O Presidente brasileiro, um dos líderes mundiais mais céticos em relação à pandemia, afirmou, esta quinta-feira, que a “melhor vacina” contra a covid-19 é o próprio vírus, que já matou quase 190 mil pessoas no país.
“Eu tive a melhor vacina: foi o vírus. E sem efeito colateral”, disse Jair Bolsonaro – que contraiu o novo coronavírus em julho –, a um grupo de apoiantes, a grande maioria sem máscara, durante a sua visita à cidade de São Francisco do Sul, no estado de Santa Catarina, na fronteira com a Argentina.
Tal como já fez nos últimos dias, o Presidente brasileiro voltou a reunir-se com apoiantes sem recorrer ao uso de equipamentos de proteção contra a covid-19 e chegou a declarar a um dos seus seguidores que “não usa” esse tipo de material.
O chefe de Estado costuma reunir-se com os seus ministros, participar em eventos públicos e receber apoiantes fora do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial em Brasília, sem usar máscara ou sem manter o distanciamento social.
Desde o início da pandemia no Brasil, registada oficialmente no país em fevereiro, Bolsonaro minimizou em várias ocasiões a gravidade do novo coronavírus, que chegou a classificar de “gripezinha”, embora tenha reconhecido na semana passada que se houve “extrapolações ou exageros” foi no intuito de encontrar uma solução para a pandemia.
O líder também defendeu o uso de tratamentos sem comprovação científica para combater a doença, como a hidroxicloroquina, e, mais recentemente, opôs-se à obrigatoriedade da vacina, que acabou por ser determinada pelo Supremo Tribunal Federal do país.
Esta semana, Bolsonaro criticou ironicamente a vacina do consórcio Pfizer-BionTech, ao dizer que aquele fabricante se eximiu de responsabilidades pelos possíveis efeitos colaterais do imunizante.
“Lá, no contrato da Pfizer, está bem claro: nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito secundário. Se você se tornar num jacaré, o problema é seu“, publicou o chefe de estado na rede social Twitter.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (189.220) e mais de 7,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
São Paulo diz que CoronaVac é eficaz, mas adia publicação de dados
As autoridades do estado brasileiro de São Paulo informaram que a potencial vacina chinesa contra a covid-19 CoronaVac é eficaz, mas adiaram novamente a divulgação dos dados que comprovam a alegada eficácia do imunizante.
Segundo o Instituto Butantan, centro de investigação científica de São Paulo que coordena a testagem da Coronavac no Brasil, foi o próprio Sinovac Biotech, laboratório chinês que criou a vacina, que impediu a divulgação dos dados, devido a uma cláusula no contrato.
“Temos um contrato com a Sinovac que especifica que o anúncio deste número precisa de ser feito em conjunto, no mesmo momento. Então, ontem [terça-feira] apresentámos esses números à nossa parceria que, no entanto, solicitou que não houvesse a divulgação do número pelo motivo que eles necessitam analisar cada um dos casos para poder aplicá-los à agência NMPA [Associação Nacional de Produtos Médicos], que é a agência reguladora da China”, disse o diretor do Butantan, Dimas Covas.
Segundo as autoridades de São Paulo, o estado brasileiro mais afetado pela pandemia de Covid-19, o laboratório chinês quer unificar e equalizar os dados com os ensaios feitos noutros países, como a Turquia e a Indonésia, para evitar que índices diferentes sejam divulgados.
Em conferência de imprensa, Dimas Covas afirmou que, além de comprovar que a vacina é segura, o estudo da fase três mostrou que o imunizante tem uma eficácia superior a 50%, recusando-se, porém, a revelar esse índice.
“Recebemos também os dados de eficácia. Nós atingimos o limiar da eficácia que permite o processo de solicitação de uso de emergência da vacina, seja aqui no Brasil, seja na China”, declarou Covas.
Já o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, informou que a eficácia da Coronavac calculada pelo estudo do Butantan foi diferente da eficácia verificada em outros países em que a vacina foi aplicada, podendo ter sido essa discrepância nos dados que motivou o atraso na divulgação final, segundo a imprensa local.
“Eles [Sinovac] entenderam o facto de nós termos eficácia superior a isso [50%], porém, diferente de outros países em que essa vacina está em uso, merecendo uma reavaliação”, explicou Gorinchteyn.
“Não pode haver uma eficácia aqui, uma lá e outra acolá. É isso que a própria empresa entendeu. Ela quer isonomia. Ela quer que todos os resultados sejam iguais, sem nenhuma disparidade”, completou.
O adiamento dos dados que comprovam a eficácia gerou desilusão e protestos junto dos brasileiros, que fizeram notar o seu descontentamento ao longo da transmissão da conferência de imprensa nas redes sociais: “Lamentável este novo adiamento”, “triste, estava esperançosa”, “O Butantan não sabia dessa cláusula do contrato antes?”, “que desilusão fazerem essa conferência de imprensa sem dados”, escreveram alguns cibernautas.
Esta não é a primeira vez que a divulgação é adiada. A previsão inicial era a de que os dados fossem apresentados a 15 de dezembro, no entanto, a data passou para esta quarta-feira, sendo adiada novamente e sem que haja uma previsão oficial para a efetiva difusão do relatório.
O Butantan tinha também previsto para ontem o envio dos dados de eficácia à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador brasileiro. A taxa mínima recomendada pela Anvisa como parâmetro de proteção para aprovação da vacina é de 50%.
A Coronavac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac e que será produzida pelo Butantan, já havia demonstrado ser segura e capaz de provocar resposta imune em até 97% dos participantes de etapas anteriores do estudo feitas na China.
O secretário de Saúde do estado de São Paulo disse ainda que, apesar do atraso, a vacinação no estado terá início a 25 de janeiro.
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