A Europa tem visto aumentar de forma acentuada os casos de
covid-19, com alguns países a registar os números diários mais altos
desde o início da pandemia. Especialistas acreditam que as viagens
internacionais durante as férias contribuiu para esse crescimento.
Segundo
noticiou na quinta-feira a
Time,
Espanha, França e Alemanha registaram nas últimas semanas o maior
número de infeções diárias desde abril, tendo também aumentado as
viagens internacionais.
“As viagens internacionais foram muito importantes para propagar as infeções na Europa em fevereiro e março.
E teve um impacto importante no que vimos nas últimas seis semanas”,
disse Jennifer Beam Dowd, professora de demografia e saúde populacional
da Universidade de Oxford.
As medidas de contenção na primavera reduziram drasticamente a
propagação do vírus na Europa. Em meados de junho, a maior parte do
continente começou a reabrir as fronteiras aos viajantes para ajudar a
economia a se recuperar da crise económica.
Em Espanha, país europeu onde o vírus se tem propagado mais rapidamente, foram detetados nas últimas duas semanas mais de 78 mil novos casos,
elevando a taxa de infeção para 175,7 por 100 mil pessoas, em
comparação com 62,8 na França, 22,5 no Reino Unido e 20,3 na Alemanha,
segundo dados do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças, de
25 de agosto.
A Itália, por sua vez, registou 1.209 novos casos em 23 de agosto, a
primeira vez que o número ultrapassou 1.000 desde maio. A região do
Lazio – onde se localizam Roma e Lombardia -, liderou o país ao nível de
novos casos regionais.
Em 23 de agosto, a França registou 4.897 novos casos. Paris e Marselha
viram as taxas semanais de infeção subirem acima de 50 por 100 mil
habitantes – o limite que a Alemanha estipulou para o retorno às medidas
de contenção. O governo francês declarou em 14 de agosto essas duas
cidades como zonas de alto risco para o vírus.
Já a Alemanha registou, em 22 de agosto, 2.032 novos casos, o mais alto desde abril.
Mesmo Grécia, Malta e Croácia, que tiveram números relativamente
baixos de infeção na primavera, sofreram um aumento de casos nas últimas
duas semanas. As estatísticas oficiais gregas, divulgadas no início de
agosto, sugerem que 10% das novas infeções estão relacionadas ao
turismo.
O aumento das viagens, combinado com a diminuição das restrições,
“quase de certeza” levou a um aumento nos casos, indicou Martin McKee,
professor de saúde pública europeia na Escola de Higiene e Medicina
Tropical de Londres. Os europeus normalmente têm férias entre o final de
julho e agosto.
O aumento mais recente de casos em França foi acentuado em Paris e em
cidades do sul, como Nice, Toulouse e Marselha. “Isso é representativo
de pessoas que se deslocaram de uma área de alta transmissão para uma
mais baixa, desencadeando um surto”, referiu Nathalie MacDermott,
professora clínica de doenças infeciosas no King’s College London.
Os surtos do continente europeu refletem “um grande número de pessoas
que se reúnem em espaços internos mal ventilados”, apontou. Num resort
turístico, onde as pessoas vêm de muitos lugares diferentes, “a
probabilidade de alguém ser infetado aumenta”, sublinhou. As discotecas
são “muito propícias” à propagação de um vírus, visto que “muitas vezes
são mal ventilados e é quase impossível haver distanciamento social”, continuou.
Para tentar controlar esses surtos, governos de vários países
europeus impuseram novas restrições locais, fecharam bares e aumentaram
os esforços de rastreamento.
Em Espanha, por exemplo, o primeiro-ministro Pedro Sánchez anunciou
em 25 de agosto que 2.000 membros das Forças Armadas passariam a ajudar a
rastrear pessoas que estiveram em contato com outras infetadas.
Em 21 de agosto, as autoridades de Madrid recomendaram que os
residentes das áreas mais atingidas ficassem em casa e na Catalunha as
reuniões sociais foram limitadas a 10 pessoas e em Murcia a seis. “Os bloqueios locais são o caminho a seguir”, disse Nathalie MacDermott.
Itália, por seu lado, fechou em 17 de agosto as discotecas do país e
tornou obrigatório o uso de máscara, mesmo em algumas áreas ao ar livre.
“Não podemos anular os sacrifícios feitos nos últimos meses”, disse o
ministro da Saúde, Roberto Speranza.
Na França, as autoridades enviaram 130 agentes da polícia a Marselha,
em 17 de agosto, para ajudar a cumprir a obrigatoriedade do uso de
máscara, que deve ocorrer em todos os espaços de trabalho fechados,
incluindo escritórios, corredores, salas de reunião e vestiários, a
partir de 01 de setembro.
O Reino Unido e a Noruega expandiram a lista de países para os quais
os visitantes devem ficar em quarentena por 14 dias na chegada. Nas
últimas semanas, o Reino Unido colocou Espanha, França, Croácia nessa
lista, removendo Portugal. A França, por sua vez, colocou o Reino Unido na lista de quarentena a 15 de agosto.
A partir de 13 de agosto, a Itália passou a exigir que as todas
pessoas que permaneceram ou transitaram pela Croácia, Grécia, Malta ou
Espanha façam o teste à covid-19, nas 72 horas antes da entrarem no país
ou nas 48 horas após terem entrado.
Ainda é seguro viajar pela Europa?
Os especialistas acreditam que, caso os visitantes sejam cautelosos e
evitem atividades de alto risco – como a deslocação a bares e
discotecas lotados – as viagens podem ser seguras. O sistema de teste
aplicados em países como a Itália são podem ser particularmente
eficazes, frisaram.
“O teste pode reduzir a necessidade de quarentena”,
indicou Martin McKee. É “muito provável que pessoas que deveriam estar
em quarentena não o estejam relamente a fazer”. Pesquisas realizadas
pelo departamento que lidera sugerem que os testes na chegada e sete
dias depois ajudariam a detetar cerca de 96% dos casos.
Visto que as viajens obrigam a espaços fechados, “faz sentido
limitá-las o máximo possível, mas não acho que possamos justificar
proibições gerais”, concluiu, acrescentando que é “absolutamente
crucial” que os governos implementem “um sistema abrangente de
localização, teste, rastreamento, isolamento e suporte” para detetar os
surtos o mais rapidamente possível.
https://zap.aeiou.pt/aumentam-casos-coronavirus-europa-turismo-causa-343316