Segundo o Público, a tensão em torno da Rússia e da Ucrânia voltou a disparar com o regresso das hostilidades no Donbass.
Os bombardeamentos ocorridos na linha da frente da guerra, travada desde 2014, levaram os Estados Unidos e os seus aliados a alertar, uma vez mais, para a iminência de uma ofensiva russa sobre a Ucrânia.
Comparado com outros confrontos esporádicos que se registam periodicamente há vários anos entre o Exército ucraniano e as forças separatistas pró-russas no Leste da Ucrânia, os bombardeamentos desta quinta-feira nem foram dos mais destrutivos.
Não houve informação de mortes e o principal incidente foi a destruição parcial de um jardim-de-infância na localidade de Stanitsia Luhanska, na zona controlada por Kiev, em que ficaram feridas quatro pessoas.
As forças separatistas de Donetsk, citadas pelos órgãos de comunicação russos, dizem que a Ucrânia fez 93 disparos de morteiro ao longo do dia e que houve um civil ferido.
No entanto, num contexto de alarme elevado, os confrontos ganharam uma dimensão exacerbada por se aproximarem do tipo de operação que os serviços secretos norte-americanos têm antecipado há semanas como prelúdio de uma ofensiva.
Poucas horas depois de conhecidos alguns pormenores dos confrontos, o Presidente dos EUA, Joe Biden, disse ter razões para acreditar que a Rússia está envolvida numa “operação de bandeira falsa para criar uma desculpa” para iniciar uma invasão do território ucraniano, algo que pode acontecer “nos próximos dias”.
A urgência do momento levou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a alterar a sua agenda para intervir na reunião do Conselho de Segurança da ONU, onde expôs aquilo que acredita que Moscovo tem planeado.
“Primeiro, a Rússia planeia fabricar um pretexto para o seu ataque. Este pode ser um acontecimento violento pelo qual a Rússia vai responsabilizar a Ucrânia, ou uma acusação chocante que a Rússia vai apresentar contra o Governo ucraniano”, explicou Antony Blinken.
O secretário de Estado dos EUA deu exemplos como “a descoberta inventada de valas comuns, um ataque de drones encenado contra civis, ou um ataque falso, ou mesmo real, com recurso a armas químicas”.
Os alertas pelos EUA para planos orquestrados pelo Kremlin para poder justificar um ataque contra a Ucrânia têm sido frequentes nas últimas semanas, denotando a estratégia adotada pela Casa Branca de antecipar as ações da Rússia, esvaziando-as do potencial fator de surpresa.
Blinken deixou ainda um desafio à Rússia: “O Governo russo pode anunciar aqui hoje, sem equívocos ou desvios, que a Rússia não irá invadir a Ucrânia”.
A Rússia tem negado todas as acusações feitas por Washington, condenando o que diz ser a “histeria” ocidental, mas nunca rejeitou a hipótese de ser obrigada a defender militarmente os interesses russos no país vizinho.
Ainda recentemente, o Presidente russo, Vladimir Putin, fez referência ao “genocídio” da população russófona do Donbass.
Desta vez, o Kremlin acusou as forças ucranianas de “aumentar ainda mais a tensão” no Leste do país e disse que as palavras de Biden são “lamentáveis”.
As equipas de observadores ao serviço da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), responsáveis por monitorizar os confrontos no Donbass, deram nota de mais de 500 explosões desde a madrugada de quinta-feira, mas não forneceram mais detalhes.
Diplomacia afunda-se
A discórdia entre Washington e Moscovo mantém-se quanto ao posicionamento das tropas russas perto da fronteira da Ucrânia.
Os EUA, secundados pela NATO, dizem que a Rússia não só não fez recuar as suas forças, como está a aumentar o número de efetivos.
Um alto responsável da Administração Biden, falando sob anonimato, disse que a Rússia acrescentou mais sete mil soldados aos cerca de 150 mil que tem concentrados em vários pontos da fronteira ucraniana.
A acumulação de militares e equipamento das Forças Armadas russas ao longo de toda a fronteira com a Ucrânia, incluindo na Bielorrússia onde estão envolvidos em manobras conjuntas, é um fator crucial para aquela que já é descrita pela NATO como a maior crise de segurança na Europa desde o fim da Guerra Fria.
Esta semana, a Rússia disse que, tendo terminado os exercícios na região da Crimeia, começou a retirar as suas tropas da região.
Esta quinta-feira, o Ministério da Defesa deu mais pormenores sobre esta movimentação. O porta-voz Igor Konashenkov disse que unidades de logística do distrito militar ocidental regressaram à base de Dzerzhinsk, no centro da Rússia, enquanto outros batalhões voltaram às províncias da Chechénia e do Daguestão.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, explicou que a retirada dos soldados é “um processo que leva tempo”.
“Eles não podem simplesmente levantar voo e ir embora“, afirmou. O Governo russo também reafirmou que as unidades militares instaladas na Bielorrússia vão abandonar o país depois de dia 20, a data em que terminam os exercícios.
Os canais diplomáticos entre a Rússia e os EUA também parecem estar cada vez mais fechados, dificultando as hipóteses de vir a ser alcançada uma solução política para a crise.
A Rússia expulsou o embaixador-adjunto da embaixada norte-americana em Moscovo, Bart Gorman, como retaliação por uma decisão idêntica por parte das autoridades dos EUA, segundo o Kremlin.
O Kremlin fez chegar aos EUA a sua reação às propostas norte-americanas sobre a segurança europeia, acusando a Casa Branca de não ter dado “respostas construtivas” às preocupações manifestadas pela Rússia.
Moscovo quer garantias vinculativas de que a NATO não vai aceitar a adesão da Ucrânia e da Geórgia, e de que os militares norte-americanos na Europa de Leste sejam retirados – exigências rejeitadas por Washington e pelos seus aliados.
Perante a posição norte-americana, a Rússia diz estar preparada para adotar “medidas de natureza técnico-militares“, um termo já utilizado por Putin, mas que o Governo russo não especificou.
https://zap.aeiou.pt/confrontos-no-leste-da-ucrania-testam-limites-da-crise-com-moscovo-463318