A fome provocada pela seca extrema na província de Cunene, no sul de Angola, está a levar milhares de pessoas a fugir para a Namíbia.
“A estiagem provocou a rutura de ‘stocks’ alimentares das comunidades e a rutura de sementes. Criou um grande fosso, um grande buraco, na segurança alimentar das comunidades do chamado semiárido de Angola”, contou à TSF o padre Pio Wakussanga, da ONG Construindo Comunidades.
A região – constituída pelas províncias de Huíla, Namibe, Cunene, e Benguela, as mais atingidas pela falta de chuva -, enfrenta períodos quase interruptos de seca desde 2012. “O nível de má nutrição subiu exponencialmente em Angola”, lamentou o padre.
Com a falta de alimentos e as alterações climáticas, vem o problema das pragas dos gafanhotos. Estes procuram pousar onde existe alimento verde, impossibilitando o cultivo.
As circunstâncias atauis estão a criar um movimento interno – “deslocados da fome” -, pessoas que vão do interior para ir para as vilas e cidades “à procura de subsistência, para ver se conseguem alimentar-se”, e outro para o exterior – “refugiados climáticos”.
O balanço mais mais recente indica que o número de deslocados pode ter subido para 10 ou 15 mil, notou Pio Wakussanga. “Todos os dias há jovens, homens e mulheres, que estão a atravessar a fronteira e deixam para trás os que não podem andar, os idosos, o que torna a situação ainda mais dramática, infelizmente”, referiu.
“Com esta crise, aproveitam-se dos pontos que conhecem, fora do controlo das autoridades fronteiriças, para atravessar” para o país vizinho, contou. “A Namíbia tem um sistema social muito organizado”, tendo organizado o “Direito à Alimentação Adequada”, distribuindo cabazes básicos para famílias vulneráveis.
E concluiu: “Os angolanos aperceberam-se disto e estão a debandar-se, com esperança de sobreviver lá, do outro lado”.
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