Segundo o Diário de Notícias, na campanha para as presidenciais francesas de 2017, Emmanuel Macron negou a teoria de que era homossexual. Agora, a quatro meses de tentar a reeleição, o alvo das teorias da conspiração é a sua mulher.
Nas redes sociais espalha-se o rumor de que Brigitte Macron, de 68 anos, nasceu Jean-Michel Trogneux, o seu apelido de solteira, e escondeu a mudança de sexo. A primeira dama resolveu processar os responsáveis.
Emmanuel Macron, de 44 anos, oficialmente ainda não é candidato a presidente, mas nada indica que não o será.
Jean Ennochi, o advogado da primeira dama francesa, confirmou à AFP que “ela decidiu iniciar os procedimentos, e está em curso”, sem avançar mais pormenores. Em princípio, a queixa será por difamação, mas nem esse pormenor foi explicado.
A diferença de idades entre Macron, que fez 44 anos na semana passada, e Brigitte, de 68 anos, sempre foi motivo de falatório, tendo em conta que o presidente conheceu a atual mulher quando ainda era adolescente e ela era a sua professora de Teatro, casada e já mãe de três filhos.
Brigitte Macron divorciou-se em janeiro de 2006, e casou com Emmanuel Macron em outubro de 2007.
Mas esses rumores já são antigos e o atual falatório vai muito mais além, e chega a incluir referências a uma alegada pedofilia. O hashtag #JeanMichelTrogneux tornou-se mesmo um dos mais usados no Twitter em França.
A história começou a tornar-se viral em outubro, depois de ter saído na edição desse mês da newsletter de extrema-direita Faits et Documents, onde não é raro encontrar teorias da conspiração e textos antissemitas. Na versão online da revista, já há cinco dossiers dedicados ao “Mistério Brigitte Macron”.
Na origem da “investigação” está a jornalista Natacha Rey, que terá sido a primeira, logo em março, no seu Facebook, a abordar a teoria de que a mulher de Macron tinha nascido homem, segundo a AFP.
Essa informação terá sido depois partilhada por outro utilizador desta rede social, que alegou que a primeira dama era uma “transgénero satanista pedo-criminosa“, uma expressão que vai ao encontro das conspirações do movimento QAnon, dos EUA, e das alegações de que o mundo é governado secretamente por uma elite pedófila.
Em novembro, o hashtag chegou ao Twitter pelas mãos do Le Journal de La Macronie, crítico do presidente francês. A partir de dezembro ganhou força, passando de 35 referências a 6 de dezembro, para mais de 13 mil, três semanas depois.
Este domingo, havia mais de 570 referências e, antes do Natal, o hashtag já tinha sido partilhado 68300 vezes e angariado mais de 17 mil gostos, apesar de estes números incluírem também aqueles que o usam para criticar a teoria da conspiração.
Natacha Re, que alegadamente investigou o caso durante três anos, deu uma entrevista a Amandine Roy, que tem um blogue e um canal de YouTube.
Afirmou que as provas da mudança de género da primeira dama estavam “num envelope selado depositado com um advogado cujo nome é bem conhecido” e que seriam tornadas públicas “no dia em que a vacinação se tornar obrigatória“.
Apoiantes do candidato de extrema-direita Eric Zemmour, assim como críticos da vacinação, estão entre os que mais partilham a teoria, segundo os media franceses.
Na entrevista só se ouve a voz de Natacha, e o vídeo desapareceu do YouTube, mas ainda é possível encontrá-lo noutros sites.
A 22 de dezembro, Amandine Roy escreveu no seu blogue que três polícias lhe tinham aparecido à porta com uma convocatória para prestar declarações imediatas, por causa da sua entrevista, e que Natacha tinha sido detida.
No Facebook não escreveu nenhuma mensagem desde o dia 13 de dezembro, mas foram publicados comunicados em seu nome a dizer que está bem.
A estratégia que supostamente prova a mudança de género de Brigitte Macron passa por fotos de diferentes partes do corpo da primeira dama, ou até mesmo fotomontagens.
Brigitte Macron não é o primeiro alvo deste tipo de teorias. Já outras mulheres poderosas, como a ex-primeira dama Michelle Obama ou a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, foram acusadas de serem transexuais.
No caso da primeira dama francesa, fala-se de uma mulher muito mais velha do que o marido, uma afro-americana numa posição de grande poder e uma mulher que, aos 37 anos, se tornou na mais jovem chefe de governo do mundo.
Além da notícia de que iria abrir um processo contra os responsáveis por espalhar a notícia, não houve qualquer outra reação de Brigitte Macron ao caso.
A primeira-dama e o marido passaram o Natal com os três filhos dela, Sébastien, Laurence e Tiphaine, e os sete netos, Camille, Paul, Elise, Aurélie, Emma, Thomas e Alice, no Forte Brégançon, no sul de França.
O casal deve continuar até depois da Passagem do Ano no retiro oficial dos presidentes franceses desde 1968, sendo que em 2020 tinham passado o Natal separados, porque Brigitte apanhou covid-19.
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