As instalações da Podium, uma empresa de software para empresas, em Utah, um estado norte-americano, estão repletas de infraestruturas de apoio aos seus trabalhadores, tais como cantinas e espaços destinados à prática de exercício físico. No entanto, há outro serviço ainda mais valorizado, considerado, inclusive, indispensável: as creches destinadas para os filhos dos funcionários, as quais recebem crianças mesmo quando os pais estão em teletrabalho.
“Se eu tivesse de procurar um infantário nas imediações de minha casa, provavelmente teria de estar 18 meses em lista de espera“, explicou Bryce Hunt à revista Businessweek. A Podium é apenas uma das mais de mil empresas dos Estados Unidos da América a estabelecer parcerias com redes de creches para oferecer cuidados de crianças subsidiados, como é o caso da Bright Horizon.
“O serviço era visto como um algo exclusivamente para cuidar de crianças e servia para atrair trabalhadores nos processos de recrutamento e até para os manter“, explicou Stephen Kramer, diretor-executivo da Bright Horizon. “Agora, também somos vistos como um motivo para os profissionais voltarem ao escritório“, acrescentou. De acordo com a Business Insider, mais de metade da população norte-americana vive nos chamados “desertos de cuidados infantis“, ou seja, zonas onde o rácio de crianças inscritas em lista de espera para creches ou infantários é de pelo menos três para um.
Isto força os pais – sobretudo as mães – a trabalhar menos horas ou a abandonar o mercado de trabalho para conseguirem tomar conta dos filhos.
O Utah, estado das instalações da Podium, tinha, em 2018, a mais alta percentagem de população a viver nos “desertos de cuidados infantis” (77%), mais do que qualquer outro território no país – de acordo com dados do Centro para o Professo Americano.
Ainda de acordo com a Business Insider, o número de empregos em creches ou infantários ainda não recuperou dos picos pré-pandémicos, o que constituirá uma carência de mais de 108 mil funcionários. Este constitui um cenário bola de neve, já que perante a falta de funcionários no setor infantil, muitos pais também optam por não regressar ao mercado de trabalho, piorando o cenário de falta de mão-de-obra que a economia norte-americana tem vindo a enfrentar.
“Com níveis de mão-de-obra baixos, para onde se manda as crianças? Se não tiveres um lugar seguro para elas irem, não vais regressar ao trabalho e isso vai afetar desproporcionalmente as mulheres”, explicou Jasmine Tucker, investigadora do Centro Nacional de Direto das Mulheres.
Os especialistas estimam que o custo dos cuidados infantis oferecidos pela rede Bright Horizons seja de dois mil dólares mensais, mas com as empresas a assumirem entre 25% a 50%, estas ficam numa posição de oferecer melhores salários do que as suas concorrentes. Por outro lado, a maioria das empresas de cuidados infantis nos Estados Unidos não recebe qualquer tipo de apoio governamental, com muitas a reportarem prejuízos e a fecharem atividade após a pandemia.
Muitas empresas do setor estão expectantes para perceber até que ponto serão beneficiadas pelo Build Back Better, a legislação de Joe Biden que visa melhorar, reconversão e criação de infraestruturas nos Estados Unidos da América.
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