Numa conferência de imprensa no final da reunião do colégio de comissários europeus, Frans Timmermans, vice-presidente executivo da Comissão Europeia e responsável pela pasta da Acção Climática, avançou com a previsão de que os 27 vão cortar em 66% as compras de gás natural à Rússia ainda este ano.
A União Europeia quer assim apostar na compra de gás a outros países e no uso de energias renováveis, como o hidrogénio verde, como alternativa para poder reduzir a dependência energética de Moscovo.
“A guerra de Putin na Ucrânia veio demonstrar a urgência de resolver as nossas vulnerabilidades e acelerar a nossa transição para as energias limpas. Ficou perfeitamente claro que somos demasiados dependentes da Rússia para satisfazer as nossas necessidades energéticas”, avançou Timmermans.
O responsável admite que há dificuldades, mas que a Europa já tem um plano para conseguir substituir 100 mil milhões de metros cúbicos de gás natural que comprou à Rússia em 2021 — quase 70% do total — até ao fim de 2022.
“Com mais importações de gás natural liquefeito, podemos substituir 60 mil milhões de metros cúbicos de gás natural russo nos próximos doze meses. Com a duplicação da produção sustentável de biometano, podemos substituir mais 18 mil milhões de metros cúbicos, utilizando a Política Agrícola Comum para ajudar os agricultores a converterem-se em produtores de energia”, sublinhou.
A aposta na produção e importação de hidrogénio verde também é um factor-chave que vai exigir um desenvolvimento na infraestrutura de armazenamento e distribuição, que é ainda muito assimétrica entre os 27. “Vinte milhões de toneladas de hidrogénio verde podem substituir 50 mil milhões de metros cúbicos de gás russo”, afirmou o comissário europeu.
Até ao fim de 2022, quase 25% da produção energética na UE pode ser de origem solar, caso o bloco aposte na instalação de mais painéis fotovoltaicos nos telhados e com a instalação do dobro das bombas de calor.
Caso estes objectivos sejam cumpridos, serão já um grande passo para o corte total das compras de energia à Rússia que a UE quer fazer até 2030 e ajudarão também na transição energética para fontes mais limpas e renováveis. Recorde-se que o bloco europeu quer cortar as emissões de CO2 em 55% até 2030.
Actualmente, a Rússia é o principal fornecedor de combustíveis fósseis à União Europeia, sendo responsável pela venda de 45% do gás natural consumido pelos 27 e por 25% das importações de petróleo.
A comissária europeia para a energia, Kadri Simson, garante que a UE tem ainda reservas de gás natural suficientes para o que resta do Inverno sem haver nenhum risco de falhas no abastecimento, isto depois da Rússia já ter ameaçado cortar o fornecimento à Europa.
Mesmo assim, as autoridades já estão a criar planos de contingência e a aconselhar os países a ter reservas de 90% de gás natural até 1 de Outubro para se preparem já para o próximo Inverno.
EUA e Reino Unido boicotam gás russo
O Presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou também hoje um embargo às importações de petróleo e gás russo para os Estados Unidos, em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Numa intervenção na Casa Branca, Biden disse que tal “significa que o petróleo russo não será aceite nos portos dos Estados Unidos”. Segundo o Presidente dos Estados Unidos, o embargo foi decidido “em estreita coordenação” com os aliados.
O Reino Unido vai deixar seguir o mesmo exemplo e quer deixar de importar crude e produtos petrolíferos russos até ao final de 2022, anunciou hoje o ministro da Economia e da Energia, Kwasi Kwarteng.
“Esta transição vai dar ao mercado, empresas e cadeias de fornecimento mais tempo para substituírem as importações russas, que representam 8% da procura no Reino Unido”, escreveu o governante na plataforma Twitter.
Kwarteng acrescentou que as empresas devem utilizar este ano “para assegurar uma transição suave para que os consumidores não sejam afectados”.
O Ministro garantiu ainda que o Reino Unido é “um produtor significativo” de crude e produtos petrolíferos e que “a maioria das importações” é oriunda de parceiros como os Estados Unidos da América, os Países Baixos e o Golfo.
Afirmando ainda que o Reino Unido não é dependente do gás natural russo, o governante disse estar “a explorar opções” para evitar que se prolongue a utilização de um produto que representa 4% das necessidades britânicas.
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