Depois de 15 meses em Itália, o Papa Francisco regressou às
viagens pastorais com uma visita de quatro dias ao Iraque, uma viagem
inédita de um líder da Igreja Católica ao Iraque.
O Papa Francisco desafiou todas as recomendações e
viajou até um país que tem sido marcado pela violência inter-religiosa e
étnica ao longo das últimas quase duas décadas.
No primeiro discurso público, esta sexta-feira, Francisco frisou que
só pode haver um futuro democrático e pacífico no Iraque se todas as
comunidades, incluindo os cristãos, tiverem os seus direitos
assegurados.
“É indispensável assegurar a participação de todos os grupos políticos, sociais e religiosos e garantir os direitos fundamentais de todos os cidadãos. Que ninguém seja considerado cidadão de segunda classe”, disse o Papa Francisco, citado pela Renascença.
“A Santa Sé não se cansa de apelar às Autoridades competentes no
Iraque, como noutros lugares, para que concedam a todas as comunidades
religiosas reconhecimento, respeito, direitos e proteção”, repetiu.
EM Bagdad, Francisco encontrou-se com o clérigo católico e reconheceu
a beleza da variedade de ritos e de tradições litúrgicas no país.
Apesar disso, apelou a que a diferença não fosse um obstáculo à unidade.
“As diversas Igrejas presentes no Iraque, cada qual com o seu secular
património histórico, litúrgico e espiritual, são como tantos fios de
variegadas cores que, entrelaçados conjuntamente, compõem um único
belíssimo tapete, que não só atesta a nossa fraternidade, mas remete
também para a sua fonte, pois o próprio Deus é o artista que idealizou
este tapete, que o tece com paciência e prende cuidadosamente
querendo-nos sempre bem entrelaçados entre nós, como seus filhos e
filhas”, afirmou.
“Como é importante este testemunho de união fraterna num mundo que se
vê frequentemente fragmentado e dilacerado pelas divisões!”,
acrescentou o Papa.
A viagem de Francisco à Terra de Abraão é histórica e
representa um regresso da Igreja Católica a um lugar que, apesar de
estar associado aos momentos fundacionais do Cristianismo, não é seguro
para os cristãos.
Papa encontra-se com principal líder xiita do Iraque
O Papa Francisco encontrou-se, este sábado, com o principal líder religioso xiita, o aiatolah Ali al-Sistani, em Najaf, um gesto considerado histórico nas relações entre o Vaticano e o Islão, sem a presença de câmaras.
Francisco foi visto a entrar na modesta casa de Al Sistani, num dos
bairros humildes de Najaf, cercado por forças de segurança. Foi o
primeiro ato do dia do Papa, que esta sexta-feira chegou ao Iraque para
uma visita de três dias, tornando-se o primeiro papa a visitar este
país.
Como alguns especialistas apontaram há alguns dias, Francisco teve
que respeitar o protocolo e tirar os sapatos antes de entrar no quarto
de al-Sistani. A dúvida é se al-Sistani, que normalmente fica sentado ao
receber os visitantes, se levantou para receber Francisco, gesto que nunca teria tido.
Ali al-Sistani disse ao Papa Francisco que os cristãos no Iraque deveriam viver em paz
e com todos os direitos, de acordo com um comunicado do gabinete de Al
Sistani. Foram também divulgadas fotografias do encontro entre os dois
líderes religiosos, que ocorreu sem a presença da imprensa, em que
Francisco, vestido de branco, e Al-Sistani, de preto, são vistos em dois
sofás da modesta casa do líder xiita.
Al-Sistani enfatizou o papel que a autoridade religiosa tem desempenhado em “proteger todos aqueles que sofreram injustiças e danos
nos últimos anos, especialmente durante os quais terroristas tomaram
grandes áreas em várias províncias iraquianas, onde cometeram atos
criminosos”.
O líder xiita fez alusão ao período, entre 2014 e 2017, em que o
grupo sunita jihadista Estado Islâmico (EI) ocupou grande parte do
Iraque e estava prestes a chegar à capital Bagdade.
Durante o encontro, segundo o comunicado, abordaram “os grandes
desafios que a humanidade enfrenta neste momento e o papel da fé” e
fizeram referência específica às “injustiças, assédios económicos e
deslocamentos sofridos por muitos povos” da região, “especialmente o
povo palestiniano nos territórios ocupados” por Israel.
Finalmente, Al-Sistani enfatizou o “papel que os grandes líderes religiosos e espirituais devem desempenhar para conter todas essas tragédias”.
Durante este encontro, não houve um documento comum como o assinado
em Abu Dhabi, há dois anos, pelo Papa e pelo xeque egípcio Ahmad
al-Tayyeb, Grande Imã de Al-Azhar, a maior instituição sunita, no Cairo,
e que foi uma das os principais passos nas relações entre o Islão e o
catolicismo.
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