De acordo com o The Guardian, mais 2.6 mil milhões de dólares foram gastos em duas semanas de setembro, durante leilões de duas prestigiadas instituições de Nova Iorque. Em causa estavam quatro trabalhos de Vicent van Gogh, os quais foram vendidos por 71.4 milhões de dólares.
Em maio, a pintura In This Case de Jean-Michrl Basquiat, de 1983, com dois metros de altura, tornou-se a obra a ser transacionada por um valor mais elevado em 2021, envolvendo nada mais nada menos do que 93 milhões de euros. Com o aproximar do fim do ano, em Novembro, a venda de 35 trabalhos da Coleção de Macklowe – onde constavam obras de Andy Warhol, Jackson PPollock and Mark Rothko, entre outros – superou o os 676 milhões de dólares.
“O mercado da arte está certamente a espicaçar. E acho que o público para a arte é maior do que alguma vez foi. Estamos a ver níveis recorde nos 277 anos de história da nossa empresa”, descreveu Charles Stewart, diretor executivo da Sotheby, uma leiloeira.
Esta opinião é corroborada por mais especialistas do mercado da arte, que dizem que a procura foi beliscada em 2020, como efeito da pandemia, mas que também esta permitiu que algumas das obras mais procuradas fossem colocadas à venda. “Tem havido um nível extraordinariamente alto de material a chegar ao mercado e que está a despertar a atenção dos compradores”, explicou ainda Stewart.
Esta tendência também se aplica, por exemplo, às esculturas. Exemplo disso foi a venda da Hamilton Aphrodite, uma peça romana datada um ou dois séculos d.C, a qual estabeleceu um novo recorde mundial para uma antiga escultura de mármore ao ser vendida em Nova Iorque por 25 milhões de dólares, superando em 3 milhões de dólares as estimativas para o valor da sua venda.
Este crescimento também é visível nos lucros das leiloeiras, que em 2021 chegaram a novos níveis . No caso da Sothebys, o valor chegou a 1 bilião de dólares pela primeira vez.
No entanto, há novos atores no jogo. Em março, a obra First 5,000 Days de Mike Winkelmann, um artista digital conhecido por Beeple, atingiu o preço de 68 milhões de dólares em Março, o que fez dele “um dos três artistas vivos mais valiosos”, segundo a Christies. “É verdade que o mercado está a atingir números recorde e a ultrapassar as expectativas de muitas pessoas”, explicou Katharine Arnold, responsável pela arte do pós-guerra e contemporânea da Christie.
É, ainda assim, possível denotar um comportamento distinto para as obras mais antigas com menos procura – as vendas registaram uma queda de 20% face a dezembro de 2019.
De acordo com Relatório do Mercado da Arte Contemporânea, nos 12 meses anteriores a junho foram vendidos 2.7 mil milhões de arte contemporânea, o que representa um mercado “mais forte, mais diverso e denso do que anteriormente”.
Do ponto de vista dos especialistas, estes surgimento pode atribuir-se a pelo menos três fatores, que se podem sobrepor: os compradores do mundo das criptomoedas; o crescimento do mercado asiático e a crença de que a arte é um bom investimento num momento económico de particular incerteza.
De facto, as pessoas que construíram fortunas a partir das criptomoedas e outras formas de tecnologia estão atualmente a participar no mundo da arte em “elevados níveis”. “São jovens e globais”, descreveu Stewart. Como resposta a esta tendência, a Sotheby aceitou, em Novembro e pela primeira vez, licitações em criptomedas durante a venda de duas obras de Banksy, as quais foram vendidas por 14.7 milhões de dólares.
Como tal, Arnold não tem problemas em admitir que os pagamentos em criptomoedas se tornaram alternativas viáveis para o dinheiro tradicional.
Já no que respeita ao mercado asiático, os seus compradores constituíram 40% das vendas do mercado da arte contemporânea nos 12 meses anteriores a junho de 2021, ultrapassando os norte-americanos (32%) e os britânicos (16%). Segundo o mesmo relatório o mercado asiático “tornou-se efetivamente a primeira zona do mundo para a troca de obras de arte contemporâneas. Já de acordo com a Sotheby e a Christie, os compradores asiáticos constituem um terço das principais vendas internacionais.
Finalmente, e relativo à última justificação, há uma procura dos investidores por “formas de arte tangíveis que tenham valor inerente” numa altura em que a inflação tem vindo a crescer, descreveu a especialista.
“Eu não acho que isto seja uma bolha, de todo. As condições do mundo atualmente estão de uma forma que a arte continua a ser uma fonte de valor. E há criação de riqueza constantee novos compradores a entrar no mercado a toda a hora”, acrescentou.
É ainda de registar o aumento de 50% no que respeita às compras e licitações por parte de millennials nas vendas de outubro da Christies. “Se os baby boomers costumavam comprar agressivamente nos últimos anos, estamos a começar a ver uma transformação geracional, e isso significa que o crescimento não vem apenas de novos mercados como a Ásia, vem também de mercados tradicionais nos quais entram as novas gerações.”
https://zap.aeiou.pt/venda-de-obras-de-arte-bateram-recordes-em-2021-a-boleia-das-criptomoedas-455120