Um general do Burundi anunciou nesta quarta-feira a destituição do
presidente Pierre Nkurunziza, em viagem à Tanzânia para uma cúpula
regional sobre a crise em seu país, onde a situação permanecia incerta.
De acordo com a presidência do Burundi, o golpe de Estado, liderado por
um grupo de militares "amotinados", foi "frustrado". Mas é impossível
saber imediatamente quem controla o país, que enfrenta desde 26 de abril
um movimento de contestação à candidatura de Nkurunziza a um terceiro
mandato em 26 de junho.
As manifestações contra o chefe de Estado, no poder desde 2005, têm sido marcadas pela violência, que deixou vinte mortos.
Imagens transmitidas nas redes sociais mostravam manifestantes
comemorando no centro e nos bairros da capital Bujumbura,
confraternizando com os militares. Na noite desta quarta-feira, poucos
policiais eram vistos na cidade, onde grupos de manifestantes gritavam,
com galhos de árvores nas mãos em sinal de paz, "vitória, nós
vencemos!".
Uma autoridade leal ao presidente disse à AFP que "negociações" estavam
em andamento entre legalistas e golpistas para encontrar uma solução
que preserve os "interesses nacionais". Ambos os lados estão "de acordo
em não derramar o sangue dos habitantes", assegurou.
Segundo a presidência da Tanzânia, o presidente Nkurunziza deixou no
final na tarde a capital econômica Dar es Salaam para retornar a
Bujumbura, onde o líder dos golpistas, o general Godefroid Niyombare,
ordenou o fechamento das fronteiras e do aeroporto.
Ele pediu ainda "a todos os cidadãos e às forças de ordem que fossem ao
aeroporto para garantir sua segurança". A principal rota de acesso ao
aeroporto, a poucos quilômetros ao norte da cidade, foi bloqueada por
policiais que, muito nervosos, impediam a passagem de qualquer pessoa.
O presidente Nkurunziza viajou a Dar es Salaam para uma reunião
extraordinária dos chefes de Estado da Comunidade do Leste Africano
(Burundi, Quênia, Uganda, Ruanda, Tanzânia).
Seus colegas tanzaniano Jakaya Kikwete, queniano Uhuru Kenyatta,
ugandês Yoweri Museveni e de Ruanda, Paul Kagame, que discutiram a
situação de seu país, condenaram o golpe em andamento e solicitaram o
adiamento das eleições legislativas, marcadas para 26 de maio, e
presidenciais, em 26 de junho, dizendo que "as condições não eram
propícias à realização de eleições".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu urgentemente que todas as
partes mostrem calma e moderação no país, segundo seu porta-voz,
Stéphane Dujarric.
"Seguimos avaliando a evolução em terra de uma situação que muda
rapidamente", acrescentou o porta-voz, indicando que a ONU acompanha a
situação com grande inquietação.
Por sua vez, o conselheiro para a comunicação de Nkurunziza, Willy
Nyamitwe, assegurou que "a tentativa de golpe havia sido frustrada" e
que os golpistas foram "perseguidos pela polícia para serem levados à
justiça".
Em Bujumbura, a sede da rádio-televisão nacional permanecia nesta tarde
sob o controle de pessoas leais ao presidente, que enfrentaram milhares
de manifestantes.
O equilíbrio de poder dentro do exército entre legalistas e golpistas
continua desconhecido, mas os militares, que têm desempenhado um papel
moderador desde o início da crise, desfrutam da simpatia de muitos
manifestantes, inversamente à polícia, acusada de estar a serviço do
partido no poder e de pactuar com sua liga da juventude "Imbonerakure",
descrita pela ONU como uma milícia.
A tentativa de golpe de Estado é conduzida por um ex-companheiro de
armas do chefe de Estado na ex-rebelião hutu, o Cndd-FDD, que se tornou o
partido no poder desde o fim da longa guerra civil (1993-2006) entre a
maioria hutu e a minoria tutsi, dominante no exército.
"O presidente Pierre Nkurunziza foi destituído de suas funções, o
governo foi dissolvido", anunciou na rádio Insaganiro o ex-general
Nyombare.
Ele havia sido destituído em fevereiro pelo chefe de Estado depois que
recomendou ao presidente não disputar o terceiro mandato, considerado
inconstitucional por seus adversários políticos.
O ex-general afirmou que está disposto a formar um "comitê para a
restauração da harmonia nacional", uma entidade temporária que terá como
missão, entre outras coisas, a "restauração da unidade nacional e a
retomada do processo eleitoral em um ambiente pacífico e justo".
"Peço a todos que respeitem a vida e as propriedades dos outros", acrescentou Nyombare.
Esta mensagem foi transmitida pela rádio privada RPA (Rádio Pública
Africana), a mais ouvida do país, que voltou a funcionar na terça-feira à
tarde depois de ter sido fechada em 27 de abril pelas autoridades que a
acusaram de retransmitir chamadas para protestar.
Personalidade respeitada e considerado um homem de diálogo, o general
Nyombare havia se tornado após a guerra civil chefe adjunto do
Estado-Maior e chefe do Estado-Maior do Exército. Nomeado em dezembro de
2014 como chefe do Serviço de Inteligência Nacional (SNR), ele foi
afastado três meses mais tarde.