Desde que anunciou a candidatura a Presidente de França, o ex-jornalista Éric Zemmour, de 63 anos, está em queda nas sondagens. Mas o seu discurso típico de extrema direita consegue ser até mais inflamado do que o de Marine Le Pen, numa tentativa de conquista do eleitorado de direita contra Emannuel Macron.
As últimas sondagens colocam Éric Zemmour afastado de uma segunda volta eleitoral nas Presidências francesas do próximo ano, com apenas 13% das intenções de voto, atrás de Marine Le Pen (16%), da Frente Nacional, e de Valérie Pécresse (17%), do partido Les Républicains.
Assim, o ex-jornalista de 63 anos surge atrás das candidatas de direita, o que é em si uma grande ironia, considerando que Zemmour é conhecido pelas suas posições misóginas e sexistas.
Uma teoria que ele refuta, considerando que fica “desolado” por haver quem acredito nisso e notando que “é uma loucura”.
No recente debate com o actual ministro da Economia de Macron, Bruno Le Maire , no canal de televisão France 2, Zemmour sublinhou que essas críticas de sexismo reflectem a “mecânica de propaganda” contra si.
“Escrevi coisas e há quem as utilize contra mim, mas é o jogo”, apontou ainda, concluindo que o que vem nos livros que lançou tem de ser lido “no devido contexto”.
Além disso, frisou que o que, hoje em dia, ameaça as mulheres não são os seus discursos, mas “uma imigração desenfreada, violenta e impune”, referindo que há bairros, “e mesmo em Paris”, onde as mulheres “não podem usar saia”.
Mas o que é que Zemmour escreveu, afinal?
O ex-jornalista tem vários livros publicados de onde podem ser retiradas frases polémicas, com demonstrações claras de sexismo e um discurso que glorifica a violência masculina.
Uma das suas obras mais conhecidas é o ensaio “O primeiro sexo”, que lançou em 2006, num jogo com o título do livro “O Segundo Sexo” da escritora feminista Simone de Beauvoir. Zemmour definiu a obra como “um tratado sobre o saber-viver viril para uso de jovens gerações feminizadas”.
Nesta e noutras obras, o agora candidato presidencial escreveu frases como as seguintes:
“Há violência na relação sexual entre homem e mulher. É uma violência civilizada, claro. [O homem deve ser] um predador sexual civilizado. Há uma expectativa de virilidade, uma expectativa de violência”.
“Na sociedade tradicional, dominada pelos valores masculinos, as mulheres sofrem sem compreender, mas aceitam o seu destino. O seu destino.”
“[Nos anos 70] quando o jovem motorista de autocarro desliza a mão concupiscente sobre uma charmosa nádega feminina, a jovem não faz queixa por assédio sexual. A confiança reina.”
“O pelo é um traço, uma marca, um símbolo. Do nosso passado de homens das cavernas, da nossa bestialidade, da nossa virilidade. Da diferença dos sexos. Lembra-nos que a virilidade anda a par com a violência, que o homem é um predador sexual, um conquistador.”
Seis mulheres acusam Zemmour de abuso sexual
A juntar à polémica das suas obras, o jornal online Mediapart
divulgou, em Abril de 2021, que seis mulheres acusam Zemmour de abuso sexual, referindo palavras inadequadas, toques e beijos forçados.
Mas o candidato presidencial nunca foi acusado em processos judiciais.
Confrontado com estes dados, o antigo jornalista diz que “é palavra contra palavra”. “Não tenho que responder. É a minha vida privada”, referiu ainda no debate no France 2, contornando o assunto.
Contudo, Zemmour não se inibiu de referir que o movimento Metoo visa a “erradicação dos homens”.
Em Novembro de 2021, já depois de se ter assumido como candidato presidencial, chegou a dizer na antena da TF1 francesa que a sua candidatura é a que “melhor defende as mulheres”.
“Eu enervo-me, sou mediterrânico”
Sobre os incidentes violentos que têm marcado a sua campanha, Zemmour desvalorizou-os e recusa pedir desculpas pelas agressões dos seus apoiantes a elementos do SOS Racismo.
O próprio candidato foi
alvo de uma agressão, mas também foi captado a mostrar o dedo do meio.
“Eu enervo-me, sou mediterrânico, sou apaixonado”, apontou Zemmour na France 2, minimizando o seu comportamento.
Quanto à covid-19, mantém um discurso ambíguo, mas com ideias próximas dos movimentos anti-vacinas, manifestando-se “hostil à vacinação das crianças”. “Não podemos obrigar os pais a vacinar os filhos”, defendeu.
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