A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de
Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca oferece proteção limitada contra a
variante detetada na África do Sul, indicam resultados preliminares de
um estudo que será publicado na segunda-feira.
A investigação realizada por especialistas das universidades de
Oxford e da sul-africana de Witwatersrand – cujas descobertas foram
avançadas, no sábado, pelo jornal britânico Financial Times – mostrou que a vacina tem uma eficácia limitada contra essa mutação.
A variante do coronavírus SARS-CoV-2 detetada na África do Sul
(chamada B1351) é uma das que mais preocupam atualmente os cientistas,
juntamente com as identificadas no Reino Unido (B117) e no Brasil
(B1128).
No Reino Unido foram detetados mais de cem casos de infeções com a variante B1351.
Um porta-voz da AstraZeneca esclareceu à imprensa local que nesta
“pequena fase I / II do ensaio clínico, os resultados preliminares
mostraram eficácia limitada contra sintomas leves e moderados causados principalmente pela variante sul-africana B1351″.
A farmacêutica indicou que ainda não foi capaz de determinar
adequadamente se a vacina evitaria a doença de uma forma mais grave e
hospitalizações causadas pela mutação, já que a maioria dos
participantes – duas mil pessoas – era na sua maioria adultos jovens e
saudáveis.
Contudo, o porta-voz adiantou que existe a confiança de que oferece proteção contra casos graves, pois cria anticorpos neutralizantes semelhantes aos de outras vacinas.
Na sexta-feira, o investigador-chefe dos testes de vacinas
Oxford-AstraZeneca, Andrew Pollard, revelou que essa mesma preparação é eficaz no combate à variante detetada no Reino Unido.
No mesmo dia, representantes do serviço de saúde britânico indicaram
que os exames para rastrear na Inglaterra a variante detetada na África
do Sul podem levar até duas semanas.
O secretário de Estado da vacinação do governo de Boris Johnson
apressou-se, no entanto, a recordar que a vacina é eficaz nas variantes
dominantes no Reino Unido e que poderá ainda assim ser “eficaz contra doenças graves, hospitalização e morte”.
“Em termos de outras variantes, fora do Reino Unido, temos que estar
cientes de que mesmo quando a vacina teve eficácia reduzida na prevenção
da infeção, ainda pode haver uma boa eficácia contra doenças graves,
hospitalização e morte. Isso é de vital importância para proteger o
sistema de saúde”, afirmou Nadhim Zahawi, citado no Telegraph.
O ministro anunciou ainda aquilo que pode ser uma solução para aumentar a eficácia da vacina da AstraZeneca: uma terceira dose.
Sarah Gilbert, que esteve envolvida no desenvolvimento da vacina de Oxford, disse à BBC que ainda não está pronta para vacinar as pessoas, mas está a ser desenvolvida.
“É fácil adaptar a tecnologia, desenvolver uma nova vacina que terá
de passar uma pequena quantidade de testes clínicos, mas não a mesma
quantidade que foi realizada no passado”, explica a cientista
acrescentando que o objetivo é ter a “nova versão pronta para uso no
outono”.
Zahawi e o diretor-geral adjunto de Saúde de Inglaterra, Jonathan Van-Tam, acreditam que o futuro passará por “vacinações anuais” ou “reforços no outono” e que o estudo realizado com a variante sul-africana pode “levar a uma mudança de estratégia”
O controlo do coronavírus deve ser feito através de vacinas ajustadas
às variantes que surjam ao longo do tempo, tal como acontece anualmente
com a vacina contra o vírus da gripe, que é a anualmente modificada,
afirmam.
O Reino Unido continua a avançar com o seu programa nacional de
vacinação em direção à sua meta de imunizar 15 milhões de cidadãos até
ao próximo dia 15.
Até ao momento, mais de 11 milhões de pessoas já foram vacinadas.
De acordo com os últimos dados oficiais, o país registou 18.262 novas
infeções e 828 mortes pelo vírus, elevando o número total de mortes
para 112.192 desde o início da pandemia.
Portugal deverá receber as primeiras doses desta vacina na próxima terça-feira.
África do Sul suspende vacinação
A África do Sul anunciou este domingo a suspensão temporária
do seu programa de vacinação covid-19 após este estudo ter demonstrado
uma eficácia “limitada” da vacina AstraZeneca/Oxford contra a variante
do novo coronavírus detetada no país.
O programa de vacinação deveria começar nos próximos dias com um
milhão de vacinas desenvolvidas pela farmacêutica AstraZeneca em
parceria com a Universidade de Oxford.
O estudo, realizado pela Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo
e que ainda não revisto pelos pares, diz que esta vacina oferece
“proteção limitada contra formas moderadas da doença causada pela
variante detetada da África do Sul em adultos jovens”.
“Este é um problema temporário, temos de suspender
as vacinas AstraZeneca/Oxford até termos resolvido estes problemas”,
disse o ministro da Saúde, Zweli Mkhize, numa conferência de imprensa
online.
De acordo com os resultados preliminares, esta vacina é apenas 22% eficaz contra formas moderadas do vírus e ainda não estão disponíveis resultados sobre a sua eficácia contra formas graves.
A África do Sul, oficialmente o país mais afetado do continente, com
mais de 1,5 milhões de casos e mais de 46 mil mortes atribuídas a
covid-19, recebeu o seu primeiro carregamento de um milhão de vacinas na
segunda-feira.
Espera-se a entrega de 500 mil doses adicionais em fevereiro.
Todas estas são vacinas AstraZeneca/Oxford produzidas pelo Sérum
Instituto da Índia. Estas primeiras doses destinavam-se principalmente
aos 1,2 milhões de profissionais de saúde.
“Nas próximas quatro semanas, teremos as vacinas Johnson & Johnson e Pfizer”, disse Mkhize.
Estão também em curso discussões com outros laboratórios, incluindo o
da Moderna e o fabricante russo das vacinas Sputnik V, acrescentou.
O ministro sul-africano anunciou recentemente que tinha reservado 20 milhões de vacinas Pfizer/BioNTech.
As 1,5 milhões de vacinas Astrazeneca/Oxford obtidas pela África do
Sul, que expirarão em abril, serão mantidas até que os cientistas deem
indicações claras sobre a sua utilização, explicou.
“A segunda geração de vacinas para combater todas as variantes levará
mais tempo a produzir”, avisou o Salim Abdool Karim, epidemiologista e
co-presidente do comité científico do departamento de Saúde da África do
Sul.
A África do Sul planeia vacinar pelo menos 67% da população até ao final do ano, ou cerca de 40 milhões de pessoas.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.310.234 mortos no
mundo, resultantes de mais de 105,7 milhões de casos de infeção, segundo
um balanço feito pela agência francesa AFP.
https://zap.aeiou.pt/astrazeneca-menos-eficaz-variante-africa-378894