O templo de Artemis, em Éfeso, era considerado uma das sete maravilhas da antiguidade. Mas em 21 de julho de 356 a.C. aconteceu uma catástrofe.
A polis, ou cidade-Estado independente da Grécia antiga, ficava perto da atual cidade portuária de Esmirna, na Turquia. A patrona de Éfeso era Artemis, a deusa da caça, dos animais selvagens, das terras virgens, dos nascimentos, das donzelas e da virgindade.
Segundo o historiador grego Heródoto, o templo havia sido erguido com recursos do rei Creso de Lídia e, segundo o romano Plínio, tinha 127 colunas, 36 das quais finamente talhadas com desenhos em relevo.
No centro daquele que foi um dos maiores templos gregos da História e o primeiro construído quase completamente em mármore, estava a colossal figura de Artemis, feita em madeira enegrecida.
Além dos seus propósitos religiosos, a construção era um íman que atraía turistas, comerciantes e até reis que faziam homenagens oferecendo diversas joias e outros tesouros. Servia também de proteção aos perseguidos, porque ninguém se atreveria a fazer algo que pudesse profanar o templo.
Em 21 de julho de 356 a.C. aconteceu uma catástrofe. Enquanto a deusa Artemis estava ausente do santuário, ajudando no nascimento de Alexandre, o Grande, um homem chamado Heróstrato queimou deliberadamente o templo que havia levado um século para ser construído, segundo o historiador grego Plutarco.
Depois de terem ardido as portas, as escadas, os móveis, o teto e a adorada imagem de Artemis, tudo o que restou do templo foram as colunas arruinadas.
Heróstrato foi preso e confessou que havia incendiado o santuário para que, “através da destruição dessa construção tão bela, o seu nome fosse difundido por todo o mundo“, segundo um relato de Valerio Máximo, autor da coleção Factorum et dictorum memorabilium (“Feitos e ditos memoráveis”).
Além de ter sido torturado e executado, Heróstrato foi castigado com o esquecimento através do que, mais tarde, passou a ser chamado de damnatio memoriae – literalmente “condenação da memória”. Todos os registos da sua existência foram apagados e a mera menção ao seu nome foi proibida sob pena de morte.
Apesar de a medida ter sido acatada, Heróstrato acabou por alcançar o seu objetivo: o historiador contemporâneo Teopompo mencionou o nome do incendiário numa obra escrita naquele mesmo século. Sabemos muito pouco sobre Heróstrato, mas nunca foi esquecido.
Na literatura, vários grandes nomes como Victor Hugo, Anton Tchekhov, Jean-Paul Sarte, Miguel de Unamuno e até Dom Quixote de La Mancha, personagem de Miguel de Cervantes, violaram a “condenação da memória”.
O nome do incendiário também permanece vivo na Ciência. O “complexo de Heróstrato” é um termo utilizado na psiquiatria moderna para pessoas que sofrem de sentimento de inferioridade, mas que desejam sobressair a qualquer custo.
Para alcançar esse fim, recorrem a ações agressivas, como destruir objetos de arte, patrimónios públicos, objetos socialmente úteis e torturam ou matam animais ou pessoas.
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