Aos 34 anos, a indo-canadiana Arora Akanksha anunciou a candidatura a secretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) contra António Guterres, que vai tentar a reeleição. As suas hipóteses são quase nulas, mas Akanksha quer “abanar” uma entidade que se tornou “irrelevante”.
Arora Akanksha apresenta a primeira candidatura de um elemento da chamada geração millennial e, se vencer, tornar-se-á a primeira mulher secretária-geral da ONU.
Ela assume-se como líder da “geração da mudança” e diz que quer “cumprir a promessa ao mundo” de uma ONU “que funcione”.
A sua principal bandeira é a defesa dos direitos dos 85 milhões de refugiados que existem no planeta. Ou não fosse ela própria neta de refugiados, já que os avós fugiram do Paquistão em 1947, instalando-se na Índia, onde viria a nascer.
Mas Arora é uma verdadeira cidadã do mundo. Cresceu na Arábia Saudita com os pais, ambos médicos, viveu parte da juventude na Índia e mudou-se para o Canadá com 18 anos.
Actualmente, vive em Nova Iorque, onde integra o Programa da ONU para o Desenvolvimento como auditora financeira, desde 2016, depois de ter sido recrutada numa empresa de contabilidade.
Após ter anunciado a sua candidatura a líder da ONU em Fevereiro passado, tirou uma licença sem vencimento para fazer a campanha que está a financiar com as suas próprias poupanças.
O seu orçamento é de apenas 30 mil dólares, segundo revela o New York Times (NYT).
“Um crime de lesa majestade” contra Guterres
O mandato de Guterres na liderança da ONU termina no final deste ano e o ex-primeiro-ministro português vai recandidatar-se. A expectativa é de que seja eleito para um segundo mandato.
“Tenho a certeza de que ela não tem hipóteses e estou igualmente certo de que ela sabe disso”, aponta ao NYT Edward Mortimer, um antigo assessor de Kofi Annan que foi secretário-geral da ONU entre 1997 e 2006.
“É uma forma corajosa de demonstrar o descontentamento que, sem dúvida, é amplamente compartilhado pelos seus colegas”, destaca ainda Mortimer.
Arora não tem qualquer experiência diplomática e trabalha na ONU “há apenas quatro anos”, além de ter “menos de metade da idade” de Guterres que tem 71 anos, como evidencia o NYT.
O jornal conclui, assim, que a candidatura é “uma jogada audaciosa para sacudir” a ONU.
“A ousadia de Arora tocou o nervo da organização de 193 membros e chamou a atenção para a forma historicamente opaca com que o seu líder é escolhido”, aponta ainda o NYT.
É que, como o jornal realça, apesar das boas intenções de Arora, na verdade, a ONU “tem pouco poder real” e o seu secretário-geral está basicamente submetido aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança com direito a veto, respectivamente Grã-Bretanha, China, França, Rússia e EUA.
De resto, o voto destes cinco países é determinante para eleger o líder da organização.
A candidatura de Arora é quase “um crime de lesa majestade” contra Guterres, como destaca o jornal francês L´Express, vincando que “a abordagem da jovem contraria os hábitos e costumes vigentes” na ONU.
Já o jornal belga Le Soir aponta que a jovem é “totalmente desconhecida” e que as suas hipóteses são “muito fracas, quase inexistentes”.
Crítica feroz às contas da ONU
Alheia a jogos de bastidores e às poucas possibilidades que poderá ter, Arora diz que espera que a sua candidatura seja “um despertar para toda gente”, de forma a mudar o actual cenário em que a ONU é quase “irrelevante”, conforme declarações ao Público.
A auditora indo-canadiana refere que a ONU foi criada com “muito boas intenções de tornar o mundo um lugar melhor, de acabar com o sofrimento humano o mais depressa possível, de haver paz e segurança, de se respeitarem os direitos humanos e o Estado de direito e de trazer desenvolvimento e progressos”.
Contudo, a ONU “não cumpriu a promessa que fez ao mundo há 75 anos”, defende, realçando que a organização precisa de deixar de ser “espectadora das crises” para se tornar “líder” da mudança.
E o primeiro passo para isso seria tratar da distribuição desigual de vacinas pelo mundo, refere ao Público, em alusão à pandemia de covid-19.
“Acho que não podemos resolver problemas do século XXI com o pensamento do século XX”, aponta ainda no jornal.
Arora também retira da cartola as funções de auditora financeira para criticar a forma como as verbas da ONU são gastas.
“Eu não entendo como é que por cada dólar que recebemos, apenas 30% vai para as causas. A ONU continua a dizer que não consegue cumprir os seus objectivos, porque não tem financiamento — eu discordo. Eles têm financiamento, só não o usam apropriadamente”, constata.
Além dos refugiados, os pilares da sua candidatura são a tecnologia, a educação, a paz e segurança, e as crises humanitárias.
https://zap.aeiou.pt/millenial-contra-guterres-onu-391864
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