Governo chinês tem apostado numa estratégia de zero casos, o que significa que cidades inteiras são colocadas em isolamento quando surge um único caso. Uma das brechas ao sistema implementado são os visitantes que chegam do exterior, pelo que estão a ser construídas novas infraestruturas para estes poderem fazer quarentena quando chegam ao país.
Em dezembro de 2019, a China, com especial destaque para a província de Wuhan, foi o primeiro país a sentir as consequências da pandemia — que na altura ainda não o era — da SARS-CoV-2. Os relatos e as imagens que nos chegavam davam conta de cidades inteiras confinadas como forma de limitar a propagação de um vírus sobre o qual muito pouco sabia, para além de que estava a provocar uma onda da pneumonias mortais como os médios nunca viram.
Quase dois anos volvidos, e com os principais focos de infeções a transferirem-se para o ocidente, a China tem vindo a tentar o que os especialistas classificam como a estratégia de zero casos, ou seja, sempre que um único caso de covid-19 é detetado as autoridades regionais decretam um confinamento rigoroso nas localidades onde entendem ser provável que exista risco de contágio. Esta tem sido a abordagem desde, sensivelmente, o início do segundo semestre de 2020 e sempre que se regista um surto.
Como não poderia deixar de ser, os indivíduos que chegam ao país — os poucos que estão autorizados a fazê-lo — estão também obrigados a cumprir um severo regime de isolamento, o qual, na cidade de Guangzhou, deveria ser feito em quartos de hotéis escolhidos pelas autoridades locais. No entanto, o vírus parecia encontrar sempre brechas por onde escapar.
Em junho, a província de Guangdong, onde fica a cidade de Guangzhou ou Shenzhen, conseguiu conter um destes surtos, mas os responsáveis pela monitorização da pandemia rapidamente informaram que mais teria de ser feito para que episódios do género fossem evitados num território responsável por receber cerca de 90% dos visitantes provenientes do exterior — sejam eles estrangeiros ou chineses que queiram regressar a casa, o que significava cerca de 30 mil pessoas em isolamento nos cerca de 300 equipamentos designados para o efeito.
Uma das medidas implementadas foi a ou construção de um complexo com 5 mil quartos, com uma área correspondente a 46 campos de futebol e onde deverão trabalhar 4 mil funcionários do setor da saúde. Tudo para que seja possível acolher os visitantes e garantir que o vírus não escapa para a população — que, desta forma, acaba por estar mais distante do que com a solução anterior.
Para além das dimensões do complexo, batizado Estação Internacional de Saúde de Guanghou, há outras características suas que impressionam. Por exemplo, cada um dos quartos está equipado com uma câmara vídeo, um termómetro que funciona por inteligência artificial e as refeições são servidas aos hóspedes por robôs, de forma a reduzir o contacto humano ao mínimo possível. “É muito provavelmente o centro de quarentena mais moderno e sofisticado do mundo“, descreveu Yanzhong Huang, colaborador para a área da saúde no departamento de relações internacionais da autoridade local.
Este é, no entanto, apenas a primeira de muitas infraestruturas do género que o Governo pretende construir no país. O processo de construção de um complexo semelhante em Donggguan já está a decorrer — deverá ter 2 mil quartos — e a próximo na lista deverá ser Shenzhen, dois hubs do país que recebem com frequência visitantes com o intuito de fazer negócio do mercado chinês.
“Esta não é apenas uma medida provisória. Os responsáveis chineses acreditam que esta pandemia vai demorar algum tempo a terminar, pelo que a China vai continuar a fazer um controlo apertado das suas barreiras”, explicou Huang. “Estruturas como esta são uma forma de institucionalizar a estratégia de zero casos“, referiu à CNN.
Na China, todos os visitantes provenientes do exterior eram obrigados a cumprir uma quarentena de duas semanas num hotel, seguidas de mais uma em instalações do Estado chinês ou, no caso dos cidadãos chineses, em contexto domiciliário — mesmo aqueles com vacinação completa. Recentemente, o período inicial foi revisto para 21 dias.
Nas vésperas da abertura do complexo — que demorou menos de três meses a construir —, os primeiros de 184 trabalhadores da área da saúde destacados para trabalhar no complexo já começam a chegar. Pela frente terão períodos de trabalho de 28 dias e antes de regressarem a casa terão, também eles de cumprir uma semana de quarentena, seguida de outras duas semanas de isolamento nas suas residências para poderem sair.
Apesar da grande dimensão da infraestrutura, os responsáveis estimam que esta fique com lotação completa rapidamente. “Se considerarmos que um voo internacional transporta, em média, 300 pessoas, com todas elas a ter que fazer quarentena durante 21 dias, é fácil perceber que vai ficar cheio rapidamente”, apontou. Huang.
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