Vários órgãos de comunicação social polacos publicaram notícias a preto e branco nas suas edições impressas e online, e algumas estações televisivas interromperam as suas transmissões. A iniciativa teve como objetivo protestar contra um novo imposto para os media nacionais.
A iniciativa ocorreu durante 24 horas (na passada quarta-feira, dia 10 de fevereiro) e serviu como arma de contestação ao novo imposto aplicado pelo Governo polaco a todos os órgãos de comunicação social do país, avança o The Washington Post.
De acordo com os jornais e canais televisivos, o imposto ameaça a liberdade de imprensa e é mais um golpe para as instituições democráticas.
“É aqui que o nosso conteúdo deve estar”, escreveu o site do diário polaco Gazeta Wyborcza, que esteve marcado por slogans de protesto envoltos de preto. Também o canal televisivo Polsat passou no seu ecrã a seguinte mensagem: “Este é o lugar onde o seu programa favorito deveria estar”.
O silêncio surgiu um dia depois de várias entidades enviarem uma carta aberta às autoridades para se oporem ao imposto. Cerca de 43 editores e organizações de media participaram na escrita do conteúdo, onde foi sublinhada a carga seletiva sobre a imprensa independente como “escandalosa”. “É simplesmente extorsão”, pode ler-se.
O governo afirma que o imposto de 15% sobre as receitas de publicidade irá ajudar a aumentar o financiamento para os cuidados de saúde e outros serviços essenciais para combater a pandemia. Contudo, a decisão surge num altura em que o Ministério da Justiça da Polónia é acusado de prejudicar a independência das instituições do país.
Segundo a Associação de Jornais Locais da Polónia, em 2020, a imprensa local viu uma queda aproximada de 30% a 50% na receita de publicidade e uma descida de 30% nas vendas desde o início da pandemia. Também os maiores jornais do país se queixaram de uma queda significativa na receita de publicidade e vendas.
O executivo polaco já havia entrado em conflito com a União Europeia devido a reformas judiciais que, segundo Bruxelas, prejudicam a independência dos seus tribunais.
O responsável de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras disse à Reuters que a iniciativa do governo de subjugar o sistema judicial também prejudicou a imprensa, pois criou uma tendência de criminalizar a difamação e a liberdade de expressão.
Nos últimos seis anos, a Polónia caiu da 18.ª posição no ranking global de liberdade de imprensa da organização para a 62.ª.
A vizinha Hungria serve como um exemplo do que pode acontecer com a independência dos media. No país, associados do governo do primeiro-ministro Viktor Orban compraram órgãos de comunicação independentes, transformando-os em porta-vozes do governo.
Em declarações à emissora pública TVP, que ainda estava no ar na quarta-feira, o porta-voz do governo, Piotr Muller, referiu que o imposto ainda está a ser analisado e que é semelhante aos implementados em vários países europeus.
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