O Presidente
do Instituto Português do Sangue e da Transplantação disse hoje no
Parlamento que o "contacto sexual de homens com outros homens é definido
como fator de risco".
O presidente
do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) afirmou hoje
que é um fator de exclusão para a dádiva de sangue ser homem e ter tido
sexo com outros homens.
Segundo Hélder Trindade, que foi ouvido hoje na Comissão Parlamentar de Saúde, o instituto não faz qualquer discriminação em função da orientação sexual, mas sim em função da prática sexual.
"O contacto sexual de homens com outros homens é definido como fator de risco", admitiu o presidente do IPST, sem contudo reconhecer tratar-se de preconceito como acusam os partidos da oposição.
O
sangue doado é sempre testado antes de ser usado, mas o questionário
realizado ao dador é considerado um passo crucial para a segurança da
transfusão, na medida em que há uma "janela de tempo", que é variável,
em que o VIH pode não ser detetado na análise ao sangue doado.
No
final da comissão parlamentar e em declarações aos jornalistas, Hélder
Trindade voltou a explicar que está definido como fator de exclusão para
a dádiva de sangue "ser homem que tem sexo com homens".
Apesar de
a pergunta ter saído dos questionários escritos feitos antes das
dádivas de sangue, continua a haver indicações para que seja sempre
formulada a quem se apresente para doar sangue.
Hélder Trindade entende que não se trata de um preconceito, uma vez que nada é perguntado sobre a orientação sexual, mas antes sobre o comportamento sexual.
"O que o instituto questiona é o comportamento de risco. Tanto faz se é homo ou heterossexual. Não há discriminação por grupos de risco, mas sim por comportamentos de risco", afirmou, adiantando que o dador não será excluído por se assumir homossexual, mas por praticar sexo com outros homens.
O presidente do IPST sublinhou que o mesmo se passa em vários outros países europeus e também nos Estados Unidos, apesar de na Europa a matéria não ser consensual.
Para
justificar o que está estabelecido em Portugal, cita dados do Centro
Europeu de Controlo de Doenças segundo os quais a prevalência do
VIH/sida é "bastante mais elevada" nos homens que fazem sexo com homens.
"O
contacto sexual de homens com homens é definido como um fator de risco.
A homossexualidade não é assumida como fator de risco", indicou o
responsável aos deputados durante a audição requerida pelo Bloco de
Esquerda.
Perante as explicações, os partidos da oposição foram unânimes em considerar que o fator de exclusão assumido pelo IPST continua a ser discriminatório.
"A
categoria 'homens que têm sexo com homens' é uma categoria
preconceituosa e é absurda do ponto de vista da avaliação do risco.
Primeiro presume que um homem que faz sexo com homens faz sempre sexo
anal. Depois não considera o fator da desproteção. O fator de risco são as práticas sexuais desprotegidas", defendeu José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda.
Para
a deputada do PS Elza Pais, "as garantias de segurança para quem recebe
a dádiva devem ser feitas com base no rigor científico e não no
preconceito".
"O sexo anal não é exclusivo de homens que
têm sexo com homens. Se se entende que o sexo anal é fator de risco,
como se garante a segurança quando os heterossexuais também têm sexo
anal?", questionou Elza Pais.
Paula Santos (PCP) disse que
os argumentos do IPST eram contraditórios e referiu-se ao critério de
exclusão da dádiva de sangue como uma "discriminação".
O
BE, que requereu esta audição, considerou ainda que a interpretação do
instituto "viola a decisão e o espírito" de uma resolução do parlamento
estabelecida em 2010 que recomendou ao Governo abolir qualquer discriminação dos homossexuais e bissexuais nos serviços de recolha de sangue.
Nessa
resolução recomenda-se a reformulação de todos os questionários que
contenham enunciados homofóbicos, nomeadamente em relação a questões
relativas a relações sexuais entre homens.
A mesma resolução de
2010, aprovada sem votos contra, recomenda a elaboração de um documento
por parte do governo que proíba expressamente a discriminação dos
dadores com base na sua orientação sexual.
O governo decidiu a
este propósito criar um grupo de trabalho no IPST, que até ao momento
não apresentou conclusões, como admitiu Hélder Trindade, garantindo
apenas que deverá haver conclusões "em breve".
Hélder Trindade frisou que o "IPST não tem preconceitos" e que debate estes assuntos com um olhar "técnico e científico".
Fonte: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4539996&page=-1
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