A cada 200.000 a 300.000 anos, os pólos magnéticos da Terra invertem-se, num fenómeno de turbulência invisível. Um novo estudo revelou agora alguns dos detalhes da última inversão.
As rochas que já foram derretidas mantiveram um registo do campo magnético da Terra à medida que se solidificaram. A magnetostratigrafia estuda o registo de inversões geomagnéticas contidas nessas rochas, uma vez que, ao datá-las, os cientistas conseguem construir uma linha do tempo das inversões da Terra.
A última inversão, conhecida como inversão geomagnética de Matuyama-Brunhes, foi analisada durante vários anos. Os investigadores queriam perceber quando é que tinha acontecido e quanto tempo durou.
Um recente estudo, publicado na Progress in Earth and Planetary Science, explica que os fluxos de lava são um indicador confiável da orientação dos pólos no momento em que a lava se solidificou, mas não conseguem fornecer um cronograma.
Segundo os cientistas, os fluxos de lava são muito úteis quando se trata de compreender o campo magnético da Terra no momento da solidificação. “No entanto, as sequências de lava não podem fornecer registos paleomagnéticos contínuos devido à natureza das erupções esporádicas”, explicou o autor Haneda em comunicado citado pelo Science Alert.
Alguns depósitos de sedimentos podem fornecer um resgisto mais detalhado. Um deles é o da secção de compósitos de Chiba, no Japão.
“Neste estudo, recolhemos novas amostras e conduzimos análises paleomagnéticas e de rochas magnéticas de amostras da secção de compósitos de Chiba, uma sucessão marinha contínua e expandida no centro do Japão, para reconstruir a sequência completa da inversão geomagnética de Matuyama-Brunhes”, disse Haneda.
A secção de compósitos de Chiba contém o registo sedimentar marinho mais detalhado da inversão geomagnética de Matuyama-Brunhes e serve como padrão internacional para o limite inferior da subsérie do Pleistoceno Médio e do Estágio Chibano – quando o Homo sapiens emergiu como uma espécie.
Além de pólens bem preservados e micro e macrofósseis marinhos, a região contém camadas de piroclastos, um material fragmentário produzido por erupções vulcânicas, normalmente conhecidas como cinzas vulcânicas. Segundo os cientistas, Chiba fornece a estrutura cronoestratigráfica mais confiável do período em torno da inversão de Brunhes-Matuyama.
As novas descobertas vão contra as conclusões de outras investigações, especialmente no que diz respeito ao tempo de inversão. Alguns estudos sugerem que demorou vários milhares de anos, enquanto outros sugerem que a inversão foi concluída num período de uma vida humana.
As diferentes estimativas de tempo dependem, em grande parte, de onde é que os cientistas reúnem as suas evidências. Este estudo, baseado na secção de compósitos de Chiba, concluiu que demorou cerca de 20.000 anos, incluindo um período de instabilidade de 10.000 anos que levou à inversão.
“Os nossos dados são um dos registos paleomagnéticos mais detalhados durante a inversão geomagnética de Matuyama-Brunhes, e oferecem uma visão profunda do mecanismo da inversão geomagnética”, rematou Haneda.
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