Mais uma vez, a OTAN está operando
perigosas e ousadas manobras militares em regiões próximas à fronteira
europeia com a Rússia. Desta vez, o país que acolhe os testes é a
Estónia, um Estado Báltico que nas últimas décadas se caracterizou por
uma forte postura pró-ocidental e anti-russa. O pequeno país europeu
está ocupado por um grande contingente de tropas americanas e ficará
nessa situação até pelo menos 10 de setembro, quando terminam as
operações.
Os testes iniciados em 1º
de setembro já estão causando uma pequena crise diplomática entre Rússia
e Estados Unidos. A Embaixada Russa em Washington comentou os
exercícios com grande antipatia:
“A
Federação Russa ofereceu repetidamente aos Estados Unidos e seus aliados
para limitar as atividades de treinamento e desviar as áreas de
exercício da linha de contato entre a Rússia e a OTAN. Consideramos as
ações das Forças Armadas dos Estados Unidos na Estônia provocativas e
extremamente perigosas para a estabilidade regional (...) Que sinal os
membros da OTAN querem nos enviar? Quem está realmente alimentando as
tensões na Europa? E tudo isto a decorrer no contexto de uma situação
política agravada naquela região do continente europeu. Questão
retórica: como os americanos reagiriam se esse tipo de tiroteio fosse
realizado por nossos militares perto da fronteira com os Estados Unidos?
”.
Além da crise diplomática, a
tensão militar estourou na região na última terça-feira. Os aviões da
OTAN que seriam usados nos exercícios foram interceptados
inesperadamente por caças russos durante o vôo sobre a área de
fronteira. Além disso, Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielo-Rússia,
colocou suas tropas em alerta máximo e iniciou seus próprios exercícios
militares, entendendo as manobras da OTAN como uma medida provocativa e
ameaçadora, não apenas contra a Rússia, mas também contra a
Bielo-Rússia.
Os exercícios também
começam durante uma série de eventos que aumentaram as tensões na
região. Na sexta-feira, um bombardeiro americano B-52 e uma aeronave
russa Su-27 realizaram manobras perigosas no espaço aéreo europeu,
perseguindo-se. No mesmo dia, tensões semelhantes foram relatadas no Mar
Negro ucraniano. Países com menos potencial militar estão se
preocupando e se sentindo ameaçados pelas hostilidades, como a Suécia,
que lançou um alerta de perigo para suas tropas.
Não
é a primeira vez que os países bálticos se tornam palco de ações
militares da OTAN especialmente destinadas a provocar a Rússia. Durante
anos, Lituânia, Letônia e Estônia aumentaram sua participação em
programas da OTAN, junto com a Polônia, países que desde o fim do
comunismo vêm aderindo a posições contra a Rússia no cenário
internacional. Este exercício em curso na Estónia está na sua oitava
edição, tendo já se tornado um programa anual da OTAN. Em 2020,
Alemanha, Canadá, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia,
Finlândia, França, Holanda, Itália, Letônia, Lituânia, Macedônia,
Noruega, Polônia, Reino Unido, República Tcheca e Romênia participarão
das operações.
O objetivo, segundo os
seus organizadores, é testar as capacidades de defesa da OTAN contra
possíveis ataques em solo europeu. No entanto, apesar da narrativa
oficial, o caráter provocativo dos testes é verdadeiramente claro,
especialmente quando levamos em consideração o atual momento global, em
que o mundo enfrenta uma terrível pandemia, da qual os EUA são
justamente a maior vítima. No início de 2020, um programa militar da
OTAN estava em preparação, prevendo uma série de exercícios audaciosos
na Europa, principalmente na região de fronteira com a Rússia. Este
programa - apelidado de “Defender Europe 2020” - foi cancelado há poucos
meses devido à pandemia. Na época, os testes do Defender Europe foram
interpretados como atos de provocação contra a Rússia, pois prevêem uma
grande concentração de contingente militar americano na fronteira russa,
o que também estamos testemunhando agora na Estônia. Embora esses
testes já ocorram há anos, em 2020 a implementação desse programa em
meio à pandemia tem uma dimensão muito mais provocativa: Washington está
transmitindo à Rússia a mensagem de que está desperta no cenário
geopolítico.
Mas essa não é a atitude
mais correta. Enquanto os dados da pandemia em solo americano se
aproximam de 200.000 mortos e o país enfrenta uma forte crise interna,
com violentas manifestações e tensões raciais, Washington prepara planos
de guerra e demonstrações de força em outros continentes.
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