A pandemia de covid-19 afetou toda a gente, mas tem sido
particularmente difícil para os invisuais, que são mais propensos a
sofrer de depressão e solidão.
De acordo com um relatório
do Royal National Institute of Blind People (RNIB), dois terços dos
indivíduos com deficiência visual sentem que se tornaram menos
independentes desde o início do confinamento – e tal pode ter um impacto
negativo na saúde mental.
Meredith Wilkinson, professora de Psicologia da Universidade de Montfort, no Reino Unido, escreveu um artigo, publicado no The Conversation,
no qual defende que os ajustes que muitas empresas e espaços públicos
implementaram nos espaços como medida de prevenção podem tornar os
lugares mais difíceis para os cegos se movimentarem.
Os invisuais criam representações espaciais dos ambientes nas suas
cabeças. Se um determinado ambiente foi alterado para ajudar a controlar
o novo coronavírus, as modificações podem interromper os mapas mentais.
No Reino Unido, o número de invisuais que frequentam lojas sozinhos
diminuiu para metade durante o confinamento (caiu de 28% para 14%). Ao
mesmo tempo, a proporção de pessoas que dependem de outra para fazer
compras aumentou de menos de um quinto (18%) para quase a metade (49%).
Para remediar o problema, Wilkinson propõe que as lojas passem a oferecer um serviço de click-and-collect ou que não façam alterações no espaço.
Segundo o artigo assinado pela professora universitária, outra razão
pela qual os deficientes visuais têm saído e interagido menos com
pessoas é a preocupação com o distanciamento social.
Ter uma deficiência visual torna mais difícil evitar o contacto
próximo com as pessoas, e não manter a distância social deixa os
invisuais vulneráveis a críticas, além de aumentar o risco de contrair
covid-19.
Meredith Wilkinson destaca que os serviços de saúde mental
estão a prestar um serviço muito importante aos deficientes visuais
durante a pandemia, principalmente àqueles que se sentem isolados.
O Royal National Institute of Blind People tem à disposição
um serviço de aconselhamento especializado de apoio emocional, e está
também a criar mais oportunidades para pessoas invisuais comunicarem com
outras pessoas, através da Internet ou por telefone.
Independentemente dos esforços, Wilkinson refere que estes serviços visam colmatar os sintomas do isolamento, mas não a causa.
Por isso, defende, “é fundamental que tudo o que for implementado
enquanto recuperamos da pandemia permita às pessoas recuperarem também a
sua independência”.
https://zap.aeiou.pt/pandemia-independencia-invisuais-343088
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