O metaverso de Pequim não se foca em mundos virtuais onde as pessoas se reúnem para sessões de videojogos ou chats virtuais com os amigos.
Semanas antes de Mark Zuckerberg anunciar a mudança do nome da sua empresa, para se focar no “metaverso”, Pequim deu luz verde para a criação do Comité para a Indústria do Metaverso.
De acordo com o
Público, o grupo, que junta membros da academia e do setor empresarial, deve acelerar o desenvolvimento tecnológico do país, incluindo a criação de novas redes de mundos virtuais.
“O metaverso é um novo campo de batalha para a inovação“, sintetizou Yu Jianing, presidente executivo do Comité para a Indústria do Metaverso, em declarações ao
China Daily, um jornal detido pelo Partido Comunista Chinês.
Tal como com a Internet, Pequim quer definir as suas próprias regras para o metaverso, um conceito que ganhou fama devido a Mark Zuckerberg, mas que foi cunhado na década de 1990 por um escritor norte-americano, que queria definir um novo mundo virtual imersivo, a três dimensões, dependente de inteligência artificial.
Enquanto Zuckerberg vê o metaverso como um espaço virtual onde as pessoas podem jogar videojogos, participar em reuniões e falar com amigos e familiares, Pequim tem outros planos.
As gigantes chinesas Tencent e a Alibaba já detêm impérios colossais online, onde milhões de pessoas se juntam para falar, jogar, trabalhar e gastar dinheiro.
“O maior potencial do metaverso são as capacidades industriais”, salientou o presidente do comité do metaverso, Yu Jianing.
O líder descreve uma realidade em que todas as fábricas têm uma espécie de “gémeo digital”, onde engenheiros, designers e especialistas em todo o mundo se podem juntar para trabalhar. O que é feito na fábrica virtual deve ser replicado no mundo real.
Novas regras em Pequim
Não é por acaso que a criação de um comité dedicado ao metaverso chega numa altura em que o Partido Comunista Chinês está a apertar o cerco às gigantes tecnológicas do país.
Nos últimos meses, o Governo de Xi Jinping aumentou a regulação de vários setores, incluindo o dos videojogos e das comunicações, para controlar as empresas mais influentes do sector privado chinês, como é o caso da Tencent.
As gigantes dos videojogos têm agora, por exemplo, de garantir que os menores de idade não passam mais do que uma hora a utilizar os seus serviços nos fins de semana e feriados. Nos outros dias, nem devem aceder.
Parte do foco da regulação vem do facto de o Governo chinês querer que as empresas se foquem noutras tecnologias.
Em vez de videojogos, chatbots e compras online, Pequim quer que as empresas invistam em semicondutores e inteligência artificial.
“Xi não quer saber se as pessoas recebem as refeições 14% mais rapidamente”, explica Jude Blanchette, analista do think tank Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, em entrevista ao gigante financeiro
Goldman Sachs.
A prioridade, diz Blanchette, é orientar as empresas “para setores de alta prioridade como os semicondutores, a inteligência artificial, os circuitos integrados e a robótica”.
Pequim também quer garantir que o metaverso não põe em causa a segurança nacional. No final de 2021, o Instituto Chinês de Relações Internacionais Contemporâneas, um think tank apoiado pelo Ministério da Segurança do Estado da China, publicou um
relatório em que destacava a importância do metaverso para a segurança do Estado e as ameaças de cibersegurança.
A capacidade de obter dados em tempo real de espaços físicos e utilizá-los em mundos virtuais pode ajudar no planeamento de estratégias segurança.
“[Este mundo virtual] pode potenciar um sistema paralelo para tomar decisões“, explica Jason Bruzdzinski, especialista em estratégia chinesa que integra a Mitre, uma organização sem fins lucrativos que apoia várias agências governamentais dos EUA, em entrevista ao
Telegraph.
Como tal, nem todas as empresas chinesas poderão ter um lugar neste novo mundo de realidade virtual.
Apesar de centenas de patentes estarem a ser pedidas, muitas propostas estão a ser rejeitadas pelo órgão governamental responsável pela propriedade intelectual.
Patentes de gigantes como a Alibaba, a Baidu, o TikTok e a Tencent ainda estão a ser avaliadas.
A competição internacional não parece preocupar o Governo de Xi Jinping. A lista das dez maiores empresas do mundo a pedir patentes para aplicações de realidade virtual e aumentada, duas tecnologias fundamentais no metaverso, inclui seis empresas chinesas, incluindo a Huawei, a Tencent e a Baidu.
Os dados são da analista chinesa
IPRDaily, uma plataforma que recolhe e divulga dados sobre a propriedade intelectual em todo o mundo.
A principal preocupação de Pequim parece ser garantir que as empresas trabalhem para a infraestrutura das cidades.
No final de 2021, Xangai anunciou um plano de cinco anos para desenvolver tecnologias relacionadas com o metaverso. Desde então, cidades como Wuhan e Anhui, e a província Zhejiang também se juntaram.
Em janeiro, a Universidade de Comunicação da China anunciou a sua entrada num metaverso com um campus digital, a três dimensões, que pode ser explorado pelos estudantes através de computadores e óculos de realidade virtual.
https://zap.aeiou.pt/china-entra-na-corrida-do-metaverso-mas-a-meta-e-outra-461198