Fotos e vídeos mostram polícias na fronteira a carregar contra migrantes e a usar objectos semelhantes a chicotes. A Casa Branca já condenou a situação e promete que vai investigar o sucedido.
Pareciam imagens do tempo da escravatura, mas são de 2021. Várias testemunhas e vídeos partilhados nas redes sociais mostraram polícias montados a cavalo e com chapéus de cowboy a carregar contra migrantes na fronteira com o México, no Texas, e um até estava a usar um objecto semelhante a um chicote, escreve o El Paso Times.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, respondeu à situação. “Já vi algumas das imagens. Não tenho o contexto todo. Não posso imaginar em que contexto é que aquilo é apropriado. Acho que ninguém que tenha visto as imagens ache que é aceitável ou apropriado”, afirmou.
Sobre um possível despedimento do agente em causa, Psaki responde que “é óbvio que não devem poder voltar a fazer isto“.
O chefe da patrulha da fronteira também já condenou o incidente e disse que foi aberta uma investigação para se garantir que não houve uma resposta “inaceitável” das forças policiais. Raul Ortiz acrescenta que os agentes estão a trabalhar em condições difíceis, onde tentam garantir a segurança dos migrantes e procurar potenciais traficantes.
O Secretário de Segurança Interna explicou que as rédeas longas usadas pelos polícias garantem o “controlo do cavalo” aos agentes. “Mas vamos investigar os factos“, referiu Alejandro Mayorkas numa conferência de imprensa.
As representantes Democratas Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar também já condenaram a situação, tendo a primeira dito que “não faz diferença se um Democrata ou um Republicano é Presidente, o nosso sistema de imigração é criado para ser cruel e desumanizar os imigrantes”. Já Omar, que é ela própria uma refugiada, fala em “abusos dos direitos humanos, pura e simplesmente”.
Um dos vídeos em causa mostra os polícias a mandar os migrantes, maioritariamente oriundos do Haiti, de volta para o México. “Vocês usam as vossas mulheres? É por causa disto que o vosso país é uma merda, vocês usam as vossas mulheres para isto”, gritou um dos agentes.
Milhares de migrantes têm atravessado a fronteira do México com os Estados Unidos nos últimos dias e acamparam debaixo de uma ponte no Rio Grande. O campo acolheu temporariamente cerca de 16 mil pessoas – segundo Greg Abbott, Governador do Texas.
Desta vez, a chegada aos EUA foi ainda mais rápida do que a de outras caravanas porque muitos atravessaram o México de autocarro em vez de a pé. Muitos migrantes têm de cruzar constantemente a fronteira entre Ciudad Acuña, no México, e o campo em Del Rio para comprar comida e bens essenciais, que são escassos no lado norte-americano.
“Estamos com dificuldades aqui. A nossa família envia-nos dinheiro mas não podemos comer. Temos crianças, mas não temos fraldas. Agora tenho de ir ao México com dinheiro molhado para poder comprar alguma coisa para as crianças. Precisamos de ajuda“, apelou um migrante.
As condições ficaram ainda mais complicadas devido ao calor. Na segunda-feira, as temperaturas chegaram aos 40 graus e muitos migrantes foram vistos com grandes sacos de gelo na cabeça enquanto atravessavam as águas do rio de regresso ao lado dos EUA.
“Este tratamento que nos estão a dar é racista, é por causa da cor da nossa pele“, afirmou Maxon Prudhomme, migrante haitiano, citado pela Reuters.
Os migrantes vêm de vários países da América do Sul e Central, tendo alguns vindo de tão longe como o Chile, mas a maioria é oriunda do Haiti, que está a viver uma grave crise criada pelo recente terramoto, e tem também problemas com a violência de gangues, a pobreza extrema e a instabilidade política depois do assassinato do Presidente.
Biden mantém política de Trump
Apesar disto, os Estados Unidos deram início àquela que pode ser a maior e mais rápida operação de repatriamento dos últimos anos. Mais de 6000 migrantes já foram retirados do campo e vários aviões já os levaram para o seu país de origem, tendo 320 haitianos aterrado em Port-au-Prince no domingo. São esperados mais seis esta terça-feira e o México vai também avançar com deportações.
Os EUA querem agora fazer sete voos diários a partir de quarta-feira. Estas expulsões rápidas foram possibilitadas por uma política de Donald Trump que permite a retirada imediata de migrantes por causa da pandemia, que a administração de Joe Biden está a manter, excepto no caso de crianças que estejam sozinhas.
O único paralelo de uma expulsão em massa desta escala foi em 1992, quando a guarda costeira americana interceptou refugiados haitianos no mar, disse Yael Schacher, um representante da Refugees International, à AP.
“Como é que nos puderam trazer de volta aqui? Isto é uma injustiça. Nem sei onde vamos dormir hoje à noite. Se o Biden continuar com estas deportações, ele não é melhor que o Trump. Tenho medo pelo minha segurança aqui. Já nem reconheço este país”, contou Johnson Bordes, um migrante de 23 anos, ao Washington Post.
Estes repatriamentos começaram depois do aviso emitido por Alejandro Mayorkas, que descreveu a crise migratória como “uma situação desafiante e comovente”. “Se vierem para os Estados Unidos ilegalmente, vão ser devolvidos. A vossa viagem não vai ter sucesso e vão estar a arriscar as vossas vidas e das vossas famílias”, avisou.
https://zap.aeiou.pt/tratam-nos-assim-cor-pele-policias-432933