Conhecida como “ilha da prostituição”, Watakano já foi considera um pequeno paraíso sexual. No seu auge, do final dos anos 70 a meados dos anos 80, homens faziam um curta viagem de barco até ao local, onde um quarto dos 270 residentes eram prostitutas.
No meio do negócio do sexo a economia da ilha também acabou por prosperar. Eram muitos os homens que frequentavam o local com a intenção de encontrar prostitutas, mas as suas constantes visitas acabaram por enriquecer outras áreas económicas e fazer do local um pequeno paraíso.
Já as jovens que se prostituíam podiam ganhar até dois milhões de ienes por mês, o que hoje equivale a cerca de 22 mil euros.
Segundo o VICE, por norma, os residentes da ilha não eram profissionais do sexo e por isso os seus negócios centravam-se na administração de mercearias, cafés e complexos de apartamentos. A ilha Watakano desfrutou de décadas de riqueza económica.
Quase três décadas depois, quase nenhuma trabalhadora de sexo reside em Watakano. Hoje em dia, quem por lá passa, depara-se com bares de karaoke vazios e os corredores silenciosos são uma lembrança do passado vibrante da ilha.
“Graças às meninas, os residentes da ilha poderem ter uma vida rica. É por isso que o negócio foi protegido durante tanto tempo”, disse Mizuho Takagi, um escritor de 45 anos que pesquisou extensivamente sobre Watakano.
Em paralelo com a crise económica, o declínio da ilha deveu-se em grande parte a uma mudança nas leis. Em 1998, o Japão legalizou os serviços de prostituição. “Agora, basta uma chamada e os serviços sexuais estão ao dispor. Não há razão para ir até a ilha”, referiu Takagi.
Outro fator prende-se com o facto do número de bombeiros, polícias e funcionários públicos, que visitavam regularmente a ilha, ter também diminuído em 2015. As autoridades reprimiram a prostituição na ilha e forçaram muitas trabalhadoras a procurar trabalho em outras partes do país, revelou o escritor.
Embora a ilha de Watakano seja sinónimo de prostituição, o local era conhecido entre 1600 e 1800, por abrigar os marinheiros que viajavam de Osaka para Edo (antiga Tóquio) e que paravam na ilha quando o mar estava muito agitado.
Os residentes aproveitaram esse tráfego para vender os produtos aos marinheiros, limparem os seus uniformes e prepararam comida para estes. Com o tempo, um lucrativo comércio sexual começou a crescer.
No entanto, a ilha também carrega uma reputação sombria. Várias histórias de jovens desaparecidas, possivelmente vítimas de tráfico humano, prejudicaram ainda mais a fama do local.
Takagi recorda que conversou com uma vítima de tráfico durante a sua pesquisa e descreve como esta conseguiu fugir depois de ser vendida. “O namorado sugeriu que fizessem uma viagem à ilha. Enquanto estava na casa de banho, ele desapareceu e uma dona de um bordel apareceu para lhe dizer: ‘acabaste de ser vendida por 2 milhões de ienes’”, contou o escritor.
De acordo com Takagi, a geografia da Ilha Watakano facilitou que os traficantes mantivessem as mulheres sequestradas, sendo que a única maneira de fugir era de barco. Embora algumas vítimas tenham conseguido nadar 500 metros até a ilha principal, outras ficaram presas por vários anos.
Muitas das mulheres eram tailandesas e pediram dinheiro emprestado para ir para o Japão em busca de oportunidades, mas tiveram que pagar as suas dívidas através de trabalho sexual.
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