sexta-feira, 3 de abril de 2015

Em busca da máquina do tempo,por amor

Com dez anos, perdeu o pai. E passou sessenta anos da vida a trabalhar numa máquina do tempo que lhe permitisse voltar para junto dele. Nenhum obstáculo o consegue travar.
Mallett já construiu protótipos de uma máquina do tempo
Getty Images

O físico que nasceu aos dez anos

O pai de Mallett morreu quando o físico tinha dez anos. Na altura, prometeu construir uma máquina do tempo para avisar o pai de que iria sofrer um ataque cardíaco fulminante na mesma noite em que Mallett completava onze anos. Como tal, Ron Mallett dedicou-se ao estudo do espaço e do tempo em busca de respostas. No seu percurso, cruzou-se com as teorias de Einstein e apaixonou-se por elas. “Toda a minha existência, quem eu sou, deve-se à morte do meu pai e ao juramento que fiz em descobrir como afetar o tempo com base no trabalho de Einstein”, explica à Bloomberg.

Agora, Mallett procura apoiantes e investidores interessados em ajudar os seus planos a sair do papel. Já há uma luz de alento: os laboratórios da Universidade de Connecticut são explorados por Chandra Roychoudhuri, uma física de laser experimental que tem operado de acordo com os pressupostos de Mallett. Entre as quatro paredes daquela oficina da ciência já nasceu um engenho: uma série de anéis verdes sobrepostos e brilhantes que rodam à volta de um tubo de vidro, numa tentativa de distorcer o espaço dentro dele. O projeto pode avançar, mas apenas se os dois cientistas encontrarem um laboratório com melhores equipamentos.

Percurso de vida

O primeiro protótipo que nasceu das mãos de Mallett foi construído na Pensilvânia, onde viveu depois da morte do pai, com a mãe e os irmãos mais novos. Era um brinquedo de crianças com motivações muito vincadas, baseadas no livro “A Máquina do Tempo” de H. G. Wells. A ficção não bastou. E o menino compreendeu que tinha de pôr a ciência a seu favor.

Não foi um aluno brilhante. Depois da escola secundária, Mallett decidiu ingressar na Força Aérea, que podia ser o seu passaporte para prosseguir estudos. Entrou como técnico de computadores e preferiu o turno da noite: queria estar sozinho para estudar física. E deixou-se inspirar pelos filmes de ficção científica.

Quatro anos depois, Ron Mallett entrou na Universidade de Pensilvânia. Doutorou-se em 1973: foi um dos 79 negros que se tornaram físicos entre os 20 mil que existiam nos Estados Unidos. Começou então a trabalhar na United Technologies, em Connecticut. Sentiu que havia mais tolerância entre os profissionais da ciência, mas a discriminação permanecia. Por isso, Mallett decidiu manter os planos longe do julgamento dos colegas.

O segredo que viu a luz

A equação foi publicada em 2000 e expressa o modo como um neutrão pode ser movido ou arrastado quando o espaço que ele ocupa é distorcido pela luz laser. De acordo com a Teoria da Relatividade Geral, se o espaço pode ser distorcido, o tempo também alterar-se: basta que deixe de ser linear e se torne circular. E assim seria possível viajar tanto para o passado, como para o futuro.

Em 2001, na sequência da publicação do seu trabalho sobre distorção do espaço, falou pela primeira vez em público sobre os seus projetos de física. A coragem abriu-lhe as portas para ser ouvido pelos jornais científicos de prestígio. Cinco anos mais tarde, Mallett lança uma autobiografia, “Time Traveler”, que mereceu a atenção de Spike Lee e que por isso ainda pode vir a dar um filme. “Nós somos compositores”, diz. E diz que pretende sonhar com o dia em que voltará a ver o pai até aos seus últimos dias.

Fonte: http://observador.pt/2015/04/03/busca-da-maquina-do-tempo-amor/

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