O bispo católico de Como, em Itália, afirmou ter sugerido a um jovem padre suspeito de pedofilia que pagasse 20 mil euros à suposta vítima para encerrar uma investigação interna ao caso ocorrido numa residência da Igreja no Vaticano.
O bispo, monsenhor Oscar Cantoni, que ordenou o padre Gabriele Martinelli – acusado de na adolescência ter violado um outro adolescente numa residência da Igreja na Cidade do Vaticano, até que este atingisse a sua maioridade – foi ouvido em tribunal na quinta-feira.
Cantoni, cuja diocese é responsável pela residência, defendeu a reputação de Martinelli apesar “das tendências homossexuais transitórias ligadas à adolescência”, antes de ser padre, sublinhando que depois de ordenado o seu comportamento foi irrepreensível.
Cantoni disse ter pedido ao acusado que pagasse 20 mil euros à suposta vítima, mais 5 mil euros para as custas de uma investigação interna conduzida pela diocese de Como, na sequência de denúncias de comportamento “sexualmente impróprio”.
As quantias não foram pagas e aguarda-se agora o resultado do julgamento criminal em curso.
Iniciado em outubro, o processo visa esclarecer o sucedido no pré-seminário Santo Pio X, residência de crianças e adolescentes em Roma, onde são recrutados os acólitos para as missas na Basílica de São Pedro, frequentemente celebradas pelo Papa.
Hoje com 28 anos, o padre Martinelli é acusado de ter durante vários anos abusado de um adolescente com menos um ano do que ele, de quem apenas se conhecem as iniciais, L.G..
Os factos terão tido início em 2007, quando Martinelli tinha 14 anos e a suposta vítima 13, prolongando-se até 2012, quando o agora padre tinha 19, portanto já maior de idade.
Já ouvido pelo tribunal, Martinelli, que agora trabalha num centro para idosos na região da Lombardia, afirmou que as acusações são infundadas.
Na quarta-feira, duas testemunhas ex-residentes do pré-seminário relataram ter visto Martinelli, quando ainda não era padre, tocar nas partes íntimas de outros residentes, durante jogos, sem que tenham assistido a abusos mais graves.
As testemunhas relataram ainda um “ambiente doentio” na residência, marcado por “humor de natureza sexual” e “fortes pressões psicológicas”.
Ainda por ouvir no processo estão a suposta vítima e o seu companheiro de quarto, o polaco Kamil Tadeusz Jarzembowksi, que em 2017 afirmou a um jornalista italiano que Martinelli regularmente visitava o quarto durante a noite para ter relações sexuais com o adolescente, que “se sentia obrigado a ceder às suas exigências”.
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