O mediático e multimilionário divórcio de Bill Gates é muito
mais do que apenas a separação de um casal ao cabo de 27 anos de vida em
comum. A ruptura com Melinda está a colocar o filantropo em xeque. Isto
porque trouxe à tona dados que podem denegrir a sua imagem e até
afectar a sua Fundação.
Entre os rumores que terão motivado o pedido de divórcio de Melinda Gates, surge a notícia de que Bill Gates foi investigado na Microsoft devido a suspeitas de assédio sexual.
Um porta-voz da empresa confirmou à Associated Press que a “Microsoft recebeu uma preocupação, na segunda metade de 2019, de que Bill Gates procurou iniciar um relacionamento íntimo com uma funcionária da empresa no ano 2000″.
“Um comité da direcção analisou a preocupação, ajudado por uma firma de advogados externa, para conduzir uma investigação completa.
Ao longo da investigação, a Microsoft forneceu apoio extensivo à
funcionária que levantou a preocupação”, aponta ainda aquela fonte.
Foi pouco depois disso que Bill Gates deixou o cargo
de presidente do conselho de administração da Microsoft em 2008. Em
Março de 2020, acabou por se afastar definitivamente da empresa,
argumentando que queria dedicar-se mais à sua Fundação.
Mas, mesmo antes de Março de 2020, os directores da Microsoft já teriam concluído que não seria recomendável que ele continuasse à frente da empresa que fundou em 1975, assegura a CNN.
Isto porque Bill Gates teria uma “reputação de conduta questionável em ambientes relacionados com o trabalho”, segundo revela o The New York Times.
Bill Gates “perseguiu mulheres que trabalhavam para ele”
O jornal assegura que, “em pelo menos algumas ocasiões”, Bill Gates
“perseguiu mulheres que trabalhavam para ele” na Microsoft e na sua
Fundação, citando testemunhos de “pessoas com conhecimento directo das
suas aberturas” para com essas colaboradoras.
Além disso, “funcionários actuais e ex-funcionários” alegam que Bill Gates “tinha um padrão de cortejar as mulheres no local de trabalho”, destaca o mesmo NYT.
Ao longo dos anos, o fundador da Microsoft terá estado envolvido em alegados casos de assédio a funcionárias.
Uma dessas situações terá ocorrido em 2006, após participar numa
apresentação de uma trabalhadora da Microsoft. Ele era, na altura, o
presidente da empresa, e terá enviado um email a essa funcionária a
convidá-la para jantar.
“Se isto te deixa desconfortável, finge que nunca aconteceu“, terá escrito Bill Gates na mensagem, conforme cita o NYT.
Mas haverá outros relatos de mulheres que falam de avanços semelhantes de Bill Gates.
O jornal refere ainda que seis actuais e ex-funcionários da Microsoft alegam que Bill Gates “era conhecido por fazer abordagens desajeitadas a mulheres dentro e fora do escritório”.
“O seu comportamento alimentou conversas generalizadas entre os funcionários sobre a sua vida pessoal”, constata o NYT.
Alguns destes funcionários notam que Bill Gates não parecia ter um comportamento “predatório” e que “não pressionou as mulheres
a submeterem-se aos seus avanços em prol das suas carreiras”. Mas esse
tipo de incidentes causavam “um ambiente de trabalho desconfortável”,
referem fontes da empresa ao NYT.
Este tipo de postura entra em choque com o empenho de Melinda Gates
na promoção do empoderamento feminino . Ela chegou a falar do facto de
muitas mulheres ainda enfrentarem “assédio sexual generalizado e
discriminação” no trabalho num artigo de opinião na revista Time.
O NYT aponta ainda que Bill Gates faria questão de que a sua voz fosse “dominante”
nas reuniões da Fundação que tem com a ainda esposa, chegando até a ser
“indiferente” para com Melinda, o que deixaria alguns dos funcionários
presentes desconfortáveis.
“Houve um caso há quase 20 anos”
Uma porta-voz de Bill Gates, Bridgitt Arnold, assegura ao NYT que “a alegação de maus-tratos a funcionários é falsa“, lamentando que “é extremamente desapontante que tenham sido publicadas tantas inverdades” sobre o divórcio.
“Os rumores e especulações em torno do divórcio de Gates estão a tornar-se cada vez mais absurdos,
e é uma pena que pessoas que têm pouco ou nenhum conhecimento da
situação sejam caracterizadas como ‘fontes’”, acrescenta Bridgitt
Arnold.
Mas a porta-voz de Bill Gates confirma que “houve um caso há quase 20 anos
que acabou amigavelmente”. “A decisão de Bill de fazer a transição para
fora do conselho não estava de forma alguma relacionada com este
assunto. Na verdade, ele já tinha manifestado interesse em dedicar mais
tempo à sua filantropia”, salienta ainda.
Amizade “tóxica” com Bill Epstein
A azedar a relação entre Bill Gates e Melinda terão estado também divergências quanto à forma como lidar com as denúncias de assédio sexual contra o gerente financeiro
do casal, Michael Larson. O fundador da Microsoft quis abafar o caso
após um acordo com as vítimas enquanto que Melinda queria a situação
investigada.
Além disso, Melinda não terá gostado do facto de Bill Gates manter uma relação de amizade com Jeffrey Epstein, mesmo após ele ter sido acusado de pedofilia e de traficar menores para prostituição.
Epstein morreu na prisão, em 2019, depois de ter sido condenado por alguns destes crimes.
Antes de Epstein ter sido detido, Bill Gates terá mantido relações
próximas com ele, nomeadamente indo jantar a sua casa, onde o primeiro
costumava estar rodeado de raparigas, algumas menores.
E há rumores de que Bill Gates terá mesmo pedido conselhos a Epstein de como poderia acabar com o seu casamento “tóxico”.
“Bill só se encontrava com Epstein para discutir filantropia“, garante contudo a porta-voz do fundador da Microsoft.
O NYT assegura que logo depois de a proximidade entre Bill Gates e
Epstein se ter tornado pública em 2019, Melinda contratou advogados de
divórcio.
O processo pode acabar por ter implicações sociais relevantes,
nomeadamente na estrutura da Fundação Bill e Melinda Gates que, desde
2000, já investiu quase 55 mil milhões de dólares em projectos em 135
países.
Entre 1998 e 2018, Bill Gates e Melinda contribuíram com mais de 36
mil milhões de dólares para a Fundação que também é financiada por
bilionários como Warren Buffett, entre outros doadores.
Falta saber se a nova imagem que se traça do filantropo e visionário
da tecnologia vai ter repercussões negativas para a Fundação.
Enquanto isso, espera-se que o acordo de divórcio supere o recorde de 35 mil milhões de dólares que Jeff Bezos pagou a MacKenzie Scott quando se separaram em 2019.
https://zap.aeiou.pt/divorcio-bill-gates-legado-403327