A demissão surge na sequência da promoção de agentes que foram apanhados a fazer comentários degradantes e das acusações de que há uma cultura discriminatória dentro da força policial.
A chefe da Polícia Metropolitana de Londres, Cressida Dick, demitiu-se ontem após a força policial ter sido abalada por uma série de escândalos de assédio sexual e discriminação entre os agentes.
A demissão surgiu meras horas depois de Dick ter negado que ia sair da liderança da força policial e ter revelado que tinha um plano para reformar a Met.
No entanto, quando os funcionários da autarquia de Londres lhe disseram que o seu plano não era apropriado, a comissária decidiu boicotar uma reunião que tinha marcada com os responsáveis políticos e demitir-se, nota o
The Guardian.
O Presidente da Câmara Municipal da capital britânica, Sadiq Khan, tinha ameaçado recentemente demitir Dick do cargo, alegando que ela não estava a fazer o suficiente para reformar a Polícia Metropolitana, a maior força policial da Grã-Bretanha, perante as crescentes acusações.
Khan disse hoje ser claro que a única solução era ter uma “nova
liderança no topo da Polícia Metropolitana”. A última gota foi um
escândalo na esquadra de Charing Cross em que os agentes foram apanhados
a trocar mensagens racistas, sexistas e islamofóbicas.
A revelação partiu de um relatório na semana passada do Independent
Office for Police Conduct, o órgão que vigia a conduta da polícia, que
considera que este tipo de comportamentos está enraizado na cultura da polícia. Apesar disto, dois dos agentes foram promovidos e nove restantes continuaram a servir na polícia.
A Met anunciou também há cerca de três semanas que está a investigar
criminalmente as festas em Downing Street, que podem levar a que Boris
Johnson e outros funcionários sejam multados por não cumprirem as regras
da pandemia.
Num comunicado, Cressida Dick, que chefia a força há quatro anos e é a
primeira mulher a liderar a Scotland Yard, explicou que foi com “enorme
tristeza” que percebeu que Khan “não tem mais confiança suficiente” na sua liderança que lhe permita continuar.
“Ele não me deixou outra escolha senão deixar o cargo de comissária
do Serviço de Polícia Metropolitana”, acrescentou. Dick acrescentou que
permanecerá em funções por um curto período, para garantir a
estabilidade da força enquanto é encontrado um substituto.
Khan disse que não estava “satisfeito” com a resposta de Dick aos pedidos de mudança após os escândalos, mas agradeceu os 40 anos que dedicou ao serviço policial.
“Na semana passada, deixei claro à comissária da Polícia Metropolitana a dimensão da mudança que acredito ser urgentemente necessária para reconstruir a confiança dos londrinos na ‘Met’ e erradicar o racismo, sexismo, homofobia, intimidação, discriminação e misoginia que ainda existe”, disse Khan.
Recorde-se que a Met já estava sob fogo depois da violação e homicídio de Sarah Everard, uma mulher que foi raptada e morta por um agente da Met em Março do ano passado.
O caso suscitou uma onda de protestos e críticas contra a força policial
que subiram de tom quando a liderança da Met respondeu que as mulheres
que tenham medo perante a aproximação de um agente devem dar sinal a um
autocarro.
Cressida Dick também já tinha sido pessoalmente criticada pela
obstrução a um inquérito à corrupção dentro da polícia. O painel que
investigava um homicídio de 1987 descreveu Dick e a Met como “institucionalmente corruptos”.
A decisão de Khan de retirar a confiança a Dick publicamente foi também alvo de críticas. Ken Marsh,
líder da Federação Met, que representa os agentes, referiu que a
demissão deixa um “vácuo na liderança da polícia de Londres e do Reino
Unido numa altura crítica” e considera que a comissária devia ter tido a
oportunidade de “reconstruir a confiança no serviço da Polícia
Metropolitana”.
Já Ruth Davison, da organização de caridade Refuge, aplaudiu o
afastamento de Dick. “Cressida Dick presidiu a uma instituição que viu
os agentes policiais com comportamentos misóginos e a cometer actos horríveis de violência contra as mulheres repetidamente”, sublinhou.
“Mas uma demissão no topo não significa que a polícia resolveu o seu
problema de misoginia. O serviço policial neste país precisa de uma
reforma nas raízes”, rematou.
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