quarta-feira, 21 de abril de 2021

Montenegro “hipotecou-se” à China e agora quer a ajuda da Europa para se libertar !

Montenegro aceitou um empréstimo gigante da China para construir uma rodovia. Agora, o minúsculo país montanhoso quer ajuda da União Europeia (UE) para pagar a dívida.


A situação em Montenegro é o mais recente conflito numa pressão global crescente por influência da China, que fez incursões em países economicamente fracos ao oferecer empréstimos que exigem lealdade a Pequim, mas que, por outro lado, têm poucos compromissos.

A nação montanhosa de 600 mil habitantes é membro da NATO e está prestes a entrar na União Europeia (UE). Isso torna o país um alvo especialmente valioso. Segundo o The Washington Post, um dos principais focos da China é controlar elementos significativos da infraestrutura da Europa, como ferrovias e portos.

Os primeiros pagamentos da dívida de Montenegro terminam este verão. O empréstimo de mais de 831 mil milhões de euros é quase um quinto de toda a economia do país.

Os líderes de Montenegro garantem que não vão deixar passar o pagamento, mesmo que a UE não ajude. Contudo, os defensores de um resgate consideram que o país corre o risco de ser capturado financeiramente pela China, numa altura em que as nações democráticas falam de forma cada vez mais urgente sobre a influência chinesa em todo o mundo.

“Seria completamente irresponsável se a UE não fizesse nada”, disse Reinhard Bütikofer, um membro alemão do Parlamento Europeu. “Por que os deixaríamos sozinhos numa hora tão desesperante?”

O empréstimo foi usado para pagar a construção de parte de uma rodovia para a vizinha Sérvia. Embora a estrada, que também está a ser construída por uma empresa de Pequim, esteja anos atrasada, o banco estatal de desenvolvimento da China não está a oferecer a Montenegro uma pausa no reembolso.

Montenegro, um país de aldeias antigas e montanhas vertiginosas que se separaram da Sérvia em 2006, há muito que sofre com más estradas e ferrovias. Os líderes viram uma rodovia melhor para a vizinha Sérvia como uma ponto de viragem para reiniciar a sua economia, que está fortemente dependente de turistas e investidores russos.

Porém, os críticos disseram que o contrato que Montenegro assinou com a China foi preenchido com dinheiro extra para funcionários corruptos e tornou o país demasiado dependente de um ator geopolítico que é rival das democracias em todo o mundo.

“É muito raro ter uma rodovia tão cara”, disse o novo ministro das Finanças do país, Milojko Spajic.

O contrato chinês, que é apenas para o primeiro trecho da rodovia, custa quase 19,8 milhões de euros por quilómetro e resolver o pagamento da dívida tornou-se uma prioridade para os líderes do país.

Como se não bastasse, a economia de Montenegro foi, tal como noutros países, atingida pela pandemia. A economia caiu mais de 15% em 2020, de acordo com uma estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Agora, o país quer estreitar os seus laços com a UE e reduzir a sua dependência da Rússia e da China. O movimento económico ajudaria a corresponder às suas ambições geopolíticas: juntou-se à OTAN em 2017 e quer entrar na UE assim que o bloco europeu o permitir.

Spajic disse que Montenegro está a procurar fundos de desenvolvimento europeus para ajudar a construir a infraestrutura. Refinanciar o empréstimo chinês a uma taxa mais baixa seria parte dessa ajuda.

As discussões já estão em andamento há algum tempo. Divisões foram abertas esta semana depois de a Comissão Europeia ter rejeitado o pedido de ajuda.

“Cada país é livre para estabelecer os seus próprios objetivos de investimento”, disse o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano. “Não estamos a reembolsar os empréstimos que estão a receber de terceiros.”

Contudo, um importante aliado do presidente francês Emmanuel Macron disse que o seu país está a procurar uma forma de ajudar.

“Estamos a trabalhar com a Comissão Europeia para encontrar o apoio da UE e reduzir a dependência da China nos Balcãs”, escreveu Clément Beaune, ministro francês da Europa, no Twitter. “Esta ajuda da UE deve aumentar a consciencialização sobre a ajuda semelhante a uma miragem oferecida pelos nossos concorrentes”.

Vincular a ajuda ao empréstimo de forma muito direta pode ser politicamente difícil, uma vez que muitas autoridades europeia não querem estar em posição de pagar um empréstimo chinês que foi alvo de alertas dos líderes europeu.

A omissão de ação pode levar a consequências dramáticas. Os termos exatos do empréstimo de Montenegro permanecem secretos, mas empréstimos semelhantes noutros lugares exigem garantias que incluem terrenos e infraestrutura.

Quando o governo do Sri Lanka falhou em 2017 em manter os pagamentos de um porto construído e financiado pela China, foi pressionado a transferir o controle da instalação para a China nos 99 anos seguintes.

https://zap.aeiou.pt/montenegro-hipotecou-se-a-china-e-agora-quer-a-396397

 

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