O opositor russo Alexei Navalny afirma estar a ser vítima de “violência psicológica” digna de um “campo de trabalho chinês”, desde que foi preso na Rússia, em janeiro de 2021.
Em entrevista ao New York Times, a primeira desde que foi preso, Navalny explicou: “Imagine algo como um campo de trabalho chinês, onde todos andam em fila e há câmaras em todo o lado; há um acompanhamento constante e uma cultura de denúncia”, conta o antigo advogado de 45 anos numa troca de 54 páginas manuscritas que resultou na entrevista publicada esta quinta-feira.
Na troca de correspondência, Navalny diz que os dias são maioritariamente dedicados a ver televisão estatal russa ou filmes de propaganda.
“Tenho de me sentar numa cadeira e ver televisão; ler, escrever ou fazer qualquer outra coisa é proibido”, afirma, explicando que “tudo está organizado para um controlo ao máximo a cada hora do dia“, o que configura, diz, “violência psicológica”.
Durante as suas primeiras semanas na prisão, os guardas acordavam-no várias vezes por noite, contou o antigo opositor de Vladimir Putin.
“Compreendo agora porque é que a privação do sono é um dos métodos favoritos de tortura dos serviços secretos; não deixa vestígios e é insuportável”, disse.
Na entrevista, Navalny diz que não foi atacado ou ameaçado por nenhum dos companheiros de prisão, com os quais por vezes cozinha, o que admite ser “divertido”.
No artigo, o New York Times descreve o preso como “otimista” apesar das circunstâncias, nomeadamente no que diz respeito à situação política na Rússia.
“O regime de Putin é um acidente da história, não uma inevitabilidade“, escreve, considerando que “a Rússia regressará a um caminho de desenvolvimento democrático e europeu, simplesmente porque é isso que as pessoas querem”.
O opositor russo foi preso em janeiro ao voltar da Alemanha para Moscovo, onde passou cinco meses a recuperar de um envenenamento por agente nervoso, que atribui ao Kremlin. As autoridades russas rejeitam a acusação de Navalny.
O ativista anticorrupção, que é o adversário político do Presidente russo, Vladimir Putin, foi condenado em fevereiro a dois anos e meio de prisão, por violar os termos de uma pena suspensa relativamente a uma condenação por fraude em 2014.
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