A empresa está a antecipar a chegada dos ecrãs touch ao mundo das televisões, que acredita estar para breve Maria João Gala
O Mercedes F 015 Luxury-in-Motion ainda é um carro do domínio da
imaginação, mas o protótipo que a marca alemã apresentou no princípio
deste ano incorpora uma tecnologia real que foi criada e é produzida
numa zona bucólica da margem esquerda do rio Cávado. Chama-se Displax e
sua presença destaca-se em todo o interior do “carro do futuro” da
Mercedes.
Com um simples toque nos ecrãs colocados nas
portas ou no painel frontal, os passageiros deste automóvel de condução
autónoma podem consultar mapas, ver filmes, aceder a páginas da internet
ou a tudo o que hoje se pode encontrar num smartphone. Entre os
escassos fornecedores da “tecnologia projectada capacitiva” existentes
no mundo, a Mercedes escolheu a Displax da Edigma, uma empresa de Braga
que em 2014 celebrou o seu décimo aniversário. Por ser das poucas
empresas do mundo capaz de produzir tecnologia touch em grandes
formatos. E por ser flexível e fiável, garante o seu CEO, Miguel
Fonseca.
À primeira vista, o produto que a Edigma exporta desde a
zona industrial de Adaúfe, perto de Braga, espanta pela sua vulgaridade.
Resume-se a um enorme rectângulo de plástico transparente, com uma tira
castanha, também de plástico na sua banda inferior. Mas quem olhar com
detalhe para esse pedaço transparente há-de notar qualquer coisa de
estranho no seu interior. Pequenos cabos de cobre, com uma espessura
muito inferior à de um cabelo, preenchem toda a sua superfície,
desenhando rectângulos, linhas contínuas, alguns exíguos quadrados.
Depois, quem reparar na tira castanha com mais pormenor há-de constatar
que se parece a uma pequena central de comunicação que liga os fios
minúsculos do rectângulo a uma placa informática que reúne toda a
informação que eles captam, processa-a e envia-a para o sistema
operativo de um computador.
Essas películas com sensores que
reagem às descargas eléctricas provocadas pelo toque de um dedo ficam
debaixo do vidro dos aparelhos electrónicos e não são muito diferentes
das que existem nos telemóveis da nova geração. O que torna os produtos
da Edigma raros em todo o mundo é a sua capacidade de produzir películas
para ecrãs de grandes dimensões nos mais estranhos formatos. “Há mais
duas ou três empresas a fazer grandes formatos, em Inglaterra ou no
Japão, mas nós somos mais flexíveis”, explica Miguel Fonseca. Da unidade
instalada no parque industrial de Adaúfe tanto podem sair rectângulos
com lados curtos ou meias-esferas representando a Terra, como a que o
magnata russo Roman Abramovich encomendou especialmente para o seu iate
de luxo.
Com a consolidação da sua tecnologia, os produtos da
Edigma começaram-se a tornar frequentes no quotidiano. Encontram-se nos
ecrãs interactivos de centros comerciais como o Mar Shopping ou o
Shopping das Amoreiras, nos aeroportos de Lisboa ou Faro ou em vários
museus. A apresentação mundial do Windows 8 em Londres fez-se em ecrãs
touch com tecnologia de Braga. E, muito em breve, os noticiários da BBC
vão contar com o apoio de ecrãs interactivos para os quais a Edigma
forneceu as suas películas com sensores. O aumento da procura
internacional tem levado a companhia a crescer em média 50% todos os
anos. Em 2014 o volume de negócios ascendeu a seis milhões de euros e
este ano este valor deverá subir para 10 milhões. Em 2020 a empresa
espera facturar 100 milhões.
O principal trunfo para esta
confiança reside no último avanço da tecnologia Displax. Apresentado no
final do ano passado, o Displax Skin Ultra permite que se conjuguem 100
toques simultâneos num ecrã, com uma capacidade de resposta em cinco
milissegundos. Para a empresa, esta é a oportunidade de antecipar a
chegada dos ecrãs touch ao mundo das televisões, que Miguel Fonseca
acredita estar para breve. Os seus novos formatos das películas estão já
ajustados aos tamanhos dos ecrãs dos principais fabricantes mundiais de
LCD, a tecnologia que domina a indústria dos aparelhos de televisão.
Quando as televisões entrarem no mundo da interactividade táctil, a
Edigma estará na vanguarda da oferta de soluções. “Não vai demorar muito
tempo até que isso aconteça. Em breve, os professores vão poder
recorrer aos ecrãs interactivos para as crianças fazerem os trabalhos de
casa, por exemplo”, acredita Miguel Fonseca. Antecipando esse dia, a
empresa de Braga tem-se multiplicado em contactos com os gigantes
coreanos e chineses que dominam a indústria dos LCD.
Fonte: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/o-carro-do-futuro-da-mercedes-e-feito-com-tecnologia-de-braga-1687642