set de filmagens das gravações do filme
“Rust”, quando a equipa de filmagem se preparava para ensaiar uma cena.
A AFP escreveu ainda que a investigação está centrada no papel da
responsável pelo armeiro no local de rodagem, Hannah Gutierrez, a quem
coube preparar as armas para serem usadas no filme, e em Dave Halls.
O primeiro-ministro polaco acusou a União Europeia (UE), esta
segunda-feira, de “ter uma arma pontada à cabeça” da Polónia, ao exigir
que Varsóvia reveja as reformas judiciais, ameaçando-a com sanções.
Numa entrevista publicada pelo Financial Times, Mateusz Morawiecki
exortou os 27 a reverterem a exigência junto do Tribunal Europeu de
Justiça (TEJ) de obrigar a Polónia a pagar uma multa por causa das
reformas judiciais impostas por Varsóvia.
“Será a atitude mais sábia que pode ter. Assim não estaríamos a
discutir com uma arma apontada à cabeça”, afirmou o primeiro-ministro,
que insistiu na necessidade de a UE pôr termo às ameaças de sanções.
Questionado sobre se a Polónia poderá, como retaliação, vetar projetos importantes da UE, Morawiecki respondeu com uma pergunta.
“O que acontecerá se a Comissão Europeia iniciar a Terceira Guerra Mundial? Na verdade, defenderemos os nossos direitos com todas as armas à nossa disposição”, afirmou.
A Polónia está envolvida num confronto acirrado com a UE por causa de
uma série de reformas judiciais polémicas. Bruxelas sustenta que as
reformas prejudicam as liberdades democráticas, mas o Governo
nacionalista e populista polaco argumenta que são necessárias para
erradicar a corrupção entre os juízes.
As declarações de Morawiecki foram já comentadas por Bruxelas, com o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, a considerar que a “guerra de retórica” do primeiro-ministro polaco “é inaceitável”.
Num encontro com jornalistas, Mamer defendeu que a UE é um projeto
que “contribuiu com muito sucesso para o estabelecimento de uma paz
duradoura entre os seus Estados membros”.
“Não há espaço para uma retórica de guerra. É
inaceitável”, acrescentou o porta-voz da UE, sublinhando que “muitos dos
opositores políticos” de Morawiecki estão “profundamente preocupados”
com o crescente isolamento da Polónia dentro dos 27.
“Tenho a impressão de que Morawiecki teve recentemente alguns
problemas com o inglês ou que perdeu a cabeça”, escreveu no Twitter o
ex-primeiro-ministro da esquerda polaca, Marek Belka, atualmente membro
do Parlamento Europeu.
Donald Tusk, o líder do principal partido da oposição na Polónia,
também já reagiu às declarações de Morawiecki, tendo defendido que, na
política, “a estupidez é a causa da maioria dos mais graves infortúnios”.
O porta-voz do Governo de Varsóvia, Piotr Müller, disse à imprensa
polaca que o comentário do primeiro-ministro foi um exagero e não deve
ser interpretado de forma literal.
Desde que chegou ao poder, em 2015, o partido nacionalista Lei e
Justiça está em conflito com Bruxelas numa série de questões, incluindo a
das migrações e a dos direitos da comunidade LGBT. A disputa mais
antiga, no entanto, está centrada nas tentativas do Governo polaco em
assumir o controlo político do sistema judicial.
O assunto veio à tona no início deste mês, quando o Tribunal Constitucional polaco decidiu que algumas partes importantes da legislação da UE não são compatíveis com a Constituição do país.
A decisão de um tribunal repleto de apoiantes do partido no poder foi
tomada depois de Morawiecki ter pedido ao Constitucional que se
pronunciasse sobre se a lei da UE tinha primazia sobre a nacional.
Na semana passada, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der
Leyen, lembrou que foi a primeira vez que um tribunal nacional
considerou que os tratados da UE são incompatíveis com a Constituição
nacional.
“Esta decisão questiona os fundamentos da União Europeia e é um desafio direto à unidade da ordem jurídica europeia”, frisou Von der Leyen.
O Programa Alimentar Mundial da ONU alerta para a crise no
Afeganistão, afirmando que o país está “entre os piores desastres
humanitários do mundo, senão o pior”.
Cerca de 22,8 milhões de afegãos, mais de metade da população do país, estarão este inverno em situação de insegurança alimentar aguda, levando o país a uma das piores crises humanitárias do mundo, alertaram esta segunda-feira agências da ONU.
“Neste inverno, milhões de afegãos serão forçados a escolher entre
migrar ou morrer de fome, a menos que possamos aumentar a nossa ajuda
para salvar vidas”, disse David Beasley, diretor executivo do Programa
Alimentar Mundial (PAM), num comunicado conjunto com a Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
A crise alimentar no Afeganistão já é mais grave do que na Síria ou no Iémen.
Apenas a República Democrática do Congo (RD Congo) está numa situação
mais desesperadora, disseram funcionários da ONU à agência de notícias
francesa AFP.
“O Afeganistão está agora entre os piores desastres humanitários do mundo, senão o pior”, acrescentou Beasley.
“A contagem regressiva para o desastre começou e se não agirmos agora, teremos o desastre total nas nossas mãos”, alertou.
Sob os efeitos combinados da guerra, aquecimento global e crises económicas e de saúde,
mais de 50% da população afegã estará neste inverno nos níveis 3 (crise
alimentar) e 4 (emergência alimentar) do índice IPC (Quadro Integrado
de Classificação de Segurança Alimentar), desenvolvido em colaboração
com a ONU.
O estágio 3 é caracterizado por subnutrição aguda grave ou incomum e o
estágio 4 por subnutrição aguda muito elevada e mortalidade excessiva. O
último estágio (5) é o da fome. Este é o número mais alto desde que as
Nações Unidas começaram a analisar esses dados no Afeganistão, há dez
anos.
De acordo com o PAM, 37% mais afegãos sofrem
atualmente de insegurança alimentar aguda em comparação com abril de
2021. Entre estes, 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos
sofrerão de subnutrição aguda até ao final do ano.
O Afeganistão está devastado por mais de quatro décadas de conflito e está a sofrer as consequências do aquecimento global, que levou a secas severas em 2018 e 2021.
A sua economia estagnou desde que os talibãs assumiram o poder em
agosto, o que levou a comunidade internacional a congelar a ajuda da
qual o país já dependia fortemente.
Cimeira tem início a 31 de outubro, mas os sinais que chegam
não são positivos, com muitos dos líderes e representantes dos
principais países a apontar dedos aos que ainda não se comprometeram com
metas mais básicas e antigas.
A 26.ª cimeira das partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, conhecida como COP26
decorre a partir do último dia deste mês de Outubro, em Glasgow. Nela,
estão depositadas muitas esperanças de ambientalistas e jovens ativistas
tendo em vista ações e políticas mais ambiciosas para mitigar, lutar e
prevenir as alterações climáticas. No entanto, semanas
antes de os trabalhos terem sequer início — ou de os líderes mundiais
começarem a viajar para a Escócia — os primeiros alertas emitidos não são promissores.
Desde recusas de chefes de Estado em se deslocar até
à cidade escocesa (será o caso de Putin ou de Xi Jinping), a avisos do
presidente delegado para dirigir os trabalhos (alertando de que será
ainda mais difícil alcançar acordos do que na cimeira de Paris) ou
lamentos dos ativistas devido à inexistência de um líder político que se destaque na luta pela causa ambientalista, a cimeira parece já condenada ao fracasso.
Desta feita, foi a vez de João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e Ação Climática, também notar o seu estado de espírito “pouco otimista”
em relação à reunião, relembrando que muitos países ainda não se
comprometeram com objetivos mais ambiciosas para lutar contra as
alterações climáticas. “Não estou ainda muito otimista, mas não quer dizer que as coisas não venham a correr melhor até lá“,
afirmou. O governante português considera ainda que esta será “uma COP
mais importante que todas as outras”, desde que os quase 200 países
assinaram o Acordo de Paris.
Segundo Matos Fernandes, “há dias, ainda faltavam entregar 75 novas
declarações de compromisso”, três das quais de países responsáveis por
uma grande quantidade de emissões carbónicas: Índia, China e África do Sul,
enumerou. Como tal, Matos Fernandes preferiu não avançar uma meta para a
subida da temperatura global até 2100 que os países podem acordar em
Glasgow. “2,5 graus até ao final do século XXI, com
estes novos compromissos, era de facto um grande salto em frente.
Seremos capazes desse número? Não tenho a certeza“, disse à Lusa.
“Se não conseguirmos, a COP, por muito que venhamos a dizer que correu bem, não vai correr tão bem como isso“, alertou.
Da parte portuguesa, Matos Fernandes destaca que Portugal foi o “país que foi o primeiro no mundo que disse que ia ser neutro em carbono em 2050
e o país que presidia à União Europeia quando se comprometeu com ser o
primeiro continente neutro em carbono em 2050 e, depois disso, ter emissões negativas“,
argumentou o ministro do Ambiente e da Ação Climática. Na sequência
destes compromissos, Portugal vai ainda avançar com a promessa de “em
dez anos contribuir com 35 milhões de euros para o financiamento aos países em vias de desenvolvimento que têm também que fazer um trajeto para apostar nas energias limpas”.
“Muitos destes países, mormente os que em África falam português, têm já problemas graves de adaptação e sabem bem já hoje quais são as consequências da mudança do clima” destacou o governante que aponta ainda outro tópico sensível da cimeira, a transparência.
“De uma vez por todas, temos de ter regras que sejam as mesmas
para Portugal, para os Estados Unidos da América ou para a República
Centro-Africana de como é que se contabilizam as emissões”, advogou. Na
mesma linha, Portugal também defende que os créditos de emissões poluentes gerados desde o Protocolo de Quioto de 1997, “devem ser todos deitados ao lixo porque os valores que têm são muito discutíveis, com métricas muito estranhas, pouco transparentes e difíceis de comparar agora“.
“Temos sempre uma posição de negociação, mas a nossa posição de entrada é que esses créditos não fazem qualquer sentido“,
reforçou o ministro do Ambiente. Matos Fernandes considerou que “é
inevitável que seja ainda mais desafiante uma COP em tempos de crise energética, porque essa crise não tem rigorosamente nada a ver com sustentabilidade“. “A eletricidade encareceu porque o gás natural, que é o combustível fóssil, encareceu. Os combustíveis estão mais caros porque o bem original — petróleo — está mais caro”, disse.
“É essencial que todos se comprometam, também por razões de preço mais baixo e por razões de estabilidade no preço, a avançar muito depressa para um mundo neutro
em carbono. Para o ter, temos mesmo que chegar a 2050 com um mundo mais
eletrificado e com 100% da eletricidade gerada a partir de fontes limpas“, defendeu.
Apesar de considerar que “o discurso apocalíptico não acrescenta nada” ao esforço por um ambiente melhor, Matos Fernandes reconheceu que “uma posição mais alarmista tem sido determinante na consciencialização
do cidadão comum”. “Nunca podemos é criar um discurso de ‘já não vale a
pena’, esse temos que retirar de cima da mesa e, às vezes, o alarme
pode fazer com que alguns encontrem esse álibi. Nenhum país se deve desculpar com os outros não fazerem”, concluiu.
A internet e a rede telefónica estão a sofrer cortes no
Sudão, que já sofreu uma tentativa de golpe de Estado há poucas semanas.
Vários ministros, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, foram
detidos.
Depois de semanas de escaladas na tensão entre o governo e os militares, esta segunda-feira, o primeiro-ministro do Sudão foi “detido em casa” e pressionado a “apoiar o golpe de Estado”, o que o líder político recusou.
A notícia partiu de uma publicação do Ministério de informação do
Sudão no Facebook. “As forças militares conjuntas, que mantêm o
primeiro-ministro sudanês Abdalla Hamdok dentro da sua casa, estão a
pressioná-lo a fazer uma declaração de apoio ao golpe“, revelou o Ministério.
Há apenas dois dias, uma facção sudanesa que quer uma transferência de poder para o Governo civil alertou para um possível golpe de Estado iminente durante uma conferência de imprensa que foi interrompida por um grupo de pessoas não identificadas.
Recorde-se que o Sudão está a viver uma grande fase de instabilidade política, depois do Presidente Omar al-Bashir ter sido afastado do poder em Abril de 2019.
Desde Agosto desse ano que o rumo do país está nas mãos de um executivo
civil e militar, que tinha como função garantir um transição pacífica
para um Governo totalmente civil.
As Forças pela Liberdade e Mudança (FFC), que lideraram os protestos
contra o Presidente em 2019, são o principal bloco civil no Governo. As
tensões entre os grupos têm subido de tom nas últimas semanas,
especialmente depois de um golpe falhado a 21 de Setembro, que contrapôs islamistas mais conservadores que querem o exército a liderar o país contra os grupos que derrubaram Bashir.
“A crise atual é artificial – e assume a forma de um golpe. Renovamos
a nossa confiança no Governo, no primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e
na reforma das instituições de transição, mas sem (…) imposição”, disse o
líder da FFC, Yasser Arman, numa conferência de imprensa, no sábado.
Nas últimas semanas, ambas as facções têm saído às ruas em protesto.
Dezenas de milhares de sudaneses manifestaram-se nos últimos dias
contra o Governo militar e exigem a transição final para um executivo
civil. Estes protestos aconteceram poucos dias depois da concentração
dos apoiantes dos militares junto ao palácio presencial na capital.
Para além do primeiro-ministro Abdalla Hamdok, o Ministro da
Indústria Ibrahim al-Sheikh, o Ministro da Informação Hamza Baloul, o
membro do Conselho Soberano Mohammed al-Fiky Suliman, e o conselheiro de
Hamdok Faisal Mohammed Saleh também foram detidos. O governador do
estado onde fica Cartum, Ayman Khalid, também foi preso, de acordo com
um anúncio na sua página oficial do Facebook.
A internet foi cortada em todo o país enquanto
manifestantes se concentravam nas ruas da capital para protestaram
contra as detenções, segundo avança a Associação de Profissionais
Sudaneses, um grupo que tem encorajado a população a protestar contra o
golpe nas ruas. O sinal telefónico também está a sofrer cortes, avançam.
“Apelamos às massas que saiam às ruas e as ocupem, fechem as estradas, façam uma greve e não cooperem com os golpistas e usem a desobediência civil para os confrontar”, escreveu o grupo.
Já o grupo NetBlocks, que acompanha as disrupções no fornecimento de
internet, revelou que vários fornecedores no Sudão estavam a falhar. “É
provável que a disrupção limite a livre circulação de informação online e a cobertura mediática de incidentes no terreno”, afirmam.
No sábado, Hamdok que tivesse concordado em fazer uma remodelação no
Governo negou os rumores de que tinha concordado com uma remodelação do
gabinete, tendo-se já referido às divisões no executivo como “a crise mais grave e perigosa” que pode pôr em causa a transição pacífica do poder.
Os EUA já reagiram à crise no Sudão, expressando “profunda
inquietação” sobre as detenções aos líderes políticos que “vão contra a
declaração constitucional (que determinou a transição do país” e as
“aspirações democráticas do povo do Sudão”, disse o emissário
norte-americano para o Corno de África, Jeffrey Feltman.
As Nações Unidas também consideram “inaceitávels” as
detenções levadas a cabo pelos militares. O enviado da ONU no Sudão,
Volker Perthes, mostra-se também “muito preocupado com as notícias de um
golpe de Estado”.
O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, considerou que
“é legítimo” querer proteger as fronteiras, numa altura em que Estados
europeus exigem a ajuda da UE para erguer muros que evitem a entrada de
migrantes.
A Polónia solicitou 350 milhões de euros e mobilizou milhares de soldados para a fronteira para construir um muro na fronteira com a Bielorrússia.
“Parece-nos legítimo proteger a fronteira externa [da União Europeia] a fim de evitar entradas ilegais”, disse o ministro do Interior alemão ao jornal “Bild”, este domingo, comentando a necessidade de ser construída um muro na Polónia.
Milhares de migrantes, principalmente do Médio Oriente e de África,
têm tentado cruzar a fronteira da Bielorrússia para a Polónia, num
movimento de migração que Bruxelas suspeita ser instigada pela
Bielorrússia como retaliação a sanções impostas pela União Europeia.
A Lituânia também lançou a construção de uma cerca de arame farpado
ao longo da sua fronteira com a Bielorrússia e, em 7 de outubro,
ministros do Interior de 12 países (Áustria, Bulgária, Chipre,
Dinamarca, Estónia, Grécia, Hungria, Lituânia, Letónia, Polónia,
República Checa e Eslováquia) enviaram uma carta conjunta à Comissão
Europeia a pedir para a UE financiar essas construções.
Na sexta-feira, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, respondeu que a União Europeia não financiaria “arame farpado ou muros” nas fronteiras.
Seehofer também alertou que o controlo na fronteira com a Polónia
será reforçado, tendo sido já destacados cerca de 800 agentes das forças
policiais para o fazer. E, “se for necessário, estou pronto para
fortalecer [o controlo fronteiriço] ainda mais”, garantiu.
Segundo dados do Ministério do Interior alemão, cerca de 5.700
pessoas cruzaram ilegalmente a fronteira entre a Polónia e a Alemanha
desde o início do ano.
No sábado, um alegado contrabandista de pessoas foi detido depois de
terem sido encontrados 31 imigrantes ilegais do Iraque numa carrinha
perto da fronteira polaca.
Seehofer, que descartou a possibilidade de a fronteira com a Polónia ser encerrada,
escreveu, na semana passada, ao seu homólogo polaco, Mariusz Kaminski,
propondo um aumento das patrulhas conjuntas ao longo da fronteira face
ao crescente número de migrantes, sugestão que o ministro polaco disse
“apoiar completamente”.
O preço da energia de todas as fontes convencionais está explodindo globalmente. Longe de ser acidental, é um plano bem orquestrado para o colapso da economia industrial mundial que já foi dramaticamente enfraquecida por quase dois anos de ridícula quarentena cobiçosa e medidas relacionadas.
O que estamos vendo é uma explosão de preços no petróleo, carvão e, agora, especialmente, na energia do gás natural. O que torna isso diferente dos choques de energia da década de 1970 é que, desta vez, está se desenvolvendo à medida que o mundo dos investimentos corporativos, usando o modelo de investimento verde ESG fraudulento, está desinvestindo em petróleo, gás e carvão no futuro, enquanto os governos da OCDE adotam uma atitude extremamente ineficiente , energia solar e eólica não confiáveis que garantirão o colapso da sociedade industrial talvez já nos próximos meses. Salvo um repensar dramático, a UE e outras economias industriais estão cometendo suicídio econômico deliberadamente.
O que há poucos anos era aceito como óbvio era que garantir uma energia abundante, confiável, eficiente e acessível define a economia. Sem energia eficiente, não podemos fazer aço, concreto, minerar matérias-primas ou qualquer uma das coisas que sustentam nossas economias modernas. Nos últimos meses, o preço mundial do carvão para geração de energia dobrou. O preço do gás natural aumentou quase 500%. O petróleo está indo para US $ 90 o barril, o maior em sete anos. Esta é uma consequência planejada do que às vezes é chamado de Grande Reinicialização de Davos ou a loucura de carbono zero da Agenda Verde. Com o bloqueio generalizado da indústria e das viagens em 2020, o consumo de gás natural na UE caiu drasticamente. O maior fornecedor de gás da UE, a Gazprom da Rússia, no interesse de um mercado ordenado de longo prazo, reduziu devidamente suas entregas para o mercado da UE, mesmo com prejuízo. Um inverno invulgarmente ameno de 2019-2020 permitiu que o armazenamento de gás da UE atingisse o máximo. Um inverno longo e rigoroso quase apagou isso em 2021. Há cerca de duas décadas, a Europa iniciou uma grande mudança para as energias renováveis ou Energia Verde, principalmente solar e eólica. A Alemanha, o coração da indústria da UE, liderou a transformação com a mal concebida Energiewende da ex-chanceler Merkel, onde as últimas usinas nucleares da Alemanha serão fechadas em 2022 e as usinas de carvão estão sendo rapidamente eliminadas. Tudo isso agora colide com a realidade de que a Energia Verde não é de forma alguma capaz de lidar com a grande escassez de suprimentos. A crise era totalmente previsível. Galinhas verdes voltam para o poleiro Ao contrário do que afirmam os políticos da UE, a Gazprom não fez política com a UE para forçar a aprovação de seu novo gasoduto NordStream 2 para a Alemanha. Com a retomada da demanda da UE nos primeiros seis meses de 2021, a Gazprom correu para atendê-la e até mesmo ultrapassar os níveis recordes de 2019, e até mesmo às custas de reabastecer o armazenamento de gás russo para o inverno que se aproxima. Com a UE agora firmemente comprometida com uma agenda de Energia Verde, Apta para 55, e rejeitando explicitamente o gás natural como uma opção de longo prazo, ao mesmo tempo que elimina o carvão e o nuclear, a incompetência dos modelos climáticos de grupos de reflexão que justificaram um 100% livre de CO2, a sociedade elétrica em 2050 voltou para casa.
Como os investidores financeiros em Wall Street e Londres viram o benefício de enormes lucros com a agenda de energia verde, trabalhando com o Fórum Econômico Mundial de Davos para promover o ridículo modelo de investimento ESG, as empresas convencionais de petróleo, gás e carvão não estão investindo lucros na expansão da produção. Em 2020, os gastos mundiais com petróleo, gás e carvão caíram cerca de US $ 1 trilhão. Isso não vai voltar. Com a BlackRock e outros investidores boicotando a ExxonMobil e outras empresas de energia em favor da energia "sustentável", as perspectivas de um inverno excepcionalmente frio e longo na Europa e uma falta recorde de vento no norte da Alemanha, desencadearam uma compra de gás pelo pânico no mundo Mercados de GNL no início de setembro. O problema foi que o reabastecimento foi tarde demais, já que a maior parte do GNL disponível dos EUA, Qatar e outras fontes que normalmente estariam disponíveis já haviam sido vendidos para a China, onde uma política energética igualmente confusa, incluindo uma proibição política do carvão australiano, levou a fechamentos de usinas e uma recente ordem do governo para garantir gás e carvão "a qualquer custo". O Catar, os exportadores de GNL dos EUA e outros migraram para a Ásia, deixando a UE no frio, literalmente. Desregulamentação de energia O que poucos entendem é como os mercados de energia verde de hoje são manipulados para beneficiar especuladores como fundos de hedge ou investidores como BlackRock ou Deutsche Bank e penalizar os consumidores de energia. Os principais preços do gás natural negociado na Europa, o contrato futuro de TTF holandês, é vendido pela ICE Exchange, com sede em Londres. Especula quais serão os preços futuros do gás natural no atacado na UE daqui a um, dois ou três meses. O ICE é apoiado pelo Goldman Sachs, Morgan Stanley, Deutsche Bank e Société Générale, entre outros. O mercado está nos chamados contratos futuros de gás ou derivativos. Os bancos ou outros podem especular por centavos do dólar, e quando surgiram notícias sobre como o armazenamento de gás da UE estava baixo para o inverno que se aproximava, os tubarões financeiros começaram a se alimentar de um frenesi. No início de outubro, os preços futuros do gás TTF holandês explodiram em 300% sem precedentes em apenas alguns dias. Desde fevereiro está muito pior, já que uma carga de GNL padrão de 3,4 trilhões de BTU (unidades térmicas britânicas) agora custa US $ 100-120 milhões, enquanto no final de fevereiro seu custo era inferior a US $ 20 milhões. Isso é um aumento de 500-600% em sete meses. O problema subjacente é que, ao contrário do que ocorreu na maior parte do período pós-guerra, desde a promoção política de “renováveis” solares e eólicas não confiáveis e de alto custo na UE e em outros lugares (por exemplo, Texas, fevereiro de 2021), os mercados de utilidades elétricas e seus preços foram deliberadamente desregulamentados para promover alternativas verdes e expulsar o gás e o carvão sob o argumento duvidoso de que suas emissões de CO2 ameaçam o futuro da humanidade se não forem reduzidas a zero até 2050. Os preços suportados pelo consumidor final são fixados pelos fornecedores de energia que integram os diferentes custos em condições de concorrência. A forma diabólica como os custos de eletricidade da UE são calculados, supostamente para encorajar a energia solar e eólica ineficientes e desencorajar as fontes convencionais, é que, como disse o analista de energia francês Antonio Haya, “a usina mais cara das necessárias para cobrir a demanda (usina marginal) define o preço para cada hora de produção para toda a produção combinada no leilão. ” Portanto, o preço do gás natural de hoje define o preço para eletricidade hidroelétrica de custo essencialmente zero. Dado o aumento do preço do gás natural, é isso que define os custos da eletricidade na UE. É uma arquitetura de preços diabólica que beneficia especuladores e destrói consumidores, incluindo famílias e indústria. Uma causa agravante fundamental para a recente escassez de carvão abundante, gás e petróleo é a decisão da BlackRock e outros fundos globais de fundos de forçar o investimento longe de petróleo, gás ou carvão - todos fontes de energia perfeitamente seguras e necessárias - para o acúmulo de grosseiramente ineficiente e solar ou eólica não confiável. Eles chamam isso de investimento ESG. É a última moda em Wall Street e em outros mercados financeiros mundiais desde que o CEO da BlackRock, Larry Fink, ingressou no Conselho do Fórum Econômico Mundial Klaus Schwab em 2019. Eles criaram empresas certificadoras ESG que atribuem classificações ESG “politicamente corretas” a empresas de capital , e punindo aqueles que não cumprem. A corrida para os investimentos ESG rendeu bilhões para Wall Street e amigos. Ele também freou o desenvolvimento futuro de petróleo, carvão ou gás natural para a maior parte do mundo. A 'Doença Alemã' Agora, após 20 anos de investimentos tolos em energia solar e eólica, a Alemanha, outrora o carro-chefe da indústria da UE, é vítima do que podemos chamar de doença alemã. Como a Doença Holandesa econômica, o investimento forçado em Energia Verde resultou na falta de energia confiável e acessível. Tudo por uma afirmação não comprovada de 1.5C do IPCC que supostamente encerrará nossa civilização em 2050 se não alcançarmos o Carbono Zero. Para fazer avançar a agenda de Energia Verde da UE, país após país, com algumas exceções, começaram a desmantelar o petróleo, o gás e o carvão e até mesmo o nuclear. As últimas usinas nucleares restantes da Alemanha serão fechadas permanentemente no próximo ano. Novas usinas de carvão, com depuradores de última geração, estão sendo desmanteladas antes mesmo de serem iniciadas. O caso alemão fica ainda mais absurdo. Em 2011, o governo de Merkel adotou um modelo de energia desenvolvido por Martin Faulstich e o Conselho Consultivo Estadual sobre o Meio Ambiente (SRU), que alegou que a Alemanha poderia atingir 100% de geração de eletricidade renovável até 2050. Eles argumentaram que o uso de energia nuclear por mais tempo não seria necessário, nem a construção de usinas movidas a carvão com captura e armazenamento de carbono (CCS). Com isso, nasceu a catastrófica Energiewende de Merkel. O estudo argumentou que funcionaria porque a Alemanha poderia contratar a compra de energia hidrelétrica excedente, sem CO2, da Noruega e da Suécia. Agora, com seca extrema e verão quente, as reservas hidrelétricas da Suécia e da Noruega estão perigosamente baixas no inverno, apenas 52% da capacidade. Isso significa que os cabos de energia elétrica para a Dinamarca, Alemanha e agora o Reino Unido estão em perigo. E para piorar, a Suécia está dividida em fechar suas próprias usinas nucleares, que fornecem 40% da eletricidade. E a França está debatendo o corte de até um terço de suas usinas nucleares claras, o que significa que a fonte para a Alemanha também não terá certeza. Já em 1º de janeiro de 2021, por causa de uma eliminação do carvão ordenada pelo governo alemão, 11 usinas movidas a carvão com uma capacidade total de 4,7 GW foram fechadas. Durou apenas 8 dias, quando várias das usinas a carvão tiveram que ser reconectadas à rede devido a um período prolongado de baixo vento. Em 2022, a última usina nuclear alemã será fechada e mais usinas a carvão serão fechadas permanentemente, tudo para o nirvana verde. Em 2002, a energia nuclear alemã era fonte de 31% da energia elétrica sem carbono. Quanto à energia eólica que compensa o déficit na Alemanha, em 2022 cerca de 6.000 aerogeradores com capacidade instalada de 16 GW serão desmontados devido ao término dos subsídios de feed-in para turbinas mais antigas. A taxa de aprovações de novos parques eólicos está sendo bloqueada pela crescente rebelião dos cidadãos e desafios legais à poluição sonora e outros fatores. Uma catástrofe evitável está se formando. A resposta da Comissão da UE em Bruxelas, em vez de admitir as falhas flagrantes em sua agenda de Energia Verde, foi dobrar para baixo como se o problema fosse gás natural e carvão. O Czar do Clima da UE, Frans Timmermans, declarou absurdamente: "Se tivéssemos o acordo verde cinco anos antes, não estaríamos nesta posição porque teríamos menos dependência de combustíveis fósseis e gás natural." Se a UE continuar com essa agenda suicida, ela se verá em um deserto desindustrializado em poucos anos. O problema não é gás, carvão ou nuclear. É a ineficiente energia verde solar e eólica que nunca será capaz de oferecer energia estável e confiável. A Agenda de Energia Verde da UE, dos EUA e de outros governos, juntamente com o investimento ESG promovido por Davos, só garantirá que, à medida que avançarmos, haverá ainda menos gás, carvão ou energia nuclear para usar quando o vento parar, há um seca em barragens hidrelétricas ou falta de sol. Não é preciso ser um cientista espacial para perceber que este é um caminho para a destruição econômica. Mas esse é de fato o objetivo da energia "sustentável" das Nações Unidas para 2030 ou a Grande Redefinição de Davos: redução da população em grande escala. Nós, humanos, somos sapos sendo fervidos lentamente. E agora os poderes constituídos estão realmente aumentando o aquecimento.
F. William Engdahl é consultor de risco estratégico e palestrante, ele é formado em política pela Universidade de Princeton e é um autor de best-sellers sobre petróleo e geopolítica, exclusivamente para a revista online “New Eastern Outlook”, onde este artigo foi publicado originalmente.
Ele é Pesquisador Associado do Center for Research on Globalization.
O sucesso da Coreia do Sul a combater a pandemia de covid-19
não assentou apenas no recurso à tecnologia de ponta — também envolveu o
tradicional toque humano.
De acordo com um recente relatório da Câmara dos Comuns sobre a
resposta à pandemia no Reino Unido, uma das principais falhas do governo
foi presumir que o sucesso de países como a Coreia do Sul no controlo
do vírus não poderia ser replicado na Grã-Bretanha.
Essa decisão de ignorar as abordagens que estavam a mostrar-se
bem-sucedidas em outros lugares foi um dos maiores descuidos do Reino
Unido no início da pandemia.
No entanto, o próprio relatório cai numa armadilha semelhante.
O documento considera a resposta à pandemia da Coreia do Sul como
excecional devido ao uso avançado de tecnologia digital, ignorando o
facto de que o país também dependeu muito de intervenções sociais
antiquadas — rastreamento de contactos, quarentena e isolamento de casos
— auxiliado por homens no terreno.
Para combater a covid-19 e as futuras pandemias, os governos precisam
de dar atenção às lições dessas intervenções sociais e não apenas às
tecnológicas. A Coreia do Sul ensina-nos que as soluções de alta tecnologia podem ajudar a proteger contra doenças, mas funcionam em conjunto com intervenções sociais.
O governo do Reino Unido tinha a ambição de criar um sistema de testar-rastrear-isolar
“revolucionário”. No entanto, o relatório da Câmara dos Comuns conclui
que o sistema de Inglaterra produziu pouco efeito, apesar dos grandes
gastos.
Outros países também não foram capazes de conter a covid-19
suficientemente sem recorrer a confinamentos draconianos. No entanto, a
Coreia do Sul tem sido regularmente citada como uma exceção.
Embora a Coreia do Sul tenha tido que introduzir algumas medidas de
controlo para limitar a propagação do vírus — houve confinamentos para
empresas e limites aos ajuntamentos em 2021 —, o país evitou confinamentos totais e fechos de fronteiras,
mantendo relativamente baixos os casos de covid-19. Vale lembrar que a
Coreia do Sul é um dos grandes países mais densamente povoados do mundo.
A chave para isto tem sido as medidas de quarentena para os viajantes
que chegam ao país, que foram introduzidas muito rapidamente, e o
sistema altamente eficaz de testar-rastrear-isolar do país. Este
processo cuidadosamente projetado fornece suporte local para aqueles que estão isolados, ao mesmo tempo que os monitoriza e sanciona o não cumprimento.
Sim, dados de telemóveis e outras formas de vigilância
têm sido usados para rastrear pessoas que podem ter o vírus. Mas, uma
vez que um caso positivo é confirmado, é a intervenção humana que
garante que essas pessoas não espalhem ainda mais o vírus.
É designado um responsável para trabalhar com as famílias afetadas.
Eles comunicam com pessoas infetadas durante o período de isolamento.
Depois de fazer contacto inicialmente por telemóvel para informar as
pessoas sobre a necessidade de isolamento e as diretrizes a serem
seguidas, os responsáveis pelo caso entregam um kit para ficar em casa o
mais discretamente possível para proteger a privacidade da pessoa.
Este kit contém bens essenciais que evitam que a
pessoa precise de sair. As famílias recebem comida, bebida, sacos de
lixo, um termómetro, máscaras e álcool-gel para ajudar a prevenir novas
infeções. Os kits também podem ser adaptados, por exemplo, para incluir
certos alimentos ou medicamentos — e até mesmo alimentos para animais de
estimação.
O responsável é o principal ponto de contacto da pessoa infetada,
fornecendo aconselhamento e apoio durante os 14 dias de isolamento.
Novamente, a tecnologia desempenha um papel. Uma aplicação de smartphone
pode ser usada para monitorizar os sintomas relatados pela pessoa e
para se certificar (via GPS) de que a pessoa não está a quebrar a
quarentena.
Mas a sua influência não deve ser exagerada. A aplicação é obrigatória, mas quem não tem smartphone ainda pode obter suporte através de chamadas e mensagens.
Pessoas que se auto-isolam podem entrar em contacto com o seu
responsável pelo caso quando ajuda extra for necessária, por exemplo,
com negócios diários urgentes, como serviços bancários ou cuidados com
animais de estimação.
Como o relacionamento funciona nos dois sentidos, isto incentiva a
conformidade através da criação de um vínculo social. O apoio abrangente
e individualizado dado àqueles que fazem o isolamento garante
principalmente a conformidade, removendo barreiras, em vez de punir as
infrações.
A necessidade de lidar com a perda de rendimento que as pessoas que se isolam enfrentam também foi identificada no início, com pagamentos modestos de até 374 dólares facilmente disponíveis.
A eficácia destas intervenções é clara: os dados publicados sugerem
que o não cumprimento das regras de isolamento foi extremamente baixo na
Coreia do Sul durante a pandemia. Aqueles que infringem as regras
correm o risco de perder o apoio financeiro que o governo oferece.
Não quebrar as regras também tem sido incentivado
como norma social através de reportagens diárias nos media sobre o
número de pessoas que não aderem ao isolamento. Geralmente, isso não é
mais do que quatro pessoas por dia — num país de 55 milhões.
O governo da Colômbia anunciou este sábado a captura do
narcotraficante mais procurado do país, Dairo Antonio Úsuga (com a
alcunha de ‘Otoniel’), por quem os Estados Unidos ofereciam uma
recompensa de cinco milhões de dólares.
Dairo Antonio Úsuga, ou ‘Otoniel’, o camponês que passou de
guerrilheiro de esquerda a paramilitar de extrema direita antes de se
consolidar como o chefe do narcotráfico mais procurado na Colômbia, foi
este sábado capturado pelo Exército do país.
O presidente Iván Duquecomparou a detenção à queda de Pablo Escobar,
o grande barão da cocaína, morto pela polícia colombiana em 1993. “É o
golpe mais duro desferido contra o narcotráfico este século no nosso
país”, disse Duque, numa declaração pública.
Imagens divulgadas pelo governo mostraram ‘Otoniel’, de 50 anos, algemado e cercado por militares com fortemente armados. “Estávamos atrás dele há sete anos“, detalhou o general Fernando Navarro, comandante das Forças Militares colombianas.
‘Otoniel’, líder do Clã do Golfo, a principal quadrilha criminosa da
Colômbia, não era procurado apenas pelas autoridades locais. Os Estados Unidos ofereciam 5 milhões de dólares por informações sobre o seu paradeiro ou que permitissem a sua captura.
Úsuga nasceu a 15 de setembro de 1971, em Necoclí, uma região estratégica
no noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas
também do Pacífico e das Caraíbas. Passou a liderar o Clã do Golfo após a
morte do seu irmão, Juan de Dios, “Giovanni”, em confronto com a
polícia em 2012.
Da extrema esquerda à extrema direita
O criminoso é o sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de
Dios Úsuga, casal que diz ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e
gado na região de Antioquia, no noroeste do país.
Aos 18 anos, juntou-se ao Exército de Libertação Popular (EPL), organização de guerrilha marxista desmobilizada em 1991. “Não era um revolucionário, era o que tinha e um dia partiu com eles”, contou a mãe, em 2015, ao jornal colombiano El Tiempo.
Úsuga não participou no processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde com as forças governamentais colombianas.
Entre 1993 e 1994, juntou-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico. “Era um camponês não muito ideologizado“, explicou à AFP o especialista em segurança Ariel Ávila.
A ACCU fez parte das Autodefesas Unidas da Colômbia, que se
desmobilizaram em 2006 por iniciativa do governo de Álvaro Uribe
(2002-2010). Mas, segundo o analista, “Otoniel” sentiu-se “desiludido” com o processo de submissão à justiça e decidiu manter-se na clandestinidade.
Rede espalhada pelo país
Úsuga montou uma rede criminosa com presença em quase 300 dos 1102
municípios do país, principalmente no Pacífico, local estratégico para o
envio de cargas de drogas, segundo o centro de estudos independente
Indepaz.
“Dario Úsuga é dono de um amplo portfólio de atividades criminosas, que incluem mineração ilegal e tráfico de imigrantes para o Panamá”, explicou Ávila.
Segundo o centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo atua na também contratação de gangs de rua locais, que executam em seu nome atividades de microtráfico, extorsão e assassínio a soldo.
O narcotraficante viajava sempre sozinho, a pé ou em mula,
e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar, relataram as
autoridades colombianas. Nos últimos dias da perseguição, refugiou-se no
interior da floresta virgem da região de Urabá, de onde é originário, e
desfez-se dos seus telefones, substituindo-os por correios humanos.
A justiça norte-americana acusa Dairo Antonio Úsuga de liderar uma organização “fortemente armada, extremamente violenta”, que “usa a violência e a intimidação” para controlar as rotas do tráfico de drogas e laboratórios de processamento de cocaína.
Megaoperação de perseguição e captura
Para capturar ‘Otoniel’, a polícia colombiana recorreu a “vigilância
por satélite coordenada com agências dos Estados Unidos e do Reino
Unido”, explicou o diretor da instituição, general Jorge Vargas. Cerca
de 500 militares, apoiados por 22 helicópteros, participaram na operação, que provocou a morte a um agente da polícia colombiana.
Uma transmissão ao vivo da polícia nas redes sociais mostrou o
momento do desembarque do narcotraficante em Bogotá, algemado e cercado
por vários agentes. ‘Otoniel’ foi levado para um edifício da
instituição, rodeado de aparatosas medidas de segurança.
Nas últimas semanas, Úsuga “não chegava a permanecer em qualquer
casa, dormindo sem condições, à chuva, sem se aproximar de zonas
residênciais”, detalhou o diretor da polícia colombiana.
A queda do líder da maior quadrilha de traficantes da Colômbia é o
principal sucesso do governo do presidente colombiano no combate ao
narcotráfico e crime organizado no país que mais exporta cocaína no mundo.
“Sobre este delinquente há ordens de extradição pendentes, e
trabalharemos com as autoridades para cumprir também esta missão”,
adiantou Iván Duque.
‘Otoniel’ é procurado pela justiça norte-americana desde 2009, depois
de ter sido indiciado por tráfico de drogas pelo Tribunal do Distrito
Sul de Nova York.
Já o governo colombiano aponta a sua rede criminosa como uma dos responsáveis pela onda de violência que assola o país, a pior desde a assinatura do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016.
Muitos dos avanços na medicina tiveram apenas metade da
população em conta. Para além da falta de representação das mulheres nos
estudos médicos, a dor e os relatos das pacientes são muitas vezes
desvalorizados nas urgências.
Já dizia James Brown que este é um mundo para homens, e a própria
medicina não escapa a esta realidade. Depois de se comprovar que
objectos quotidianos como carros são feitos com o corpo dos homens em
mente e como isso pode levar a mais mortes de mulheres em acidentes – há estudos que mostram que ainda há um longo caminho a percorrer até que a dor feminina seja levada a sério pelos médicos.
O caminho longo e doloroso até ao diagnóstico da endometriose, a
conhecida doença da mulher moderna, é uma das maiores provas disto.
Multiplicam-se os testemunhos de mulheres que viram as suas queixas desvalorizadas e ignoradas durante anos pelos médicos, até que o diagnóstico veio finalmente comprovar que não estavam só a ser dramáticas e a exagerar.
“Quando fui diagnosticada com endometriose aos 23 anos, não sabia o
suficiente para perguntar as questões certas. Assumi que o meu
ginecologista tinha todas as respostas e ouvi com cuidado às suas
explicações consideradas. Achei que sabia tudo. Ou que pelo menos ele
sabia tudo”, começa o testemunho de Gabrielle Jackson no The Guardian.
Depois de mais de uma década a sentir-se fraca e a desvalorizar os sintomas como se fosse hipocondríaca,
Gabrielle começou a perguntar-se sobre como havia tão grande falta de
conhecimento sobre uma doença que já existe nos textos médicos mais de
um século.
“Um século de diagnósticos e a ciência médica continua sem ter ideia
do que causa a endometriose ou como funciona, e não estamos mais perto
de uma cura. Como é que isto pode possivelmente ser? E apesar de haver
muitos médicos no ramo que fazem uma enorme diferença nas vidas das
pessoas como endometriose, há muitos mais continuam ignorantes sobre a
doença, promovem mitos sobre as suas curas e tratam as pessoas com a
doença como se fossem histéricas“, remata.
A experiência de Gabrielle fez com que se interessasse mais por
outros casos médicos onde as queixas das mulheres são desvalorizadas
como sendo exageradas, que compilou depois no livro Pain and Prejudice — Dor e Preconceito.
A jornalista concluiu que as mulheres esperam mais tempo para serem receitadas medicamentos para a dor, para serem diagnosticadas com cancro
e que têm uma probabilidade maior de terem os seus sintomas físicos ser
desvalorizados como sendo só algo na cabeça delas, tal como comprovou
um estudo de 2021.
O diagnóstico tardio de doenças cardíacas e o maior risco de se ficar
deficiente depois de um AVC também afectam mais as mulheres, que tendem
a sofrer de condições mais ignoradas na comunidade médica.
O mais chocante para a autora é que “há muitas mulheres que vivem em dor constante e que não sabem que isso não é normal
e que não têm de viver assim”, citando dez doenças que causam dor
crónica que afectam predominantemente mulheres e que têm sintomas
semelhantes — mas que geralmente têm também diagnósticos tardios.
“Por que é que as mulheres continuam a ser tratadas como histéricas, demasiado emocionais, ansiosas e testemunhas não confiáveis do seu próprio bem-estar?”, questiona Gabrielle Jackson.
Numa peça para a The Atlantic
onde detalha uma má experiência com a esposa nas urgências, o
jornalista Joe Fassler faz perguntas semelhantes. Era uma manhã normal
de quarta-feira, quando Rachel, a mulher de Joe, soltou um grito e caiu com dores na casa-de-banho.
Quando a equipa de emergência chegou ao apartamento, perguntaram-lhe
de 0 a 10 qual era o nível de dor que sentia, tendo a geralmente pouco
sensível à dor Rachel respondido com um “11”.
Joe relata que tentou várias vezes alertar os médicos e enfermeiros
nas urgências de que a sua esposa tinha de ser atendida rapidamente.
“Ela tem de esperar pela vez dela”, respondeu uma enfermeira. O
jornalista recorda as reacções que “foram entre desdenhosas e
paternalistas”. “Só está a sentir uma dorzinha, querida“, terá dito uma enfermeira.
Tendo sigo inicialmente indicada como um caso de pedra dos rins,
aquilo que se passava na verdade é que quisto num dos ovários de Rachel
tinha crescido sem ser detectado até ser tão grande que começou a torcer
a sua trompa de Falópio — uma condição chamada torção anexial que pode levar até à falência dos órgãos e até ser fatal, sendo uma resposta rápida essencial para se evitar o pior.
Apesar do inchaço no ovário poder ter sido facilmente diagnosticado
através da pele por um médico mais cuidadoso, Rachel continuou a sofrer
num estado potencialmente mortal. “Estas urgências em particular, como
muitas nos EUA, não tinham um ginecologista de serviço. E todos os
encolher de ombros das enfermeiras pareciam dizer “as mulheres choram – vamos fazer o quê?”, relata o jornalista.
Joe cita também um estudo
que mostra que nos EUA os homens esperam uma média de 49 minutos antes
de receberem um analgésico para dores abdominais aguas, enquanto que as mulheres esperam em média 65 minutos. Rachel esperou algures entre 90 minutos e duas horas.
“As cicatrizes físicas da Rachel estão a sarar, e ela pode fazer as
corridas longas que adora, mas ainda está a lidar com as consequências
psicológicas — aquilo que ela chama “o trauma de não ser vista“. Ela tem pesadelos, algumas noites”, remata o jornalista
A escritora Leslie Jamison, no seu livro The Empathy Exams,
discutiu o que tinha acontecido a uma das suas melhores amigas meses
depois do seu ensaio sobre a dor feminina ter sido publicado. Essa amiga
era Rachel.
“Esse caso foi uma encarnação profundamente pessoal e perturbadora do
que está em risco. Não só do lado dos médicos, onde a dor feminina pode
ser entendida como exagerada, mas do lado da própria mulher: a minha
amiga tem estado a pensar nos seus próprios medos de ser entendida como melodramática“, escreve Jamison.
A desigualdade na dor
Os casos de Gabrielle e Rachel estão longe de ser os únicos. O estudo The Girl Who Cried Pain — um trocadilho sobre a história de The Boy Who Cried Wolf, conhecida como Pedro e o Lobo em Portugal — publicado em 2001, explica o fenómeno Síndrome de Yentl, que se refere à diferença de tratamento nos casos de ataque cardíaco entre homens e mulheres.
É mais provável que as mulheres sejam tratadas “de forma menos
agressiva nos seus primeiros encontros com o sistema de saúde até provarem que estão tão doentes como os pacientes masculinos“, concluiu o estudo.
Outras investigações concluíram também que as mulheres têm uma menor
probabilidade de receber sedativos do que os homens e que apenas metade das mulheres
que receberam cirurgia de revascularização do miocárdio foram
receitadas analgésicos em comparação com homens que tinham feito a mesma
cirurgia.
Estas diferenças do tratamento no sistema de saúde podem ter consequências sérias e até fataos. Um estudo de 2000 concluiu que as mulheres têm uma probabilidade quatro vezes maior em relação aos homens de receberem diagnósticos errados e até receber alta enquanto estão a sofrer um ataque cardíaco.
Em 2018, um caso de uma jovem francesa de 22 anos também fez
manchetes mundiais. A mulher fez uma chamada de emergência por estar a
sentir uma dor abdominar tão aguda que sentiu “que ia morrer”. “Vai definitivamente morrer um dia,
como todos nós”, terá respondido o operador. Depois de cinco horas, a
mulher foi para o hospital, onde acabou por entrar em falência de órgãos
e não resistir.
Já 70% das pessoas que sofrem de dor crónica são mulheres, mas mesmo
assim, 80% dos estudos sobre dor são feitos em ratos machos ou em
homens. Um dos poucos estudos que analisou as diferenças de género na percepção da dor até concluiu que as mulheres tendem a sentir dores mais intensas e mais frequentes do que os homens.
“Sabemos menos sobre a biologia feminina”
Mas, afinal, o que explica estas diferenças no tratamento entre
homens e mulheres? Para a médica Janine Austin Clayton, a resposta é
simples: “Sabemos literalmente menos sobre todos os aspectos da biologia
feminina em comparação com a biologia masculina”.
Tradicionalmente, muitos investigadores preferem trabalhar com
animais de laboratório machos, preocupados com os efeitos dos ciclos
hormonais das mulheres nos resultados dos testes. O problema é que, ao
não estudarem os efeitos nas mulheres, não há maneira de saber qual o impacto que estas podem sofrer.
K.C. Brennan, professor de neurologia na Universidade do Utah, explica ao New York Times que
já se focou em perceber as diferenças nos sexos na sua pesquisa nas
enxaquecas — mas incluir ratos fêmea aumenta os custos, já que a equipa
tem de fazer experiências extra para ter em conta os ciclos de estro.
“As diferenças entre os sexos são o elefante na sala. Temos de ter
animais machos e fêmeas, porque algo que se manifeste de forma diferente
nos machos e nas fêmeas pode ser uma pista sobre como uma doença funciona“, esclarece.
Para Gabrielle Jackson, a resposta já é o legado cultural que desde o
início da medicina, tem tratado as mulheres como inferiores aos homens,
desde a vilificação do útero, que Platão descreveu como “um animal
voraz dentro do corpo feminino que lhe sugava a força para viver”, até
ao bicho-papão que são hormonas.
“Todo o tipo de teorias biológicas têm sido usadas para justificar a
subordinação das mulheres aos homens. No centro da maioria delas está a
ideia de que os processos reprodutores das mulheres — a menstruação, a
gravidez, a amamentação e a menopausa — consomem tanta energia que a
atenção dada a qualquer outro objectivo simplesmente lhes tiraria a
feminilidade e a concretização do seu propósito final: ser boas esposas e
mães”, escreve a jornalista.
O que piora ainda mais as disparidades é que os estudantes de
medicina nunca são informados dela. “Não se fala nas escolas de medicina
que quase tudo o que sabemos sobre a biologia humana vem de estudos dos
homens. E talvez, só talvez, as mulheres que enchem as salas de espera —
as mulheres que eles não podem ajudar — não estão lá porque são
histéricas ou a inventar ou querem atenção, mas porque estão doentes, a
sofrer e a medicina não tem respostas para elas“, conclui Gabrielle Jackson.
O governo austríaco anunciou que, se ocupação
de camas de Unidades de Cuidados Intensivos com pacientes covid-19
atingir nível crítico, pessoas não imunizadas poderão sair de casa
apenas em casos excepcionais, como compras essenciais e trabalho.
O governo da Áustria anunciou vai fechar ainda mais o cercoaos não vacinados contra a covid-19, preparando-se mesmo para impor o confinamento compulsivo aos que recusarem imunizar-se, revela o Deutsche Welle.
De acordo com as novas regras, se mais de 600 camas de Unidades de
Cuidados Intensivos (UCI) estiveram ocupadas por pacientes com covid-19
(33% das camas disponíveis), os não vacinados apenas poderão sair de casa em casos excepcionais — como fazer compras essenciais ou ir trabalhar.
Não estão incluídas nestas regras as pessoas que não possam
vacinar-se, como os menores de 12 anos, para as quais não há uma vacina
aprovada na Áustria.
“Estamos perto de cair numa pandemia de não vacinados“, disse o chanceler federal austríaco, Alexander Schallenberg.
Atualmente, 220 camas de UCI estão ocupadas com pacientes covid-19 na
Áustria, o equivalente a aproximadamente 11% do total de camas
disponíveis.
No país, cerca de 61,5% da população está completamente imunizada contra a doença, de acordo com a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.
No entanto, um estudo recente do Austrian Corona Panel Project (ACPP), da Universidade de Viena, mostrou que 17% dos austríacos recusa vacinar-se contra a covid-19, e 8% estão hesitantes.
Schallenberg descartou a possibilidade de um novo confinamento para vacinados e recuperados da doença. “As decisões que tomamos hoje não têm efeito sobre os que foram vacinados”, reforçou.
Para o chanceler austríaco, deve ficar claro para toda a população que “há muita responsabilidade sobre os ombros dos não vacinados“, referindo-se à ocupação das UCIs, que também repercute em pacientes com outras doenças.
“Como chanceler federal, não deixarei que o sistema de saúde fique sobrecarregado porque ainda temos muitos hesitantes e procrastinadores”, afirmou.
Restrições mesmo com testes negativos
Se for excedida a marca das 500 camas de UCI ocupadas com pacientes covid-19 (25% da capacidade total), as pessoas não vacinadas serão impedidas de entrar em locais
como restaurantes, hotéis, eventos, instituições culturais, instalações
de lazer e eventos esportivos, mesmo que apresentem um teste negativo
de coronavírus.
“Vamos diferenciar entre os protegidos e os testados”, realçou por
seu turno o ministro da Saúde, Wolfgang Mückstein, que apelou a todos os
austríacos que se vacinem. “Há uma alternativa às restrições: vacinação“, enfatizou o ministro, lembrando que as restrições podem ser evitadas, caso mais pessoas se vacinem.
Alguns políticos criticaram a decisão do governo. Herbert Kickl,
líder do FPÖ, Partido da Liberdade, de extrema-direita, considera que
“o governo federal já não sabe o que fazer”. Este “é um passo que nos
recorda os capítulos mais sombrios da nossa história. Com a ameaça de privação de liberdade, as pessoas são coagidas a vacinar-se”, diz Kickl.
Em setembro, nas eleições municipais, a Áustria foi surpreendida pelo desempenho de um novo partido criado para se opor às restrições
impostas na pandemia de covid-19. O MFG, Menschen-Freiheit-Grundrechte,
conquistou um lugar no parlamento do estado da Alta Áustria, após obter
mais de 6% dos votos.
Segundo Michael Brunner, líder do MFG, a principal preocupação do novo partido é a proteção dos direitos fundamentais.
“Os nossos antepassados lutaram muito por esses direitos e não vamos
desistir”, disse Brunner, que critica abertamente o uso de máscaras, a
realização de testes de coronavírus e a vacinação de crianças e jovens
contra a covid-19.
Europa com regras mais duras – e resistências à vacina
Muitos países da Europa têm vindo a impor regras a não vacinados, para incentivar que as pessoas se imunizem. A Alemanha, por exemplo, aboliu os testes gratuitos, já que, em muitos locais, é obrigatório apresentar comprovativo de vacinação, de recuperação ou um teste negativo.
Em Itália, desde 15 de outubro que todos os trabalhadores (cerca de
23 milhões de pessoas) têm que apresentar um passaporte sanitário para
acader ao seu local de trabalho.
Os trabalhadores devem comprovar que se vacinaram
contra a covid-19 ou que estão recuperados da doença. Quem não
apresentar o documento e tiver que faltar ao trabalho devido à doença,
não recebe salário nos dias em que estiver parado.
Atualmente, uma nova onda de covid-19 alastra pela Europa, sobretudo em países do Centro e do Leste do continente, onde as taxas de vacinação são mais baixas. A subida nos casos em vários países levou vários governos a impor novamente restrições, e deixou em alerta os restantes.
A Rússia, que regista há vários dias recordes sucessivos no número de mortes devido ao coronavírus, decretou uma semana de férias pagas
para tentar conter o avanço da doença. Assim, os dias de 30 de outubro a
7 de novembro não serão considerados dias úteis, e os trabalhadores
ficarão em casa, embora os seus salários sejam mantidos.
Na terça-feira, o presidente da Câmara de Moscvo, Serguei Sobyanin, afirmou que os cidadãos com mais de 60 anos não vacinados terão que ficar em casa durante os próximos quatro meses.
Além da Rússia, também outros países do Leste Europeu enfrentam forte resistência da população à vacina.
Na União Europeia, os Estados-membros com menores taxas de vacinação
encontram-se no leste do continente, como são os casos da Bulgária,
Roménia, Croácia, Polónia, Estónia e Letónia — país que entratanto decretou um novo confinamento de quatro semanas, com escolas, lojas e restaurantes fechados.
A Roménia, com uma morte por coronavírus a cada cinco minutos, enfrenta agora por seu turno um novo problema: escassez de caixões.