A cena é dramática: canos emaranhados nas margens do
Canal das Tachas levam água em determinados horários, geralmente na
madrugada, e moradores formam uma enorme fila para encher baldes e
garrafas PET. Enquanto isso, dezenas de jacarés acompanham a situação - a
comunidade é bem próxima do Parque Natural Municipal Chico Mendes, que
abriga várias espécies.
"Quando chega água, é uma
guerra. O medo é constante, porque os jacarés pulam em cima dos canos",
diz a fisioterapeuta Valéria de Mattos, de 39 anos, que mora em frente
ao canal. Ela conta que está sem água no apartamento há mais de um mês.
"Tem gente abrindo poço e vendendo, mas a água é cara e vem com cheiro
ruim, só dá para usar no banheiro mesmo. A água da bica é limpa e de
graça."
Valéria conseguiu encher na madrugada de ontem
16 garrafas PET e 3 baldes que guardava na cozinha. "Aqui, isso é ouro. É
uma luta por causa de um balde." Pela manhã, os canos já estavam secos.
Coordenadora da ala da comunidade da escola de samba Mangueira, a
fisioterapeuta pensa em alugar uma casa no morro da zona norte até que a
situação melhore na zona oeste. "Lá pelo menos tem água."
Dono
de uma serralheria na rua do canal, Gilson de Jesus Machado, de 47
anos, diz que mora há nove anos no local e nunca viu uma situação de
falta de água tão forte como a atual. Em nota, a Companhia Estadual de
Águas e Esgotos (Cedae) afirma que houve um problema na Adutora
Urucuia-Barra, uma das tubulações responsáveis pelo abastecimento dos
bairros de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. A
empresa se comprometeu a realizar o reparo e retomar o abastecimento "de
forma gradativa em até 72 horas".
Com vazão de 4 mil
litros por segundo, a adutora Urucuia-Barra tem cerca de 15 quilômetros
de extensão e diâmetro de até um metro e meio. "Para realizar o serviço,
o sistema será temporariamente interrompido, o que reduzirá as pressões
na rede, podendo gerar flutuação no abastecimento da região", informou a
Cedae.
O Rio é a capital mais quente do Brasil no verão
deste ano. A temperatura média em janeiro chegou a 36,8 graus, sete a
mais do que a média histórica, segundo o Instituto Nacional de
Meteorologia. De acordo com especialistas, uma espécie de barreira
atmosférica está impedindo a chegada de frentes frias do sul, que ficam
concentradas em São Paulo. A previsão para o fim de semana é de mais
calor. As temperaturas devem variar de 35 a 40 graus, com sensação
térmica ainda maior.
Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/news/2015_01_16/Cariocas-disputam-gua-com-jacar-s-no-ver-o-de-40-C-do-Rio-7633/
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