Passou quase um ano desde que o Sars-CoV-2 foi identificado por cientistas chineses como a fonte de uma nova doença respiratória letal. Desde então, mais de 1,5 milhões de pessoas morreram em todo o mundo mundo, as economias fecharam várias vezes e as sociedades isolaram-se nas suas casas.
Em declarações ao jornal britânico The Guardian, o professor de Yale e epidemiologista social, Nicholas Christakis, traz um consolo frio, conforme afirma no seu novo livro “A flecha de Apolo”: o impacto profundo e duradouro do coronavírus na forma como vivemos. E isso é porque o investigador vê um padrão.
“Um dos argumentos do livro é que o que está a acontecer conosco pode parecer estranho e não natural para muitas pessoas, mas as pragas não são novas para nossa espécie – são apenas novas para nós”, disse Christakis.
O conforto que Christakis oferece após observar as doenças ao longo de milénios é que pragas e pandemias acabam sempre – antes mesmo de haver vacinas.
Segundo o epidemiologista, a forma como reagimos a esses germes determina a força com que atingem a sociedade.
Além disso, embora a distribuição de vacinas da Pfizer e Moderna seja um dos maiores desafios de saúde pública, também representam uma das grandes conquistas da humanidade. Se for possível vacinar uma porção suficiente da população, a pandemia terminará muito mais cedo e com menos mortes.
“Somos a primeira geração de humanos vivos que já enfrentou esta ameaça que lhes permite responder em tempo real com medicamentos eficazes”, disse Christakis. “É milagroso.”
Quando as pandemias acabam, há um período em que as pessoas procuram uma interação social extensa e que Christakis prevê que serão os segundos “Loucos Anos 20”, exatamente como após a pandemia de gripe de 1918.
“Durante as epidemias, há aumentos na religiosidade, as pessoas tornam-se mais abstinentes, economizam dinheiro, ficam avessas ao risco e estamos a ver tudo isto agora, assim como temos visto durante centenas de anos durante as epidemias”, disse Christakis.
As economias de civilizações antigas entraram em colapso em tempos de doença.
“Muitas pessoas parecem pensar que são as ações do nosso Governo que estão a causar a desaceleração da economia – isso é falso”, disse Christakis. “É o vírus que está a causar a desaceleração da economia, porque as economias entraram em colapso mesmo nos tempos antigos, quando as pragas aconteciam, mesmo quando não havia governo a dizer para fechar as escolas e fechar os restaurantes.”
O futuro não virá até que a sociedade tenha tempo de distribuir a vacina, provavelmente até 2021, e de se recuperar da devastação socioeconómica que causou, provavelmente até 2023, segundo o epidemiologista.
Porém, a visão que traça para a partir de 2024 é um lugar repleto de experiências: estádios lotados, discotecas lotadas e artes florescentes. “Em 2024, todas essas [tendências de pandemia] serão revertidas”, disse Christakis. “As pessoas procurarão implacavelmente as interações sociais.”
Para já, o próximo ano testará a resistência do mundo em continuar a manter distância social, lavar as mãos, usar máscaras e evitar multidões.
“O nosso mundo mudou, há um novo patógeno mortal a circular, não somos as primeiras pessoas a enfrentar essa ameaça e muito será exigido de nós”, disse Christakis. “E vamos ter que crescer com isso.”
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