O Facebook tem um registo à volta de 1,4 biliões de
utilizadores, uma audiência que fornece à rede social um poder negocial
que não será indiferente à mesa de negociações.
Ganhar segundos e ganhar a atenção dos leitores. O Facebook está a negociar com várias publicações de referência a possibilidade de vir a alojar dentro do próprio FB os conteúdos online destes jornais.
Os utilizadores deixam de ter de sair da página FB e viajar para os sites de informação. São segundos preciosos num mercado que pugna pela velocidade dos dados, defendem os engenheiros da maior rede social do mundo.
Para já, o modelo de transferência de conteúdos para a página do Facebook encontra-se em fase de negociações. Uma etapa pioneira que envolve os americanos The New York Times, Buzzfeed e National Geographic.
Estes são os nomes que saíram da sala de negociações, havendo contudo a possibilidade de outros media se prepararem para entrar no acordo, segundo alguns dos envolvidos, que falaram ao NYT sob o anonimato.
Apesar do silêncio mantido por estes e outros eventuais envolvidos no projecto, a transformação do Facebook na maior banca online de notícias a nível internacional é um caminho que parece não ter já volta atrás.
Oito segundos é muito tempo
A questão inicial da nova estratégia parece congregar-se à volta dos “preciosos segundos” que se perdem no click de acesso da página do FB para os sites noticiosos. Oito segundos, dizem os responsáveis da rede de Mark Zuckerberg. Oito segundos a mais, principalmente nos telemóveis, sustentam
Os pontos de negociação deverão também andar à volta da recente queda de tráfego que chega aos online via Facebook e a necessidade de os media manterem a autonomia das suas publicações.
A própria informação que o Facebook congrega – para si próprio – acerca dos hábitos do utilizadores, e tanto da forma como navegam na Net quanto acerca das suas preferências, pode ser um factor que obrigará os media informativos a entrarem no contrato com o FB. Isto, porque - de acordo com os especialistas - ficando fora deste esquema de “news feed”, os sites desses jornais perderiam eficácia na forma como chegam aos consumidores de notícias, tornando-se mais lentos (no carregamento de conteúdos, já que menos direccionados) e, no futuro, seriam locais a ser evitados.
A perda para estes media começaria logo se se concretizasse a possibilidade de o FB passar a dar prioridade aos artigos colocados no seu site.
A grande questão que se coloca no centro da mesa é também qual dos lados tem mais a ganhar com este tipo de estratégia. Um especialista ouvido pelo NYT admite que há aqui uma perda evidente dos jornais, que “deixam de controlar a sua marca, as suas audiências e as suas receitas”. Por outro lado, sustentou, o FB sairá sempre a ganhar: “Ao garantir uma cada vez maior satisfação, mantém os utilizadores a navegar no seu site e solidifica a relação com os publicitários”.
E o jornalismo?
Os pontos de negociação deverão também andar à volta da recente queda de tráfego que chega aos online via Facebook. Apesar dos esforços da rede para melhorar esta rúbrica, os números têm vindo a manifestar um menor volume de audiência.
Outro ponto: os colaboradores do britânico The Guardian colocaram já na agenda desta reestruturação a necessidade de os media manterem a autonomia das suas publicações, o que inclui publicidade e conteúdos que estarão dispostos a fornecer integralmente ao FB.
E para conseguirem que este não venha a ser um pormenor que lhes fuja das mãos, defendem que é vital que as corporações de notícias se unam do mesmo lado da mesa e assegurem um bom acordo para o jornalismo.
“Trocar audiência por dinheiro”
Numa resposta às questões do online da RTP acerca do gigantesco negócio que está em preparação, António Granado, jornalista e professor da Universidade Nova, defendeu que “esta nova iniciativa do FB só pode resultar se o FB partilhar receitas com os media, porque os media só sobrevivem através das receitas de publicidade e porque [nessa nova realidade] estarão a perder audiência”.
“A única forma de isto resultar é os media trocarem a audiência por dinheiro”, resumiu.
E o jornalismo, como é que fica? “A minha impressão – sustentou António Granado – é que os media não ficarão a ganhar, nem em termos de jornalismo nem financeiramente, porque o FB tem um enorme poder negocial”.
A questão, explicou, “é que os media online não podem perder os utilizadores do FB, já que basta uma pequena alteração do algoritmo para deixarem de aparecer. O jornalismo fica assim a perder porque a maioria dos conteúdos partilhados no FB são muitas vezes feitos para o click. Muitas das notícias não são as mais importantes, mas as mais virais”.