O Presidente francês Emmanuel Macron exortou na terça-feira os europeus a “saírem da sua ingenuidade” no cenário mundial e a afirmarem a sua independência perante os Estados Unidos (EUA).
Segundo o Washington Post, este é um dos sinais de que a crise diplomática provocada pelo pacto AUKUS – anunciado há duas semanas – pode ter repercussões de longa duração nas relações transatlânticas. Numa conferência de imprensa para revelar um acordo de defesa franco-grego, Macron disse que os europeus deveriam ser “respeitados”.
“Há pouco mais de 10 anos, os EUA estão muito focados em si mesmos e têm interesses estratégicos que estão a ser reorientados para a China e para o Pacífico”, referiu, acrescentando: “Eles têm o direito de fazer isso”, mas “seríamos ingénuos, ou melhor, cometeríamos um erro terrível se não quiséssemos arcar com as consequências”.
O pacto AUKUS colocou fim a um acordo através do qual a Austrália compraria embarcações francesas a diesel. O ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Jean-Yves Le Drian, classificou o incidente como uma “quebra de confiança entre os aliados”, ordenando aos embaixadores franceses que retornassem dos EUA e da Austrália.
Na semana passada, Macron e o Presidente dos EUA, Joe Biden, falaram por telefone, com a França a indicar que enviaria o seu embaixador de volta a Washington. Em declaração, ambos afirmaram que os EUA “reconhecem a importância de uma defesa europeia mais forte e capaz, que contribua positivamente para a segurança transatlântica e global e seja complementar à NATO”.
Na terça-feira, Macron referiu que EUA são “um aliado histórico” e que “esse continuará a ser o caso”. O foco europeu na sua própria defesa seria complementar e não constituiria uma “alternativa à aliança com os EUA”, sublinhou.
Na conferência desta terça-feira, Macron e o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, destacaram o aprofundamento da cooperação de defesa entre ambos os países, anunciando que a Grécia comprará navios de guerra franceses por cerca de 2,9 mil milhões de euros e que criarão uma parceria de defesa conjunta.
Mas para Nicholas Dungan, membro do Conselho do Atlântico, alcançar “autonomia estratégica – em tecnologia, cibernética, inteligência, em hardware militar – é um objetivo muito, muito elusivo” para a Europa. “Os EUA não vão levar isso a sério e muitos países europeus também não vão acreditar”, indicou.
“O objetivo da Europa (…) não deve ser a independência máxima, mas a interdependência máxima. Torne os EUA mais dependentes da Europa e tornará a Europa mais poderosa, não menos”, concluiu.
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