Depois de seis rondas de votação, as presidenciais em Itália continuam sem um vencedor. A próxima ronda ficou marcada para as 9h30 deste sábado, hora local.
Em Itália, o Presidente é escolhido por um colégio eleitoral composto por 1009 deputados, senadores e delegados regionais, sendo precisa uma maioria de dois terços nas três primeiras votações. Depois destas, uma maioria absoluta é suficiente.
O mandato é de sete anos e apesar de ser uma figura mais representativa, o Presidente tem um papel importante na gestão de crises e pode apontar o Governo. Para Luigi Di Maio, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Movimento Cinco Estrelas, a situação “está a complicar-se“, com as dificuldades de consenso entre os partidos.
Nas duas votações que houve na sexta-feira, nada ficou decidido. À hora do jantar, começou o segundo encontro do dia entre Enrico Letta, secretário-geral do Partido Democrático (centro-esquerda), Giuseppe Conte, presidente do Movimento 5 Estrelas, e Matteo Salvini, líder da Liga (extrema-direita) e do conjunto da direita.
“Começámos finalmente a falar, discutimos de forma franca e aberta, mas estamos no início. Perdemos quatro dias para uma candidatura de centro-direita. Mas não há opção, este Parlamento tem de chegar a um entendimento alargado”, disse Letta.
Poucas horas depois, veio um raspanete mais um raspanete do PD, do Movimento 5 Estrelas e do Livres e Iguais (esquerda), que acusou o centro-direita de “gerir de forma irresponsável a mais importante transição democrática e constitucional”.
O líder da Liga, Matteo Salvini, tentou resolver a situação apelando aos membros do seu partido que votem na conservadora que actualmente preside ao Senado, Maria Elisabetta Alberti Casellati, do Forza Italia (partido fundado por Berlusconi), lembrando que está na hora de Itália ter uma “mulher inteligente” como chefe de Estado.
Salvini também já tinha apontado Marta Cartabia, Ministra da Justiça, ou Elisabetta Belloni, actual chefe da diplomacia, como possíveis nomes para a Presidência. O líder da Liga encontrou-se ainda com Mario Draghi, que é primeiro-ministro há quase um ano e que foi inicialmente apontado como o grande favorito.
No entanto, dada a estabilidade que o “Super Mario” conseguiu trazer num país que historicamente não o é, especialmente na liderança de um Governo que reúne partidos desde a esquerda até à extrema-direita, há muitos receios de que não se consiga encontrar um sucessor à altura caso Draghi saia da chefia do executivo e se torne Presidente.
Com Berlusconi fora da corrida, o “Super Mario” Draghi tem a presidência de Itália na mira
Apesar de não haver candidatos formais, os nomes que estão de momento em cima da mesa e têm sido falados nas reuniões entre os partidos são Draghi, o antigo primeiro-ministro Giulio Amato e Pier Ferdinando Casini, o centrista que já presidiu à Câmara dos Deputados.
Há também quem defenda que o actual Presidente Sergio Matarella cumpra mais um mandato, apesar deste já ter dito que se quer reformar. Silvio Berlusconi também anunciou que era candidato, mas acabou por se retirar da corrida na semana passada e especula-se que os seus problemas de saúde tenham sido a razão.
A votação ao longo da semana tem sido marcada pelos votos em branco. Salvini escolheu então ontem apostar em Elisabetta Casellati, apesar de ser óbvio que a candidata não seria apoiada pelo centro-esquerda. O resultado foi 382 votos para Casellati, abaixo dos 505 de que precisava.
Ao contrário do voto, que é secreto, a abstenção é anunciada publicamente, sendo usada como forma das lideranças partidárias controlarem o voto dos deputados. 406 eleitores abstiveram-se na sexta-feira.
Já na sexta votação, que teve lugar ao início da noite, Mattarella foi o mais votado, tendo conseguido 336 votos, o que indica que os partidos podem continuar a pressionar o actual chefe de Estado a continuar no cargo, dadas as maiores hipóteses de ser consensual. O processo vai continuar neste sábado.
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