Embora os esforços da China e da Rússia para desenvolverem uma vacina contra o coronavírus tenham sido vistos inicialmente com ceticismo, uma lista crescente de países espera essas imunizações para diminuir a propagação do vírus.
Segundo um artigo dos jornalistas Emily Rauhala, Eva Dou e Robyn Dixon, publicado no sábado no Washington Post, muita dessa procura tem a ver com escassez, visto que os países ricos reservaram a maioria das primeiras doses das vacinas desenvolvidas pelas farmacêuticas Moderna e Pfizer. Para alguns, a China e a Rússia são as únicas opções.
“A ideia de que os russos e os chineses não são tão bons nisso como nós é apenas o nacionalismo das vacinas”, disse Naor Bar-Zeev, médico infeciologista e epidemiologista, professor na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health. “Não há razão para pensar que essas vacinas não funcionarão”, disse.
O primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, indicou na terça-feira que o seu país não está a encomendar a vacina da chinesa Sinovac porque esta não foi certificada por um organismo global. Já os Emirados Árabes Unidos e o Barém aprovaram, na semana passada, a vacina da chinesa Sinopharm, com uma eficácia de 86%. Em novembro, a farmacêutica pediu a aprovação final dos reguladores.
“Está tudo relacionado com resultados da Fase 3”, disse Jennifer Huang Bouey, investigadora da Rand Corp com foco na China e na Saúde Global. “Não vimos nada ainda”.
De acordo com os três jornalistas, a China está a apostar na melhoria das suas credenciais científicas através da criação de vacinas, aliada a outros esforços para expandir os seus laços políticos e económicos. O país tem agora cinco vacinas em fase final de testes, que estão a decorrer em cerca de doze de países, incluindo o Paquistão, a Turquia, o Egito, a Arábia Saudita, a Indonésia e o Brasil.
A vacina da Sinovac tem causado divisões políticas em países como o Brasil, tendo o apoio do governador de São Paulo, João Doria, e a oposição do Presidente, Jair Bolsonaro, cético em relação ao coronavírus e crítico frequente da China. Um governador brasileiro avançou esta semana que o país planeia comprar 46 milhões de doses da vacina.
A decisão da China em realizar os testes de Fase 3 em todo o mundo ajudou a construir confiança nas vacinas, visto que dessa forma a governos estrangeiros podem supervisionar e observar. A realização dos testes noutros países são úteis devido à história da indústria de vacinas da China. A Sinopharm teve problemas com a qualidade de vacinas, enquanto o CEO da Sinovac admitiu em tribunal ter subornado o regulador chinês no passado.
Contudo, a indústria de vacinas da China desenvolveu proficiência técnica ao longo dos anos, em parte devido à transferência de tecnologia e aos cientistas que retornam à China após trabalhar e estudar no exterior.
“Algum ceticismo sobre as vacinas russas e chinesas pode ser justificado, mas descartar automaticamente essas vacinas como ineficazes ou inseguras seria um erro”, apontou Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia dna London School of Hygiene and Tropical Medicine. “Esses países têm cientistas muito bons, incluindo experiência em vacinas e imunologia”, rematou.
A AstraZeneca revelou, a 11 de dezembro, que começaria a trabalhar com o Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya, na Rússia – responsável pela vacina Sputnik V – para explorar a combinação de componentes de ambas as vacinas, tendo por base o vírus da gripe comum.
Os responsáveis pela Sputnik V também se ofereceram para partilhar a vacina russa com a francesa Sanofi e a britânica GSK, após estas terem anunciado que a sua vacina seria adiada até o final do próximo ano porque os resultados dos ensaios das Fases 1 e 2 demonstraram uma resposta imunológica baixa em idosos.
De acordo com a última atualização do Fundo Russo de Investimento Direto, a eficácia do Sputnik V na prevenção da infeção é de 91,4% e os que contraírem a doença após a vacinação não terão um sintomas graves. Até agora, 20 mil pessoas receberam ambas as doses da vacina na Fase 3 dos testes.
Na semana passada, o ministro da Saúde turco, Fahrettin Koca, indicou que a Turquia tinha abandonado os planos de encomendar a vacina russa. No mesmo dia, voltou atrás nas declarações, referindo que o país “não tem problema em adquirir a vacina produzida da Rússia” se os testes forem “bem-sucedidos”.
O primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, disse na semana passada que esperava uma “demanda explosiva” no exterior.
https://zap.aeiou.pt/vacinas-chinesa-russa-aprovacao-paises-367205
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